Com apenas trocados no bolso, Thomas Bisinger retrata suas memórias do Continente Negro
Quando surgiu a oportunidade de ir pra África do Sul num veleiro, com apenas R$600 no bolso, Thomas Paul Bisinger, 30, fotógrafo, não hesitou. Começava então a história de 14 meses que deu origem a seu primeiro livro, Minhas Memórias de África. Uma viagem pelo caminho interior”. Após uma difícil travessia de barco que durou 27 dias, com direito a enjôos e cheiro de mofo marinho na cabine, Thomas chegava ao início do que seria uma das experiências mais enriquecedores de sua vida.
Trabalhando como guia turístico em expedições que saíam da cidade do Cabo, ganhando pouco e gastando menos ainda, conheceu o que diz ser o ambiente mais impressionante de toda a sua vida: Deadvlei, na Namíbia. “A região é tao quente e isolada que não há nenhuma forma de vida que destrua a madeira das árvores mortas. Assim, elas ficam intactas por milhares de anos. A sensação é como se o tempo tivesse parado. Calma. Imobilidade. Morte. Mas não uma morte como costumamos vê-la, negativamente. É uma morte tranqüila, um silêncio profundo”.
Com uma enorme vontade de estar junto ao povo africano, o que o trabalho de guia não supria, foi então a Camphill, onde realizou trabalhos voluntários para uma comunidade antroposófica que cuida de pessoas com necessidades especiais: “Fui lá achando que ia ajudar e não demorou muito pra perceber que foi o contrário: por mais que eu tenha ajudado, sei que recebi muito mais do que dei”. Partiu depois para Botsuana, onde participou de uma ONG e conviveu junto aos bosquímanos. Lá, narra o processo intenso e profundo pelo qual passou, relatando a frustração sentida pelas dificuldades causadas pelas barreiras culturais.
Foi então que se deu, segundo Thomas, um dos momentos mais marcantes da viagem: o acampamento no deserto do Kalahari com os bosquímanos. Numa espécie de workshop, os mais velhos ensinavam aos mais novos sua cultura ancestral de coletores. “O acampamento é uma experiência incrível. É muito bom ver esse povo tão feliz e tão à vontade. Trabalham duro durante o dia, caminhando longas distâncias em diferentes grupos para coletar o máximo de moramas [castanhas da região] possível. () Ao pôr-do-sol a mesma história: todos descascando, separando, assando, cozinhando, cantando, comendo, dançando e dando muitas risadas.”
A miscigenação de culturas, fonte de motivação de Thomas e fio condutor do livro, fica clara no encontro com o povo de Botsuana. “A barreira invisível ainda está lá, mas eles me acolheram, compartilhando sua comida, sua cultura, sua alegria. Durante todo o fim de semana eu me senti como se estivesse num filme. Um filme do qual não faço parte. Mas estou lá, assistindo de dentro da tela”.
Depois de passar um mês em Moçambique, “curtindo cultura, comida e praias deliciosas”, sentiu finalmente o chamado de voltar pra casa. Com a passagem de avião paga pelo dono do barco que o levou, simbolizando o fim de um ciclo, Thomas finalmente encerrava a viagem – “com a certeza de um dia voltar, quando a Mãe África chamar de novo”. E se ele recomenda este tipo de viagem? “SIM!”, exclama. “Chamo isso de universidade da vida. Você vai lá, se joga, e confia! Esse é o segredo. Quando a gente faz isso, tudo flui. A gente tem medo do que não conhece. Mas, quando a gente transcende esse medo e se joga, aí os milagres acontecem”.
Minhas Memórias de África
Preço do livro: R$40,00