Bruno Fratus: da depressão à medalha olímpica

por Redação

Bronze olímpico e atleta mais consistente dos 50 metros livres, o nadador superou a depressão e saiu do outro lado mais confiante do que nunca

“A pressão de competir é somente algo que vem de fora, é barulho. E um privilégio também. Ninguém bota pressão em cavalo manco.” Confiança é algo que não falta ao nadador olímpico Bruno Fratus. Bronze em Tóquio no ano passado, Bruno chegou aos últimos jogos com 32 anos e se tornou o atleta mais velho da modalidade a receber uma primeira medalha olímpica. Dois ciclos antes, ficou a dois centésimos do pódio e no Rio, em 2014, chegou em um decepcionante sexto lugar e caiu na depressão.

O atleta mais constante a competir nos 50 metros livres - é o primeiro da história a nadar 100 vezes abaixo dos 22 segundos – Bruno Fratus passou por um processo longo de terapia para colocar a cabeça em ordem e hoje fala como uma verdadeira fortaleza: “Meu trabalho é tornar a vida do meu adversário um inferno. Gosto de competir com esse espírito de estabelecer dominância”.

Em São Paulo para se recuperar de uma cirurgia no ombro (Bruno mora e treina na Flórida, nos EUA), o nadador bateu um papo com o Trip FM e falou ainda da relação com a esposa e treinadora Michelle Lenhardt, de dinheiro, do cuidado com crianças atletas e muito mais. Leia um trecho abaixo, confira o programa no play ou nos procure no Spotify.

Trip. Quando você ganhou o bronze em Tóquio tinha 32 anos. Em algum momento você sentiu pressão por ser um atleta mais velho?

Bruno Fratus. A pressão de competir é simplesmente algo que vem de fora, é barulho. E um privilégio também. Ninguém bota pressão em cavalo manco. É difícil colocar qualquer tipo de pressão negativa em mim porque quero e gosto de nadar. Não é como se eu devesse nada a alguém: já atingi o topo da minha área. Em relação à idade, a gente está acostumado a ver o cara de 32 anos fumante, barrigudo, trabalhando de segunda a sexta para poder encher a cara no fim de semana. Mas com 32 você está no auge físico se você comer bem, descansar bem, se tiver prazer no que faz e uma vida emocional resolvida. Assim como eu estou no auge aos 33, estarei no auge aos 35 nos jogos de Paris e aos 39 quando competir os jogos de Los Angeles. A gente normalizou os vícios e os maus-hábitos físicos e mentais.

São vários os atletas que colocam essa importância, como você, na alimentação. Consegue detalhar esse aspecto da sua vida? O estilo de vida saudável é senso comum. Lá no fundo, todo mundo tem uma ideia estruturada do que é  bom comer. Dê ao seu corpo o que ele precisa: tome sol, ande com os pés descalços na grama, faça atividade física. Não dá para esperar ser saudável comendo comida processada, passando o dia sentado e o fim de semana deitado, com a cara no celular. Não tem como. A gente conversa com tanta gente durante o dia e muitas vezes não temos intimidade com nós mesmos. Eu procuro passar os meus dias estando no presente, entendendo que a depressão é um apego ao passado e a ansiedade é um apego ao futuro. Eu tento ficar nessa corda bamba entre os dois lados, emocional e mentalmente sóbrio para tomar as minhas decisões do dia a dia.

Você já comentou sobre a pressão que alguns pais da natação colocam em seus filhos. O que quis dizer com isso? Você lembra de sentir essa pressão? A criança se divertir no esporte, brincar de competir, é a fase mais gostosa de todo o  desenvolvimento, mas o potencial para se gerar um trauma quando os pais colocam uma pressão demasiada é gigante. Cansei de ver crianças largando o esporte para tentar combater essa pressão. Eu sinto pressão zero em competir, essa é a parte mais legal do processo. Pressão é de quem compete comigo, meu trabalho é tornar a sua vida um inferno. Eu gosto de competir com esse espírito de estabelecer dominância e acho que até hoje eu continuo competindo porque ainda não atingi esse objetivo de ser o melhor. Eu tenho para mim que o dia em que me tornar campeão olímpico, vou parar. 

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