Músico e surfista mostra o que há além das good vibes da praia
Donavon Frankenreiter está esparramado no sofá do camarim, num domingo de janeiro em São Paulo. Exausto, ele acaba de fazer uma turnê pela América do Sul que visitou cinco países, incluindo oito cidades brasileiras. “Foi do avião para o carro, do carro para o hotel e depois para o show. Não deu nem tempo de surfar”, conta o músico e surfista norte-americano, que em visitas anteriores já pegou onda na Bahia e em Santa Catarina.
Na sua pele tostada de sol, destacam-se os olhos verdes e um poderoso bigode loiro, e sua personalidade exala uma vibe praiana. Experimente ouvir qualquer música dele de olhos fechados: é provável que você sinta areia nos pés, o cheiro do mar e uma calma fora do comum. É nesse ambiente que Donavon, de 44 anos, passou a maior parte de sua vida.
As ondas vieram primeiro. Nascido no estado da Califórnia, aos 10 anos subiu na prancha pela primeira vez e logo se tornou profissional. Não são raras suas aparições em vídeos de surf, exibindo seu repertório de manobras. Mais tarde, se mudaria pro Havaí.
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Já a música começou aos 16. Começou tocando guitarra na banda de rock Sunchild. Depois, seguiu carreira solo e em 2004 lançou seu primeiro disco, homônimo, pelo selo Brushfire Records, do amigo de longa data Jack Johnson. Os sucessos Free e It don’t matter o colocaram como um dos ícones da surf music atual. Donavon canta quase do mesmo jeito que fala. É uma voz um pouco rouca, mas suave, como se estivesse pedindo algo com delicadeza. Pergunto se, como diz sua música mais famosa, ele se considera uma pessoa livre. “Com certeza, hoje eu vivo como um cigano na estrada”, diz.
Do coração
Seu último trabalho é um pouco diferente do que estava acostumado. O álbum The heart, lançado em 2015 pelo selo do próprio Donavon, tem uma pegada mais intimista, ou, como ele diz, “do coração”. Para gravá-lo, o músico fez uma transmissão ao vivo pela internet de todo o processo. O disco surgiu em um momento especialmente triste na vida do cantor. Seu pai, que sofria de leucemia, morreu duas semanas após o fim das gravações. Donavon dedicou a última faixa do disco ao pai, California lights.
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A família é um tema recorrente na vida do músico. Costuma lembrar nas redes sociais dos filhos pequenos Hendrix e Ozzy e da esposa, Petra. “Sinto muita falta deles, se estivessem comigo eu poderia viajar para sempre”, diz. Mesmo na estrada, Donavon está com a cabeça em seu próximo trabalho: a banda acústica Jamtown, formada em parceria com os músicos G. Love e Cisco Adler, deve lançar um disco esse ano, ainda sem data prevista.
Dois dias após seu último show no Brasil, enquanto volta para casa, ele atualiza as redes sociais com dois vídeos da janela do avião. Na legenda, diz One more flight and I’m home, mais um voo e chego em casa. Parece que, depois de muito trabalho, Donavon vai dormir bem aquela noite.
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