A escola precisa fazer sua lição de casa
As escolas matam a nossa criatividade? Para o educador britânico sir Ken Robinson , a resposta é sim. Há décadas ele busca entender as origens e as consequências do modelo básico da educação no mundo. Seu diagnóstico não é dos melhores... Governos, professores, pais e alunos vivem no meio de uma crise educacional. Refém de concepções antigas, ou simplesmente erradas, a escola simplesmente não consegue mais dar conta das necessidades de uma economia global nem dos complexos anseios dos novos alunos. O resultado: a castração de milhões de gênios criativos. E criatividade, mais do que diplomas, será o currículo de que as novas gerações vão precisar.
Seus livros (Out of Our Minds e The Element ) e palestras (que fazem sucesso no YouTube) se tornaram referências internacionais para quem busca uma forma realista e moderna de entender o que significa formar alunos no século 21. O texto a seguir foi baseado em uma palestra de Ken Robinson chamada “Mudando o paradigma da educação”, apresentada na Inglaterra, na Royal Society for the Arts, na qual ele oferece, mais do que soluções, maneiras originais para pensar como transformar a relação entre a sala de aula e o mundo fora dela.
Todo país no mundo, neste momento, está reformando a educação pública. Há duas razões para isso. A primeira delas é econômica. As pessoas estão tentando descobrir como nós educamos nossas crianças para assumir seu lugar na economia do século 21. Mas como fazer isso se não conseguimos antecipar como a economia vai estar no fim da semana que vem?
Crédito: Amanda Mussi e Pedro Inoue
A segunda razão é cultural: todo país está tentando entender como educar suas crianças para que elas tenham um sentido de identidade cultural, ao mesmo tempo em que fazem parte de uma comunidade global
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O problema é que a maioria está tentando chegar ao futuro repetindo as mesmas fórmulas do passado. No caminho, estão alienando milhões de crianças que não veem nenhum sentido em ir à escola.
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Antigamente, contavam a seguinte história: quem estuda de verdade e consegue um diploma universitário arranja um emprego. Nossos filhos não acreditam nisso. E eles estão certos. Claro que é melhor ter um diploma do que não ter, mas ele não é mais garantia de nada. Especialmente se o caminho para consegui-lo não leva em conta as coisas que você acha mais importantes sobre si mesmo.
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A raiz do problema é que o atual sistema de educação foi projetado, concebido e estruturado para outra época, dentro da cultura intelectual do iluminismo e das circunstâncias econômicas da Revolução Industrial
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Todo o sistema foi pensado pelos interesses e na própria imagem do industrialismo. As escolas ainda são organizadas como linhas de fábricas, com sinos, instalações independentes, matérias especializadas. Ainda educamos nossas crianças por lotes, nós as separamos por grupos de idade. É como se a coisa mais importante sobre elas fosse sua data de fabricação
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Para o iluminismo, a própria ideia de inteligência consistia de certo tipo de pensamento dedutivo e um conhecimento dos clássicos – o que viemos a chamar de habilidade acadêmica. No código genético da educação pública, está entranhada a ideia de que existem dois tipos de pessoas: acadêmicas e não acadêmicas, inteligentes e burras. A consequência disso é que muitas pessoas brilhantes acham que elas não o são, porque foram julgadas à luz dessa visão particular da mente
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Esse modelo gerou caos na vida de muitas pessoas. Como no caso do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). As crianças estão sendo medicadas de forma tão rotineira quanto antigamente retiravam amígdalas. E pelo mesmo motivo caprichoso: moda médica. A ideia de que existe uma epidemia de TDAH é tão equivocada quanto fictícia
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Nossas crianças estão vivendo no período mais intensamente estimulante da história do mundo. Elas estão sendo cercadas por informação e vêm tendo sua atenção requisitada por todo tipo de plataforma: computadores, iPhones, outdoors, centenas de canais de TV. E são penalizadas por não prestarem atenção. Em quê? Em coisas chatas, especialmente na escola, que não entende essa nova condição
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Se você está interessado em mudar o modelo de educação, não pode começar com essa mentalidade de linha de produção. Há crianças que são muito melhores que outras da mesma idade em certas matérias. Ou em certas horas do dia. Ou melhores em grupos menores do que em grupos maiores. Às vezes elas preferem ficar sozinhas. Por que não levar isso em conta?
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Houve um grande estudo recente sobre pensamento divergente, que é a habilidade de ver várias respostas possíveis para uma questão. Entre crianças de 3 e 5 anos, 98% foram consideradas gênios do pensamento divergente. Entre 5 e 8 anos, o número caiu para 32%. De 13 a 15 anos, 10%. Isso mostra duas coisas: um, nós todos temas essa capacidade; dois, em geral ela se deteriora. Entre outros motivos, porque as crianças passam dez anos na escola ouvindo que existe uma só resposta certa para cada pergunta
Crédito: Amanda Mussi e Pedro Inoue
Temos que pensar diferente sobre a capacidade humana. Em primeiro lugar, temos que superar esse velho conceito de acadêmico/não acadêmico, abstrato/teórico. E assumir que isso é um mito. Em segundo lugar, temos que reconhecer que a maior parte do bom aprendizado acontece em grupos, colaboração é o material do crescimento. Em terceiro lugar, precisamos transformar a cultura de nossas instituições, não apenas seus hábitos, como os habitats que elas ocupam
Crédito: Amanda Mussi e Pedro Inoue
Para mudar os paradigmas da educação temos que trocar a metáfora industrial por uma metáfora agrícola, ou orgânica. Tirar de cena conceitos como utilidade, linearidade, conformidade, padronização. E substituí-los por outros como vitalidade, criatividade, diversidade, individualização. Se criarmos as condições e os incentivos certos nas escolas, se valorizarmos os alunos, se respeitarmos a individualidade, a mudança vai acontecer
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Nãoé coincidência o fato de que a incidência de TDAH cresceu em paralelo com o aumento dos testes e dos currículos padronizados. Nós estamos anestesiando nossas crianças para que elas sobrevivam ao sistema educacional. Deveríamos fazer exatamente o contrário. Não deveríamos colocá-las para dormir, e sim despertá-las para o que têm dentro delas
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