Sacola de pano, pote de vidro, talheres próprios e escova de dentes feita de bambu. Esses são os itens que Cristal Muniz carrega consigo. O motivo: a busca por não produzir lixo
Cristal é designer, mora em Florianópolis e no final de 2014 decidiu que buscaria eliminar o lixo de seus dias. Desde então, vive a troca gradual de objetos que geram resíduos por produtos de origem orgânica, reutilizáveis e preferencialmente sem embalagens. Descartáveis? Nem pensar. O cotidiano vem sendo relatado no blog Um ano sem lixo.
A inspiração de Cristal veio da novaiorquina Lauren Singer, que parou de gerar lixo há dois anos e compartilha sua experiência no blog Trash is for tossers. Algo como: lixo é para principiantes (traduzindo de maneira menos pejorativa). Uma página para quem busca um estilo de vida que não contribua para a perpetuação de lixões sem tratamento de resíduos, realidade em cerca de 3 mil cidades brasileiras.
De acordo com Gabriela Otero, coordenadora técnica da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a geração total de resíduos sólidos urbanos no Brasil em 2013 foi de mais de 76 milhões de toneladas. Desse total, estima-se que pouco mais de 90% tenha sido efetivamente coletado. Ou seja, cerca de 20 mil toneladas tiveram destino desconhecido. Com as dicas que aprendeu com Lauren Singer, Cristal trouxe para dentro de casa alternativas naturais até para produtos de limpeza e cosméticos.
O bicarbonato de sódio é um aliado versátil. Combinado com óleo de coco é opção para escovar os dentes. Já misturado com vinagre pode até desentupir ralos. Soluções altamente biodegradáveis.
Apesar das mudanças, Cristal diz não encontrar dificuldades com os novos hábitos:
"Não faço nenhum sacrifício. A única coisa que parei realmente de fazer é pedir delivery, porque vem muito lixo e coisas não recicláveis no único lugar que eu pedia."
A busca por hábitos que não sobrecarreguem o meio ambiente na hora de dar cabo ao lixo é algo novo. É o caso do restaurante Silo, em Brighton, na Inglaterra: 95% do resíduo gerado por lá é reutilizado, reciclado ou transformado em algo a ser usado no próprio lugar. Da borra do café, que vai para o cultivo de cogumelos, aos pratos em que os clientes comem, feitos da resina de sacolas plásticas usadas.
Um restaurante para receber clientes como Cristal, que quando vai a um fast-food (sempre repletos de descartáveis) se serve com seus próprios apetrechos — dispensa copos, guardanapos e tudo o que vai para a lixeira, e embala para lavar em casa o que sujar. Assim, o cesto de lixo vai aos poucos se tornando um elemento estranho na paisagem.
Vai lá: umanosemlixo e trashisfortossers.