Ponte para a educação

Tabata Amaral enfrentou a morte do pai, estudou em Harvard e fez da educação seu propósito. Enquanto isso, luta para fazer o que acredita, enfrenta críticas e persegue o caminho do meio

por Luara Calvi Anic em

“A educação não mudou só a minha vida, ela mudou minha família como um todo.” Essa certeza de Tabata Amaral explica a forma como a cientista política e hoje deputada federal (PDT) defende o tema em seu projeto político. Mas a indignação que a fez almejar um posto na Câmara dos Deputados tem origens mais profundas e uma conexão muito forte com a memória de seu pai, morto há sete anos em decorrência da dependência em drogas e álcool. Em sua casa, estão guardados cadernos com textos escritos por ele e, embora nunca os tenha lido detalhadamente, por conta da dor que acompanha esse gesto, ela sabe do que se trata: são registros da insatisfação dele com os problemas da sociedade. “Meu pai era muito sensível à desigualdade, às injustiças do mundo. Eu pareço demais com ele nisso”, diz emocionada.

No Gabinete Itinerante, em São Paulo, com Casagrande, em março - Crédito: Arquivo pessoal
“Foram muitos anos trabalhando pela educação até entender que só ia dar jeito estando na política”
Tabata Amaral

Nascida e criada na Vila Missionária, no extremo sul de São Paulo, Tabata, 26 anos, desafiou estatísticas desde o dia em que começou a se destacar nos estudos. Com mãe bordadeira e pai cobrador de ônibus, estudou em escola pública até os 14, quando conseguiu uma bolsa em um colégio particular após vencer uma olimpíada de matemática. Com o dinheiro do prêmio, ajudou a família a construir o primeiro quarto de sua casa – antes, ela, o irmão e os pais dormiam no mesmo cômodo. Foi essa casa que Trip a visitou para a entrevista. Os diferentes acabamentos dos cômodos revelam a construção feita aos poucos, a cada entrada de dinheiro. A reforma da laje, com vista para casas em tijolo aparente da vizinhança, foi concluída recentemente, após Tabata pagar as dívidas da campanha.

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Durante a adolescência, a paulistana ganhou medalhas em mais de 30 olimpíadas nacionais e internacionais da área de exatas – na maioria das vezes, como a única mulher das delegações. Nessa época, 2010, criou ao lado de colegas o projeto VOA! (Vontade Olímpica de Aprender), que até hoje prepara alunos de escolas públicas para olimpíadas científicas. Aos 18, entrou na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, com bolsa integral. A ideia era estudar astrofísica, mas, logo no primeiro semestre, uma matéria na área de humanas mudou o curso de sua vida. “Fiz uma disciplina sobre a América Latina com o professor Steven Levitksy [autor do best-seller Como as democracias morrem] e entendi a questão da desigualdade social. Pensei: ‘Isso aqui é a história da minha vida, isso faz sentido para mim’.” Depois disso, decidiu mudar o foco principal da graduação para ciências políticas, área mais alinhada ao seu trabalho hoje.

Tabata, na Comissão da Mulher, neste ano - Crédito: Arquivo pessoal

Renovação

Em 2017, Tabata foi uma das criadoras do Acredito, movimento suprapartidário que busca a renovação política, e considerou se candidatar. “Foram muitos anos trabalhando pela educação até entender que só ia dar jeito estando na política.” Aos 26, se tornou a sexta deputada mais votada na capital. Chamou a atenção logo no primeiro semestre deste ano ao contestar o então ministro da educação, Ricardo Vélez, sobre a falta de projetos nessa área. O ministro acabou afastado 
do cargo pouco mais de uma semana depois. Recentemente, ela foi criticada por parte de seus eleitores por votar a favor da Reforma da Previdência. Nas contradições da vida política, ela encontra a sua coerência. “Quando me exaltei com o ministro ou quando fiz o voto [a favor da Reforma], eu realmente acreditava que ia nos ajudar a ter dinheiro no futuro para investir em educação — essa é a minha bandeira.”

Com a mãe, Reni, e as medalhas conquistadas em olimpíadas de ciência e matemática em 2011 - Crédito: Arquivo pessoal

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Seguir aquilo em que acredita é uma característica de Tabata na política. “Nunca abri mão de ser quem eu sou e de lutar pelas coisas em que acredito, mesmo que elas não façam sentido em Harvard ou na periferia”, diz. É esse foco em seus objetivos e uma “casca grossa”, que ela diz ter puxado da mãe, que a fizeram seguir em frente e conquistar seus sonhos.  “A única saída que via para tudo que acontecia com a gente era pela educação. Eu e meu irmão fizemos faculdade, que é uma coisa inédita na minha família. E, hoje, nossa casa está quase completa, com laje, telhado e tudo mais”, diz.

Com o pai, Olionaldo, em 2000, aos 7 anos - Crédito: Arquivo pessoal
“Meu pai era muito sensível à desigualdade, às injustiças do mundo. Eu pareço demais com ele nisso”
Tabata Amaral

Tabata não mora mais com a mãe. Hoje, se divide entre um apartamento em Brasília e outro na região central de São Paulo. Mas todos os domingos vai à Vila Missionária para assistir à missa com a família. É nesse dia que ela também arruma tempo para estudar francês, sua quarta língua. Tabata sabe que os direitos sociais precisam ser aplicados para que, a partir daí, cada cidadão possa construir a própria história. Garantir essas bases é mais uma de suas missões. “Meu sonho é que o Brasil tenha a melhor educação pública do mundo e seja referência de um país que deu conta de colocar todos no mesmo ponto de partida. Quero ser a pessoa que contribuiu para isso acontecer e entrar no hall de nomes como Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Paulo Freire. Quero ser parte dessa construção.”

 

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Créditos

Imagem principal: Mario Ladeira

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