Charles do Bronx: A favela venceu por nocaute

por Redação

Estrela do UFC comenta polêmica na pesagem, preconceito nos tatames, preparação física, origens e muito mais

Assim como Kelvin Hoefler no skate e Mineirinho no surf, Charles do Bronxs é mais um talento do esporte a despontar das comunidades do Guarujá para o alto de sua categoria. Um dos melhores lutadores de MMA da atualidade, Charles foi recentemente o detentor do cinturão do UFC de peso-leve. Impedido de praticar esportes quando criança ao ser diagnosticado com reumatismo e um sopro no coração, ele se manteve obstinado e encontrou no jiu-jitsu uma escola de vida. “Para aqueles que estão dispostos a lutar e a suar, não importa se está chovendo ou nevando, as coisas acontecem. Quando você vem da comunidade todos os dias são uma batalha para não se perder. Eu sangrei, eu suei, eu tomei soco na cara para poder dar algo melhor para a minha família, um conforto, uma comida melhor. É o propósito de tudo isso aqui. Você acorda cedo para isso, para a sua filha ter algo legal. Para quem morava na comunidade, poder estar a 800 metros da praia não tem preço.”

Em um papo com o Trip FM, Charles fala ainda de preparação física, de preconceito dentro dos tatames, de manutenção do peso e muito mais. A conversa fica disponível no Spotify e no play aqui em cima.

Trip. Conte mais um pouco da sua origem, como foi a sua infância?

Charles do Bronxs. Nunca vou negar de onde vim. Nasci na favela, mas sempre tive pessoas que me impulsionaram: pude estudar e fazer esporte. Minha mãe trabalhava como faxineira em dois empregos e meu pai como feirante. Desde cedo aprendi que precisava me dedicar para ser alguém. Conheci o lado ruim da vida porque vivi na comunidade, mas fui abençoado e as coisas aconteceram. Hoje tenho um carro da hora, moro em um lugar da hora, consigo comer coisas boas… O UFC me levou para um lugar gigante.

Você já falou muito sobre as suas vitórias, mas também passou pela dor da derrota algumas vezes. Como é perder? Todo mundo quer ser campeão, mas, na realidade, tudo é tempo: você precisa acreditar para que as coisas aconteçam. Você vai vencer e perder e quando perder, é preciso dar uns passos para trás, respirar, e continuar andando para frente. O campeão não é só aquele que só vence, é aquele que se ergue depois do tropeço. Tudo é uma fase.

Você fala muito que a favela venceu, mas a gente não pode esquecer que ainda tem muito caminho a ser seguido. Eu falo que a favela venceu para que outras pessoas possam acreditar e surfar nessa onda, mas, de verdade, o Brasil ainda tem muita gente que passa fome. É preciso olhar para o outro lado. No Guarujá, por exemplo, você olha para as praias maravilhosas, mas não vira para trás. E as favelas, como estão? O que a gente pode ajudar?

Em 2011 o Minotauro falou aqui pra gente, da Trip, que nunca treinaria com um atleta gay porque tinha medo do contato físico com maldade sexual. Qual é a sua opinião sobre essa situação? Treinaria normal com um atleta gay: é preciso ter respeito. Quando você treina sério, tudo o que cabe é o respeito.

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