A atriz que estreou dois blockbusters em 2021 fala sobre vida em Hollywood, política e streaming
Há vinte anos Alice Braga saía a pé de seu colégio para encontrar o diretor Fernando Meirelles em sua produtora, a 02 Filmes, e conversar sobre um possível papel no filme Cidade de Deus, hoje considerado por muitos o melhor longa-metragem já feito no Brasil. De lá até aqui, a indústria mudou, com portas cada vez mais estreitas para a entrada de atores desconhecidos. "Começaram a pedir número de seguidores em teste de elenco. Isso é um absurdo; não deveria ser medida para nada. Como vamos empregar pessoas incríveis que são desconhecidas?", questiona a atriz.
A chance que ela recebeu de Meirelles a fez conquistar muito rapidamente, como nenhuma atriz brasileira antes dela, um espaço cativo em Hollywood. Somente em 2021 Alice estreou dois blockbusters – Novos Mutantes e Esquadrão Suicida –, além da última temporada da série Rainha do Sul. No dia 20 de janeiro, a todos esses trabalhos ela soma a estreia do nacional “Eduardo e Mônica", baseado na música do Legião Urbana. Mas nada, ela promete, a faz esquecer da menina hippie, meio envergonhada, que saiu de São Paulo.
Em um bate-papo com o Trip FM, a atriz falou ainda sobre fama, política e streaming. Confira no play abaixo ou leia um trecho a seguir.
Trip. Deve ser difícil hoje em dia estar no mundo do entretenimento ao mesmo tempo em que você quer ter uma vida. Parece que algo que você equilibra bem.
Alice Braga. Eu sempre fui mais reservada. Era tímida, mas tinha um lado que era ativado para poder me comunicar com as pessoas. Ao passo em que fui ganhando mais reconhecimento, de uma forma natural, comecei a querer proteger meus personagens, porque quanto mais a gente sabe da vida do ator, do que ele faz, menos você compra aquela pessoa. Existe, sim, essa demanda da mídia social. É um problema para vários atores porque começaram a pedir número de seguidores em teste de elenco. Isso é um absurdo; não deveria ser medida para nada. Como vamos empregar atores incríveis que são desconhecidos?
Você consegue imaginar onde vamos estar daqui a dez anos? Acha que vamos continuar a andar para trás como nos últimos três? Eu tenho um lado que acha o Brasil foda, mas meu lado realista sabe que as coisas que esse governo fez vão ter consequências por muito tempo. Em 2022 a gente não só precisa mudar quem está na presidência, mas precisamos avaliar quem está em nosso Congresso. Meu desejo é que a gente use esse tempo duro para gerar uma transformação potente na desigualdade social e que a gente proteja nossas florestas.
Construir a sua carreira em cima de outras bases, fora da Globo, foi uma decisão consciente? Quando adolescente, cresci querendo fazer Globo, mas tive algumas oportunidades mágicas no cinema. Foi um caminho que as coisas tomaram que devo muito aos meus pais, que me mantiveram no colégio e fizeram questão que eu vivesse as fases da vida. Você vê que pessoas estão saindo de contratos com a Globo para ficarem mais livres. Essa pluralidade de meios de publicação é muito importante para dar força para a nossa indústria, principalmente nesse momento em que o governo ataca a cultura.
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