Poucos dias depois de surfar uma onda de 15 pés, em dezembro de 2015, conversamos com o surfista cego Derek Rabelo nas areias do North Shore
Você já conhecia o Tom Carroll?
Derek. Eu e o Tom Carroll somos ami-gos. Ele é meu vizinho na Austrália e sempre passa na minha casa para surfarmos juntos.
De onde veio a ideia de surfar Waimea? Eu já sentia essa vontade, mas não tinha tido coragem de entrar sozinho. Comentei com o Tom e ele disse que queria me testar antes, para ver se não era uma ideia perigosa demais. Um dia, durante essa temporada aqui no Havaí, ele me ligou no final da tarde e juntamos uma turma para pegar onda juntos. Fomos para Sunset e o mar não estava pequeno. Consegui dropar, a galera toda na água gritou e o Tom disse para o fotógrafo Bruno Lemos, que estava conosco, que depois daquela sessão achava que eu estava pronto. Àquela altura eu não queria sair da água remando nem a pau. O Bocão estava junto e gritava para irmos embora porque o mar estava ficando perigoso. Não havia mais sol e ninguém mais conseguia enxergar a série chegando. Foi aí que o Tom Carroll falou: “Agora todo mundo está igual ao Derek. Pra ele o hit está apenas começando”. Aí marcamos uma data.
Como foi dormir sabendo que ia surfar Waimea no dia seguinte? Não foi [risos]. Não preguei os olhos a noite toda. Já me acho um cara ansioso normalmente. Naquela noite, não conseguia pensar em outra coisa.
Que tipo de dicas você recebeu do Tom e dos outros amigos surfistas? Ninguém me deu muita dica nesse dia. A única coisa que me disseram era que eu deveria usar uma prancha grande e remar como um condenado, e foi o que eu fiz. Nasci cego e me oriento basicamente pela audição. Aprendi a surfar aos 12 anos e hoje em dia eu sou um cara que precisa surfar todos os dias. Se eu fico um dia sem cair na água já começo a ficar estressado, mal-humorado, minha vida fica pior. Por isso decidi morar na Austrália, e quando as ondas ficam ruins em Sidney eu posso viajar para a Indonésia ou para o Havaí para pegar onda. Não tinha muita dica para ser dada ali. Meu problema em Waimea era o shorebreak, mas com o Tom Carroll ao meu lado sabia que podia ficar tranquilo.
E como foi quando você entrou? Na primeira onda o Tom Carroll puxou o bico e eu vaquei. Saí despencando lá de cima, de uns 12 pés. Era tão alto que minha cabeça ficou doendo por dois dias. Achei que a prancha estava muito pequena e troquei com a Silvia Nabuco. Normalmente uso uma 5’4 e nunca havia surfado com uma prancha tão grande. Isso sem falar no colete. Acho que a pior sensação que já tive na vida foi vestir aquele colete e saber que a minha vida dependeria dele. Ainda mais porque minutos antes de entrar no mar o surfista Kona Oliveira estava me ensinando a usá-lo e percebeu que o cilindro de ar estava vazio [risos]!
O que resume o que você sentiu em Waimea? A maior adrenalina da minha vida. Acabei de me recuperar de uma lesão no pé, por isso não estou 100%, mas saio dessa experiência me sentindo abençoado por Deus mais uma vez. Não achei tão difícil, e agora que sei como é já estou planejando voltar ano que vem. Quero surfar Waimea grandão.
Créditos
Bruno Lemos