Controle de qualidade

por Caio Ferretti
Trip #214

Investigamos qual pose, luz e ângulo privilegiam a anatomia masculina em fotos publicitárias

Acompanhamos uma sessão de fotos de cuecas para descobrir qual pose, luz e ângulo privilegiam a anatomia masculina

Ele não pode ser muito pequeno. Também não deve ser enorme, como se a qualquer momento fosse saltar da cueca. O ideal é que seja mediano, sem exageros nem pra um lado nem pro outro, e assim não chame muito a atenção. Afinal, ele é o coadjuvante da história. “Ele”, no caso, é o pênis. E suas características são fator importante nas fotos publicitárias de cuecas. Tanto que, antes de qualquer clique, são feitos castings minuciosos, com exigências difíceis de imaginar, para escolher em qual corpo – e pênis – as cuecas cairão melhor.

Tamanho, nesse caso, importa sim. “Não tem que ser nem superior nem inferior”, mensura Caroline Simões, do marketing da Mash. “O que deve aparecer é a cueca, não o recheio. Se for algo muito discrepante, vai tirar o foco do produto”, completa. Os bem-dotados podem inclusive ser considerados um problema. “Aí temos que tratar a foto depois, isso já aconteceu algumas vezes. Quando o modelo tem em excesso, damos uma tirada pra ficar uma coisa mais harmoniosa, diminuímos no Photoshop”, conta Fabiana de Paula, da mesma empresa, com a experiência de quem acompanha castings de cuecas há seis anos.

Tanto tempo analisando modelos seminus para as campanhas ensinou a Fabiana que existe outro detalhe importante além do tamanho: o posicionamento. O pênis não pode ficar apontando pra qualquer lado, perdido dentro da cueca. “Peço pra colocá-lo reto, assim aparece menos.” Mas reto pra baixo? “Não! Pra cima. Colocamos bem na vertical, pra não ficar aquela coisa de lado. Quer dizer, ‘colocamos’ não! Os modelos colocam, nós só orientamos”, corrige-se.

Para evitar a preocupação com tais detalhes, há quem prefira colocar um bojo – ou um tapa-sexo – por cima do membro. Não para dar volume extra, mas simplesmente para garantir que a cueca não será ofuscada por nenhum gigante apontado para o lado errado. “Como algumas de nossas cuecas são de tecido um pouco transparente, normalmente usamos um tapa-sexo no modelo quando vamos fotografar”, revela Rosana Lourenço, gerente de marketing da Hanesbrands, empresa que faz a Zorba. “Não é um enchimento, é só uma proteção pra evitar a exposição do órgão sexual, algo que não queremos.” Por isso, nos castings que faz há dez anos para escolher os modelos que representarão a marca, Rosana não se preocupa muito com o membro em si. “Conta mais o corpo”, diz. Verdade seja dita, apesar das avaliações quanto ao “caimento” do pênis na cueca, é o corpo que mais pesa na escolha de um modelo que fará campanhas de roupa íntima. “Tem que ter quadril, o bumbum precisa ser redondinho e a perna não pode ser muito fina com tronco largo, pra não ficar um formato ‘árvore’”, explica Caroline. “E tem que vestir bem um tamanho M.”

Enchimento? Nunca!
Munidos de tais informações, fomos acompanhar um casting que selecionaria dois modelos para um ensaio de cuecas. Numa pequena sala, dez homens se apertam à espera do início da seleção. Já trajavam apenas o pequeno pedaço de pano na cintura. Um deles diz: “Até prefiro fazer trabalhos de cueca. A gente se mata de fazer abdominal e na hora da foto te colocam uma camiseta?!”. Um a um, eles são chamados a outra sala, onde são fotografados seminus para ser avaliados com calma depois.

Enquanto isso, um dos modelos, gaúcho, conta-me sobre uma exigência até então desconhecida. “Pedem pra vir de cueca branca, porque dá pra ver melhor o volume. E, às vezes, pedem até pra dar uma bombada no birigui.” Por “birigui” entenda aquilo mesmo. Em fotos um pouco mais sensuais, pede-se que o modelo fique semiereto. Pergunto se ele já colocou enchimento em algum casting ou foto. “Enchimento? Nunca! Não tá bom o ‘negócio’ do gaúcho?” Bem, não cabe a mim responder.

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