A atriz e humorista dona do bordão “Vem cá, te conheço?” fala sobre etarismo, maternidade e perdas
Foi com o bordão “Vem cá, te conheço?” que Maria Clara Gueiros ficou popular no mundo do humor. Atriz do extinto “Zorra Total” e de novelas como “Nos Tempos do Imperador”, ela agora se lança para produções de fora da TV Globo após um casamento de 17 anos com a emissora. Já inclusive gravou para a HBO Max a primeira temporada de “No Mundo da Luna”, inspirada nos livros adolescentes de sucesso.
Com uma estreia tardia na televisão, aos 39 anos, Maria Clara ralou muito no início da carreira. Além de se formar e defender um mestrado em psicologia, a artista fez muita peça infantil e já até distribuiu filipetas vestida de garça para promover um espetáculo do qual fazia parte. Foi bailarina profissional também, mas largou a profissão dois dias depois do conselho que ouviu do amigo de palco, Eri Johnson: “Você dança mal pra caramba, investe na atuação”.
Apesar de não acreditar na visão de que todo humorista carrega um lado depressivo, ela assume que cultiva certa melancolia desde criança: “Acho a melancolia importante porque ela se traduz em empatia, em se colocar no lugar do outro. Quando a pessoa é muito animada, ela não abre a guarda para entender o próximo”.
Em cartaz no Teatro Nair Bello com a peça “O Falcão Vingador” por mais este fim de semana apenas, a atriz conversou com o Trip FM sobre etarismo, maternidade, sobre a perda da atriz Cláudia Jimenez, entre outros assuntos.
Trip. Você acredita que todo humorista tem um lado depressivo, como mostram alguns estudos, ou acha isso uma lenda urbana?
Maria Clara Gueiros. A melancolia do humor eu acho que é lenda urbana, mas por acaso faz sentido para mim. Sempre fui tímida, desde a infância, então ser comediante surpreendeu muita gente que cresceu comigo. Mas eu acho a melancolia importante porque ela se traduz em empatia, em se colocar no lugar do outro. Quando a pessoa é muito animada, ela não abre a guarda para entender o próximo. O humor me salvou da tristeza da existência. Eu lido com a melancolia através do humor e isso é salvador.
Você guarda alguma mágoa da Globo? Mágoa nenhuma. Nosso mercado audiovisual está sujeito as leis da procura e demanda e ele mudou muito nos últimos anos, com os streamings. O jeito que a TV Globo trabalhou durante muitos anos ficou inviável. É claro que eu fiquei 17 anos com essa segurança de ter um salário fixo e plano de saúde e a princípio quando eu fui desligada me deu um certo pânico, mas graças a Deus, um mês depois eu estava fazendo contratos. Estes artistas todos estão sendo postos no mercado e sendo chamados para tudo. Antes a gente só fazia Globo. Posso dizer que estou muito feliz. O fim dos projetos de humor na TV aberta também coincidiu com o mundo ter virado de cabeça para baixo. Novela é o carro chefe e não daria para abrir mão. Humor ficou fora da prioridade. Mas não porque as pessoas não queiram ver; o humor é salvador. Eu tenho certeza que isso vai voltar.
Já sofreu com etarismo? A gente sofre com etarismo, sim. O mundo é dos jovens, da novidade, do descartável. A pessoa mais velha traz estampado na cara coisas que são diferentes disso. As pessoas olham para quem está além dos cinquenta como não próprio para os dias de hoje. Isso é uma balela: eu me considero muito atenta. Obviamente não posso fazer o papel de mocinha, coisa que também nunca fiz, mas o nosso ouvido ligado para as coisas que estão acontecendo é muito mais importante que as rugas que temos.
Créditos
Imagem principal: Divulgação/TV Globo