Compaixão e Tiririca
O sofrimento pode causar muitas reações. Algumas delas imprevisíveis. Quando jovem fiz sofrer e sofri bastante em consequência. Por conta disso creio, vivi boa parte dessas reações. Mas quem não fez sofrer? Até para a mãe da gente causamos sofrimento. Produzimos dor até sem querer. Na verdade vivemos a nos entrechocar, ferindo e sendo feridos, desbastando arestas. Só a educação pode nos salvar. Pessoas educadas (quase um mito) reagem com compreensão e respeito.
Além de sofrer e promover sofrimento presenciei muita gente sofrendo na prisão. A reação mais comum é a indiferença. Para fugir ou nos defender da dor, podemos nos insensibilizar. Criar uma carapaça protetora na ilusão de que assim estaremos defendidos. Com tal atitude creio, renunciamos à melhor parte de nossa vida. A relação com os outros pode se transformar em inferno. Mas, com certeza, só na relação com eles os momentos de felicidade se tornam possíveis. Depois, tudo passa a ser estudado e planejado. Dizemos adeus à espontaneidade e à naturalidade, elementos indispensáveis à alegria de viver. Tudo vira rotina.
Revolta creio, deva ser uma das reações mais recorrentes. A agressividade estúpida, cega, que tenta justificar, sem muito sucesso, a violência pela violência. A desumanização. É obvio que devemos de fato nos indignar contra as absurdidades que nos cercam. Algumas delas são até de nossa própria responsabilidade. Como por exemplo, a eleição do Tiririca com um milhão e trezentos mil votos (o mais votado Deputado Federal). O canal Euronews afirmou desse tamanho: “eleitores do mundo todo se queixam de ter palhaços como políticos, mas os brasileiros enviaram um palhaço de verdade ao Congresso.” Para a CBS americana, “o Brasil elegeu um palhaço não-metafórico.” Brasileiro morre de vergonha numa hora dessas. Já pensou estar lá e ter que explicar pros gringos o que aconteceu?
Vivo em perene revolução pessoal. Lutando para estar cada vez mais ajustado a meus ideais e idéias. Não me conformo e me revolto contra mim mesmo. Exijo mais, sempre mais. Não posso dar moleza para mim. Acostumo tão fácil a facilitações... E, como diria Milton Nascimento, “a luta é mesmo comigo.”
Entre as muitas reações possíveis, acho que deixei para o fim a que mais me emociona e empolga. Pelo sofrimento, através da própria dor, chegar à compreensão da dor e do sofrimento do outro. Ultrapassar o comum, ir além e atingir o inusitado: a compaixão. Sofrer pelo sofrimento do outro. As lágrimas lavam de nós as mesquinharias e fraquezas cotidianas. É sem dúvida, a mais comovente das emoções humanas. Atingi-la é imensa realização.
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Luiz Mendes
04/10/2010.