por Luiz Alberto Mendes

PENSANDO.

 

Antes, uma conversa do cotidiano. Amanhã, como encarregado das visitas do Conselho da Cidadania de São Paulo na Penitenciária Feminina da Capital, estaria me encontrando com mais três membros do referido conselho para uma visita àquela Penitenciária. Mas isso me definiu sobre uma difícil decisão. Estou me desligando do Conselho da Cidadania. Muita coisa pesou nessa decisão, mas o principal esta relacionado à incompatibilidade com meu trabalho no campo da Educação dentro das prisões.

Se, como Conselheiro coordenando uma visita a uma penitenciária, percebesse qualquer manipulação, qualquer tipo de cerceamento, qualquer maquiagem, não pudesse falar com as presas do fundo da prisão, ou algo que obstasse a visita, que pela lei é até de inspeção, eu iria pular alto. Claro, feriria interesses.

Depois, semana seguinte, chego à mesma prisão com minha tralha de Oficina (livros, sufite, canetas, apostilas, filme em DVD, etc.) e vou ser apresentado a essa mesma gente aos quais prejudiquei de alguma forma dias atrás. Como serei recebido? Posso nem ser recebido. Já me foi negado fazer Oficina em uma penitenciária porque o diretor já fora diretor de prisão em que estive preso e me conhece. Claro, quando preso eu brigava por direitos humanos para mim e meus companheiros. E ele, né.

Faço melhor como Oficineiro do que como Conselheiro, tenho certeza disso. Depois, um conselho que precisa agendar as visitas de inspeção com as prisões onde irá inspecionar, não me parece nada efetivo.

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Ah! Dia 20, quinta agora, estarei compondo uma mesa de debates sobre o problema dos egressos das prisões no Estado que, diga-se de passagem, é cruel, na Pontifícia Universidade Católica, PUC, às 14:00 horas – sala 333 – 3º andar. Quem estiver a fim.

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Então vamos ao que estávamos pensando:

 

O  QUE  ACHAMOS.

 

A ciência cognitiva moderna coaduna com antigos ensinamentos budistas de como ver a idéia que temos de nós como sujeitos conscientes, unitários, sólidos e centralizados e que nossa vida é produto disso. Ambas observam o senso que temos de nós como altamente complexo, fragmentário e ilusório.

Nós achamos que nossas ações expressam as decisões que tomamos. Só que, na maior parte de nossa vida, os cientistas já provaram, a vontade pouco ou quase nada influi. Não podemos acordar, dormir, lembrar ou esquecer sonhos, evocar ou banir pensamentos como fosse decisão nossa. Nós simplesmente agimos. Na verdade, esta provado que as respostas e decisões que funcionam surgem de estrutura infinitamente complexa de hábitos e habilidades pessoais de cada um. Grande parte de nossa vida ocorre na ausência da consciência. Resistimos em aceitar tais fatos porque parece que nos privar do controle de nossa existência.

Mas isso significa o que, exatamente? Que passamos nossa vida a lidar com o que somos capazes de acessar do que o mundo, a vida, nos trás. Somos quase que inteiramente reagentes. Temos mais habilidades que atitudes inteligentes.

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Diria Clarice Lispector em seu texto:

 

“Ela é tão livre que um dia será presa. Presa porque? Por excesso de liberdade. Mas essa liberdade é inocente? É. Até mesmo ingênua. Então porque a prisão? Porque liberdade ofende.”

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ÀS  VEZES

 

A sensação é de que a vida flui espessa

Vagarosamente,

Como um rio de lavas vermelhas

Descendo furacão abaixo.

Mas, outras vezes, sou acometido por doçura tão grande

Que se torna insuportável

Pensar no que há de pior:

A incompreensão de mim mesmo.

Que me fulmina.

 

Luiz Mendes

17/08/2009.

 

 

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