Estaremos juntos

por Luiz Alberto Mendes

Só podemos contar conosco, dentro de nós mesmos. Somos donos de nossas incoerências

No fundo, só podemos contar conosco, dentro de nós mesmos. Por mais próximos que sejam os outros, estamos sós. Sozinhos para decidir quais caminhos seguir. Pensamos individualmente, vemos tudo através de nossa experiência pessoal e, em última instância, somos nós que temos que suportar nossas conseqüências.

Somos donos de todas nossas incoerências. Um turbilhão, uma energia vibrante que não cessa e, no entanto, vivemos à míngua. Somos bárbaros e primitivos em nossas gestões sociais. É só observar o Senado com seu presidente atual e a bolsa de valores, para se ter uma idéia. Vivemos concentrados no dinheiro qual fosse o último degrau de uma escada rolante. Nele a nossa única noção de sobrevivência.

Fomos cercando de tabus tudo aquilo que não entendíamos. Hoje estamos sós até no tesão e no prazer, onde existe a possibilidade da partilha máxima do ser. Estamos perdendo a plenitude que há na acolhida, na atitude indivisível que o espírito e o corpo somam.

Na união entre dois seres, há uma linguagem de gravidade e arte, como na poesia e na música. O corpo todo unido ao que se espiritualiza, numa dança ao ritmo da vibração universal. E mesmo ali, tentamos o vácuo. Saltamos de nossa própria sombra, nos dividimos para assisti-lo do lado de fora, buscando prazer maior que aquele próprio. Então já não é mais orgasmo, é narciso e se perde num gemido tudo o que se construiu em milênios de cultura.

Somos prepotentes e em breve sofreremos as conseqüências disso. Todo dano que causamos ao planeta está para ruir sobre nossas cabeças. Esse sistema no qual estamos tão privilegiadamente inseridos nos tolera. Só que, dia menos dia, tomará atitudes radicais para resolver o caos e o desequilíbrio que promovemos. Então, nada será exagerado, inclusive nossa extinção como espécimes.

Acho que nos enganamos inteiramente. Criamos uma vida que nada tem a ver com aquilo que é nossa vida mesmo. Sofremos e sofreremos barbaramente por conta disso. Pagamos para viver com nosso trabalho. A natureza já não é mais nossa mãe. Não cuida mais de nós como faz com as plantas, os animais e toda vida ao redor. Estamos cada vez mais submetidos à organização social. Somos produtores e consumidores. Escravos e reféns, mais nada.

Haverá noites insones e dias febris, apesar de todos esses dias semifelizes. Os acontecimentos se sucederão, e se para quase tudo estamos sozinhos, com certeza quando surgirem as conseqüências, estaremos juntos. Sofremos melhor assim.

 

Luiz Mendes

18/08/2009.

 

Obs. Hoje é 21/08, de manhã cedo, maior frio e garoa. Ontem estive compondo mesa de debate sobre egressos de prisão em um dos auditórios da PUC, com Maria Lúcia Casalli, superintendente da FUNAP, e Andréia, egressa como eu, professora dentro da prisão e artesã e mais um monte de coisas que fiquei curioso por saber. Não fui muito bem. Foi difícil e espinhoso; tive que me calar várias vezes para não queimar o filme. Mas assim mesmo dei os números exatos e não deixei de defender meus companheiros. Não consegui o controle necessário para falar pacientemente e então dar mais coerência e lucidez à minha fala. Preciso corrigir isso.  

 

 

 

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