Uma Reflexão Rápida Sobre o Homem Aprisionado
O homem tem sua natureza desviada de sua progressão normal e saudável ao momento em que é aprisionado.
Sua energia agora estará voltada para a preservação de sua pessoa física, emocional e mental. A noção de realidade do indivíduo voa para o fértil país das fantasias. Seu referencial é ontem, quando foi preso. Acontece que nada do que foi ontem será hoje. Uma das mais difíceis vivências efetuadas pelo ser humano que se perde no reduzido espaço onde o homem aprisionado faz seu tempo. O futuro, sem dúvida, sempre será diferente do hoje, alias, diga-se de passagem, haja presente para tantos futuros possíveis. Pois esse homem encarcerado (homem em tese, porque creio que tem a ver com a mulher presa também.) esta com a mente presente acumulada de ontens.
Do substrato de seus muitos ontens, junto com as informações de segunda ou terceira mão sobre o que esta acontecendo, este ser contido projeta um desvio do real. Isso é tudo o que ele tem da realidade.
A este homem fora do espaço e do tempo real, é inútil bombardear com princípio morais, regras de convivência social, ou ética. Nada altera o curso de sua situação estagnada. Tudo o que aprendeu até então, a educação que possa ter recebido, os valores que o moviam, encalha. Tudo é absorvido para manter um processo de afirmação constante, a ferro e fogo, no meio hostil em que foi forçosamente lançado.
A delicada rede de sentimentos que o permeia por inteiro e que dirige sua vontade, agora esta canalizada para a luta contra o medo paralisante, a preservação de seu ego e sua pessoa física. A lei da sobrevivência lhe é infiltrada até os ossos, no sangue, ao ponto de quase criar uma nova natureza, a prisional. Corre sério risco de se tornar um ser aprisionável.
O homem preso, com o tempo de luta na resistência, se estupidifica na alienação de sua condição de ser contido. O amor, o afeto, a fraternidade que lhe são congênitas, serão emoções proibidas, inúteis e até nocivas ao ambiente perverso e duro no qual permanece enterrado vivo.
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Luiz Mendes
Texto de uns 15 anos atrás
Revisado em 26/10/2009.