Dois Temas Curtos
Ingênuos ou Loucos?
Um homem que usa um uniforme ou faz opção de vida definitiva, é sempre ingênuo ou louco. Por quê? É só pensar. Ao vestir uniforme se esta para defender uma idéia. Patriotismo, por exemplo. Mas, puxa, a pátria é de quem, afinal de contas? Quem usará os homens uniformizados e para o que? A escondida história da Guerra do Contestado que tão poucos conhecem. Não havia um escritor do gabarito de um Euclides da Cunha por lá. Os homens uniformizados foram mobilizados para expulsar brasileiros nativos das terras onde foram nascidos e criados para que duas empresas britânicas fossem instaladas a mando do Governo Central. A própria Guerra de Canudos é mais uma história, como outras tantas em nosso país, de homens uniformizados dizimando o sertanejo nativo. Sempre a favor de bandidos grileiros rodeados de jagunços (com seus uniformes de couro) auto intitulados coronéis. Que patriotismo pode haver nisso?
As opções definitivas são absolutamente contraproducentes. A vida é fluência. O futuro se plasma a cada átimo de segundo. Amanhã consistiremos outros mesmo sendo nós mesmos. E mesmo dentro de nós mesmos, há tantos outros... Que o diga Fernando Pessoa. Nós acompanhamos porque somos parte da manifestação da vida. Somos fluência também. A única coisa definitiva de fato que conhecemos é que não há nada definitivo.
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Acerca de Escrever
Escrever é como estar atuando no gol em uma decisão final do Brasileirão. Além de ter sorte, é absolutamente necessário ter a chance. Só os ingênuos menosprezam o morrinho traidor das bolas rasteiras e o zagueiro que arranca lá do fundo para cabecear nas bolas altas. Fora isso, as bolas a meia altura já são meio gol. Por conta disso, não pode dar ouvidos à torcida. Ou seja: tão impossível e possível quanto.
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Há algo de belo e também de violento no ato de lapidar idéias para conseguir coerências. Uma das primeiras coisas é domesticar o animal arrogante que pensa tudo saber e que mora dentro de nós. Esse mesmo. Esse presunçoso, f.da p., metido e que vive a se sentir. Depois de domesticado, é preciso soltá-lo um pouco para que possamos ser atrevidos, audaciosos e, principalmente corajosos. É somente então que estamos preparados nos dedicar ao que o repórter Carlos Wagner chama de “o prazer supremo de escrever e ser lido.” Porque, não podemos esquecer: todo texto bem escrito corre o risco de se tornar em um livro. Ou até algo mais nobre: um documentário.
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Minha nova sócia em Oficinas de Leitura e Texto, a fonoaudióloga Lucila Pastorello, afirmou o seguinte em nosso projeto de oficinas a dois:
“Quem lê conhece mais sobre o mundo; quem escreve conhece mais sobre si mesmo.”
Para mim, absolutamente correto. Se pudesse acrescentar, eu diria que lendo se pode conhecer sobre si também. A partir da necessidade de escrever, pesquisamos, estudamos e conhecemos o mundo também. Claro que o processo é leitura, mas induzida pela escrita, ou seja, pela reflexão de si. A partir de nós vamos ao outro.
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Luiz Mendes
12/10/2010.