EXCITAÇÃO
Há um sentimento cuja expressão sorri como flores soltas na natureza. É quase palpável como fruto macio, mas que flui em flocos suaves de algodão. Obcecado, nos absorve inteiramente, como o vôo concentrado de pássaros. Sob sua ação e influência, somos quais esses ventos alongados que se abatem sobre as praias, penteando cabelos e voando guarda-sóis.
As palavras soam frágeis diante sua pujança e inquietude. Somos dominados em sua onda sem conseguir conte-la, tal qual o habitante do agreste quando vê a chuva cair, sabendo que continuará com sede. Não há como controlar, posto que ela esta a favor da vida e não de nós. Só é possível reprimir. Mas então tal potência abrirá frentes em outros açudes onde, pôr certo haverá que inundar e extrapolar. O mais coerente é vivê-la intensamente, dentro dos parâmetros do amor e do respeito pôr si mesmo.
Não esta no tempo, no espaço, nas coisas, ou apenas nas pessoas. Esta na vida. Em tudo o que vive e respira. É um princípio básico da formação de todas as vidas, da pedra ao homem, que a tudo precede. Esta no feio ao se tornar belo; na beleza que nasce antes dos olhos e estará sempre, mesmo que todos os corações sejam dilacerados.
Esta no segredo universal de que é preciso dois para fazer um; e que de um a um nos fazemos muitos. Nos cristais, corais e âmbares. Na chuva transpassada pelos néons ou no mar que abraça a praia.
Esta dentro do amor, esse sentimento maior, embora se misture e nos confunda. Esta nas expressões artísticas das cores, dos mármores e das tintas gráficas. Manifesta-se numa sensação de se estar caindo sem jamais chegar ao chão.
Palidamente, tentamos expressar o que pensamos conhecer através diversos nomes. Tesão, excitação, desejo. Tudo o que conseguimos saber, é que nunca estamos satisfeitos quanto à forma e, sobretudo, acerca do conteúdo. Entretanto, sabemos em nossos corações, que tudo pode ser muito melhor do que conseguimos. Melhor ainda, que depende exclusivamente de nós ampliarmos e expandirmos nosso grau de satisfação.
Tudo pode ser tão complexo que as centenas de milhares de livros, compêndios e textos publicados sobre o tema, apenas levantaram a cortina de sua magnitude. Mas, assim como a vergonha é vermelha e a noite escura, a vida é mais clara quanto mais simples se a encaremos.
Quando o sol ao longe se esconde e a tarde enche de silêncio as horas, é tempo em que a carne desperta e grita sua insaciedade. Então todos os questionamentos tornam-se vãos, como vãs são as palavras diante da realidade.
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Luiz Mendes
03/06/2013.