por Felipe Maia
Trip #247

O Ethereum, plataforma que permite criar contratos reais em uma rede virtual de computadores, seja selar um casamento, estabelecer uma sociedade ou até fundar seu próprio país

No começo de 2015, a negociação de um imóvel na cidade de Uberaba, em Minas Gerais, foi parar na Justiça por ter se desenrolado em trocas de mensagens via WhatsApp. A disputa nem existiria se a venda fosse feita por algum aplicativo do Ethereum, plataforma que permite criar contratos reais em uma rede virtual de computadores, seja selar um casamento, estabelecer uma sociedade ou até fundar seu próprio país. Soa utópico? "Se você está querendo falar de utopia, você veio ao lugar certo", afirma Alexandre van de Sande, único brasileiro no projeto.

No Ethereum, cada contrato funciona como um software que executa aquilo para que foi programado. As cláusulas dão lugar a linhas de código. E, em vez de cartórios, corporações ou governos, a plataforma é o mediador. A rede garante o desempenho do sistema e evita ataques, adulterações ou censura. "A gente está descentralizando a ideia inicial da internet", diz Alexandre. Aplicando teoria à prática, ele trabalha no Rio de Janeiro em contato com colegas na Alemanha, Holanda e Suíça, base da fundação Ethereum.

A primeira versão da plataforma foi publicada na última semana de agosto somente para desenvolvedores. Alguns projetos têm ganhado forma, como o Maker, um sistema de moedas digitais, o Slockit, para aluguel de propriedades, e o Mist, um navegador descentralizado — projeto de Alexandre, que largou seu emprego na startup que ele mesmo havia criado para trabalhar com o Ethereum em outubro de 2014.

Para Bruno Balduccini, sócio do escritório Pinheiro Neto, o Ethereum é uma iniciativa válida e, com registros escritos, mais forte que contratos verbais. "Mas tem uma questão de compreensão mundial: se essa tecnologia será aceita como segura", ele afirma. Por isso, as transações na plataforma estão sujeitas à regulação local e discussões técnicas.

Alexandre concorda com críticas de que não é possível terceirizar tudo aos códigos nos quais trabalha dia e noite. "Eu não acredito que em dez anos a gente vá substituir o governo por robôs", diz. "Mas por que uma cidade pequena não poderia experimentar pagar os seus professores usando a plataforma?" Para ele e seus colegas, o Ethereum é uma resposta de matemática exata às incertezas de gestões que determinam nossa vida pública. Na sua cabeça de desenvolvedor, a plataforma é uma atualização da sociedade. "O Ethereum não é uma alternativa, mas, sim, um upgrade à democracia."

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