A grande família

por Paulo Lima
Trip #174

Dedicar uma edição inteira ao assunto família em 2009 pode parecer um contrassenso?

Dedicar uma edição inteira ao assunto Família em 2009 pode parecer um contrassenso, numa época em que já existem até empresas especializadas em organizar comemorações para casais que se separam. Mas a falsa impressão tende a se dissipar rápido.

Antes de mais nada, porque a melhor palavra para defi nir o momento que compartilhamos hoje talvez seja incerteza. Se preferir, insegurança também pode servir bem. E família ainda talvez seja o melhor antídoto para essas sensações que, se já são parte importante da condição humana, tendem a desestruturar nossas frágeis existências quando agravadas pelo meio externo.

Além disso, como sempre são nossas tentativas na abordagem dos temas que têm norteado a Trip nos últimos anos, o olhar é o mais amplo ao nosso alcance. Fomos ver, por exemplo, como andam os jovens surfistas do litoral da desgraçadamente famosa Faixa de Gaza. Aqueles que tiveram que deixar de lado os poucos momentos de liberdade de que desfrutavam para ver seus mortos serem enterrados e suas famílias dilaceradas.

Do outro lado da fronteira, um médico de origem israelense revela a forma pouco ortodoxa como criou os nove filhos por 25 anos soltos na natureza, longe da educação convencional. Os prós e contras da experiência da família Paskowitz aparecem nos depoimentos dos filhos, hoje maduros e criando os seus, e dos pais, já octogenários e ainda juntos e aparentemente felizes.

Bob Burnquist relata na entrevista das Páginas Negras outra experiência de vida que merece atenção. Quanto da carreira invejável daquele que pode ser considerado sob vários critérios o maior atleta em ação no esporte brasileiro se deve a sua opção por constituir, ainda jovem, uma família estruturada e sólida, ao contrário de boa parte de seus colegas de profissão?

Por fim, mas não menos importante, o relato do professor Antônio Carlos Gomes da Costa, um desses brasileiros que nos dão orgulho do passaporte que carregamos, ensina que família é quem acolhe, ama e ensina. Ele mesmo, que não teve filhos biológicos, conta na presente edição um pouco de uma vida dedicada ao outro. Uma vida inspiradora e que só reforça a tese do início.

A família ainda é a melhor maneira de enfrentar a experiência nem sempre fácil da existência humana. Seja em que época for...

fechar