A luta pelas paixões ou a paixão pelas lutas.

por Luiz Alberto Mendes

 

Paixões e Lutas

Desconfio que as pessoas não têm boas razões para gostar de mim. Amo muito mais a paixão, a agonizante paixão, que o objeto dessa paixão. Amo estar amando. Claro; o ser ou a coisa que retêm meu olhar seduzirá meu coração. Mas é preciso que haja significado, conteúdo, verdade e história.  

A paixão torna-me criador nas 24 horas do meu dia. Voraz e obsessivo vasculho grandezas. Caço idéias e imagens que dêem vida à impossível palavra perfeita. Aquela que todos entenderão à primeira batida do olhar. Sinto-me pulsante, iluminado ou enlouquecido quando arrebatado por essa paixão. Escrevo doentio, com as mãos agitadas e o coração aos pulos.

As pessoas e as coisas atraem, tornam-se o alvo depois do alvo. Explico-me: sou meu alvo preferencial. Atinjo-me primeiro e na veia: sempre fui meu rato de laboratório. Se der certo, vou em frente. Tudo me atrai; a diversidade é encantadora e inebriante.

A paixão, essa força emocional que me move, me pertence. Sou eu quem ama e não o outro que se faz amar por mim. Tento ser agente, aquele que propõe, não apenas reagente às ações do outro. É em mim que meu mundo acontece. Onde meus sentimentos (plural) me levam à loucura e minha razão (singular) pesa e escolhe.

O outro sempre foi meu objetivo. Aquele que, independente do tempo e do espaço, esta no singular e no plural de minha vida. Por sua extrema necessidade que me fiz na história. Aprendi a produzir minhas próprias paixões e sonhos, por mais loucos pareçam.

Possuo profundos afetos pessoais. Alguns que fincam raízes e parecem mesmo para sempre. Embora tudo afirme que para sempre não exista. Mas, no caso, eu também não sou para sempre. Dentro de minha finitude, cada um desses outros tem seu lugar reservado. Para mim o conceito “outro” significa um “eu” que não sou eu.

E não são tantos outros assim. Apenas aqueles pelos quais consigo desenvolver afeto. Não tenho tanto coração quanto queria. Não vivo só para mim. Não consigo me colocar como centro do mundo. Embora esteja no núcleo de minha existência, acolho a todos que se aproximam com prazer e carinho. Nada busco em troca. Tudo é pela manifestação da alegria e satisfação de viver que encontro em cada um deles.  

Ando muito preocupado com o tempo que passa para me preocupar com o tempo que me resta. Tenho a nítida sensação de que tudo ameaça antepor-se ao que precisamos defender. Mas, como não vejo saídas possíveis, sigo em frente até encontrar ou me findar na busca.  

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Luiz Mendes

03/01/2011.

 

 

 

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