A surfista Michelle des Bouillons está de partida: trocou a Praia da Macumba, no Rio, por uma temporada em Hossegor, na França. Antes de pegar o avião, ela se despediu com um ensaio
Ela foi feita por um shaper – dos melhores. E modelada por infância e adolescência à beira-mar, na cara da praia da macumba, no Rio de Janeiro, numa família em que todo mundo surfa – pai, mãe, irmão e irmã mais velha. Pegou a primeira onda aos 7 anos, na Prainha, e não sossegou enquanto não subiu na funboard de sua mãe para surfar. Aos 10 anos, Michelle des Bouillons já desafiava as ondas com a própria prancha. "Eu sempre quis ter as minhas coisas. Individuais", explica hoje, aos 26, com voz de menina e forte sotaque carioca, a filha caçula de Jean Noel. Nos anos 70, o francês radicado no Rio fez parte da geração dourada do Píer de Ipanema, junto com Bocão, Maraca, Otávio Pacheco e outros surfistas legendários. Sua figura aloirada de gringo estampou a capa da Brasil Surf, primeira revista nacional dedicada ao esporte, no fim de 1976. Nos anos 80, a oficina que montou em seu quintal, no Recreio dos Bandeirantes, era referência na fabricação de pranchas.
Michelle cresceu conferindo esse movimento, em uma casa totalmente “do surf”. Da alimentação, muito mais saudável do que aquilo que se entende por comida caseira Brasil afora, ao fuso horário, de quem madruga para conferir o mar, passando por hábitos como meditação e ioga, especialidade da mãe, Márcia des Bouillons, professora há dez anos. “Sou muito grata ao meu pai por ter proporcionado esse estilo de vida para a nossa família.”
Aos 13 anos, começou a competir. Com 18, já era tricampeã carioca amadora, mas o fim do circuito nacional de surf travou sua profissionalização. “ Sem o Supersurf [nome do campeonato brasileiro], só restou a opção de disputar o circuito mundial. Mas eu não tinha como bancar”, lembra.
“Sou muito grata ao meu pai por ter proporcionado esse estilo de vida para a nossa família”
Michelle des Bouillons
A magrinha que não tinha medo de onda grande foi encarar a vida longe da água salgada. Trabalhando como vendedora em loja da grife Farm, ajudou a pagar a faculdade e se formou em produção audiovisual. Chegou a ter experiências como assistente de produção. No meio do caminho, porém, acabou na frente das câmeras, em programas como Noronha por elas, Costa Rica por elas (ambos do canal Off) e Nas ondas de Noronha (TV Globo), com linguagem próxima dos reality shows.
Mais do que apresentadora, ela conquistou espaço sendo Michelle, 100% surfista. “O que eu faço é ser autêntica no vídeo: o que eu falo é o que eu penso”, explica, antes de cunhar uma frase lapidar: “O surf é o que é, não tem como inventar...”.
A beleza, claro, ajudou. Paralelamente ao trabalho na TV foi chamada para campanhas de marcas de moda praia e esportiva, além de comerciais para Google+ e Nike. O que valia mais, porém, era que aquele rostinho e aquele corpinho bonitos pertenciam a uma atleta de comprovada competência em cima de uma prancha.
Bem à vontade
A questão de exploração do corpo jamais se apresentou para Michelle. “O que o diretor quer de mim e das outras garotas nos programas do Off é performance. Dentro d'água e fora também: eles querem é ver a gente à vontade. Por esse aspecto, uma patricinha não tem chance.”
Ficar de biquíni o tempo todo é natural para uma surfista – e parte do fascínio para o público, seja ou não ligado ao esporte, vem dessa naturalidade. “Claro que botar uma garota de fio dental pegando onda não teria nada a ver. mas, se eu quero surfar de biquíni, vou lá. Aparecer pagando cofrinho nunca é legal, já mandei tirar uma onda em que isso aconteceu, mas não me preocupo se vão ficar filmando de um certo ângulo ou de um jeito tal...”
Da mesma forma, mesmo com uma alimentação bem regrada – passou até um tempo sem carne –, Michelle não resiste à batata frita. Manter o peso nunca foi problema, pela genética e pela hiperatividade: além do surf, ela brinca com wakeboard, gosta de jogar futevôlei e dá suas raquetadas no tênis. Mas nem só de esporte vive uma gata de praia. “Sou muito vaidosa. Gosto de me vestir bem e sempre cuidei de pele, de unha... O cabelo eu demorei um pouco [risos]. Só comecei a dar atenção mais tarde.”
Os seios, pequenos, hoje são motivo de orgulho. “Sou bem segura. Já recebi grandes elogios ao meu peito.” Nem sempre foi assim, porém. “Quando eu era menor, quis ter peitão. Como minha mãe e minha irmã têm, eu achava que o meu iria se desenvolver também. Era só uma questão de tempo, eu tinha certeza... Mas hoje amo, acho lindos os meus seios. Jamais botaria silicone.”
Este ensaio para a Trip foi uma despedida: Michelle trocou o Rio por Hossegor, norte da França, um dos principais centros do surf no Velho Continente, para disputar o circuito europeu. No ano passado, sentiu uma pressão do tempo e se mexeu. “Eu sempre quis morar fora e expandir meus horizontes. Pensei em ir pra Califórnia, mas, como tenho cidadania francesa, foi uma opção natural.”
Deixou para trás o conforto da família, os amigos e um namorado. “Foi bem difícil. Ele me apoiou, mas a gente precisou terminar mesmo. Para que eu pudesse viver de fato, né? Ter a experiência...”
A filha de Jean Noel fez um intensivo do idioma e está se jogando com o mesmo espírito que a levou a traçar ondas como as de Sunset Beach e Rocky Point, no Havaí. Para quem já está com saudade, ficam as imagens de Michelle capturadas nas Ilhas Tijucas, recanto paradisíaco a pouco menos de 2 quilômetros das areias da Barra. De peito aberto, como é usual para musas e não musas das praias do país que agora têm o privilégio de receber nossa Trip Girl.
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Créditos
Imagem principal: Breno Moreira