Antologia de contos policiais brasileiros reúne o melhor do gênero
Comecei a folhear o tijolo Crime Feito em Casa [Record, 462 págs., R$ 40] deitado na cama. O livro organizado por Flávio Moreira da Costa, antologia das boas dos melhores contos policiais brasileiros [de Machado de Assis a Marçal Aquino, de João do Rio a Maria Alice Barroso], me levou de volta ao 5º andar da Barão de Limeira, 425, onde gastei quatro anos da minha vida.
Brigas com a chefatura da PM, ameaça de bandido, análises criteriosas dos buracos das balas nas imagens do Zé Maria da Silva, fotógrafo da madruga do Notícias Populares. Presunto bom era o de chacina, dizia o repórter Hélio Silva. E a do Natal de 99 foi uma das mais impactantes da história da polícia de SP.
Um time de futebol, 11 no mesmo barraco, todos com tiros no rosto, código do tráfico. Os detalhes, como no conto "O Enfermeiro", de Machado de Assis, que acabo de ler, escondiam muito.
Acompanhei in loco esse B.O. no Parque Cocaia, zona sul de SP. A mãe chorava a perda de dois filhos, mas educadamente oferecia um cafezinho para o NP. Aprendi também, nessa época, que no inverno matam menos. Na perifa a friaca é maior que nos Jardins. Deve ser a Billings que traz uma brisa gelada. Agora, afastado do jornalismo policial, leio desconfiado que o crime diminuiu em SP. Aprendi que o governo maquia índices da matança e a grande imprensa compra gato por lebre. Na conta do NP era sempre uma dúzia de chacinas a mais que na conta da Folha.
Jornal sensacionalista, falavam. Tsc, tsc. Agora, a violência vai aumentar com os escândalos no governo. Política suja mata mais que bandido.
[Fernando Costa Netto, o Dandão, é jornalista, foi diretor de redação do jornal Notícias Populares e da revista Trip]
