Opção
Escrever para mim é como respirar, fazer-me presente no mundo.
É como uma pulsação nervosa que me enche de apreensões, insatisfações e pequenas realizações.
Romper com tudo o que precede ou que vem a seguir.
Querer algo muito maior que apenas viver.
Escrevendo faço a contracultura do cotidiano, desabafo, e vou bater de frente contra tudo o que me fere.
Empreendo minha vida, protagonizo-me e quero ser em dobro. Quando sento para escrever há sempre uma noção de liberdade. De escapar de mim, de meu individualismo, de minha mesquinharia e de todas minhas fraquezas humanas.
Sou ideal escrevendo, não mais o mesmo de sempre; sou o que quero ser.
Talvez pensem que seja fuga, mas não, é apenas um exercício daquilo que vou vir a ser.
Conceituo porque penso e o que me interessa é o homem, com suas contradições, erros de julgamento, ingenuidades e sua absurda alienação.
Marcuse dizia que não devemos aceitar nada que nos for dado sem questionar profundamente.
Ao analisar, tenho pena, mas, antes de mais nada é preciso levar em conta o que as move.
Porque tanto egoísmo, porque tanto preconceito e tanta covardia? Porque é tão fácil manipular, levar as pessoas a pensar o que queremos?
Falta de filosofia nas escolas, ensino que dirija uma pessoa à outra e que partilhar é muitas vezes mais produtivo que amealhar.
Outro dia disse em poesia que essa é uma vida para profissionais na arte e no projeto de viver.
Vestir-se como dandi, mas sem deixar de ser Gandhi.
Ter coragem para se arremessar no vazio, naquilo que ainda não aconteceu, o inaugural.
Nesse território do relativo além das grades das certezas, onde não há o que se tornar.
Além das neuroses obsessivas que infestam os noticiários. Vivemos como se fôssemos eternos, embora tentemos provar o oposto.
Cheios de sabedoria tentamos compreender o mundo.
Esquecidos que compreender é reduzir às nossas dimensões humanas.
Tendemos sempre a antropomorfizar e, desencantados, usamos as derrotas como alavancas ao que nos move.
A esperança se torna nossa maior grandeza e nossa maior derrota. Porque, sob essa aparência de compreensão e entendimento, estamos completamente fora de nosso controle.
Por isso escrevo como quem cantarola distraidamente, do mesmo jeito que bate meu coração.
Quero escrever mais e ando aborrecido porque não vou mais ter tempo, minha sede é maior que o tempo que disponho.
Falar é pouco e meu projeto de vida exige de mim mais que posso oferecer.
Tudo é imenso e eu não basto a mim mesmo.
Por isso opto pela outra pessoa, essa vida que se manifesta independente de mim.
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Luiz Mendes
13/11/2014.