por Andréia Silva

Iraniana radicada no Reino Unido lança doc em animação sobre drama das avós da Praça de Maio

Afarin Erghbal deixou o Irã com apenas um ano de idade, em 1979, no colo dos pais que decidiram deixar o país em plena Revolução Iraniana. Desembarcaram no Reino Unido, onde ela cresceu e criou gosto por contar histórias. Uma delas será vista pelo público brasileiro no É Tudo Verdade, festival de documentários que começa na quinta-feira (22), em São Paulo, e vai passar ainda pelo Rio de Janeiro.

Vovós (Abuelas) é o único documentário animado do festival e traz uma história ambientada em Buenos Aires, na Argentina: a das avós que esperam um dia rever seus filhos e netos desaparecidos e sequestrados durante a ditadura militar no país (1976-83).

“Sempre adorei filmes, mas o que me levou a isso foi mesmo minha paixão por contar histórias. E acho que os filmes são a melhor maneira e fazer isso”, diz Afarin para a Tpm. Ela conta que escolheu um fato ocorrido em outro continente para provar que “para um cineasta de verdade, não importa onde a história acontece”.

“Eu sou muito humanista e acredito que as pessoas ao redor do mundo sentem as mesmas emoções – choramos pelas mesmas coisas; sangramos se nos cortamos. Sendo assim, acredito que possamos apreciar uma história em um mesmo nível de emoção, sem importar em qual país ela acontece. Espero que tenha conseguido mostrar isso em Vovós”.

Conexão Irã - Londres - Argentina

Quem levou Afarin ao país latino foi sua roteirista Francesca Gardiner, que morou durante um ano em Buenos Aires e mergulhou na história política recente do país. Na volta, os fatos envolvendo as Avós da Praça de Maio, que tiveram suas filhas capturadas pelo regime militar, chamaram a atenção da cineasta. Essas filhas foram sequestradas grávidas e tiveram seus filhos nas prisões, entre 1975 e 1980. As crianças foram doadas a outras pessoas, desconhecendo seu passado. A busca dessas avós é por esses netos e netas que não sabem de sua verdadeira história.

“O que mais me chocou foi pensar que uma dessas crianças tem a minha idade e pode descobrir a qualquer momento que seus pais verdadeiros foram mortos durante a ditadura e que sua vida e identidade são uma mentira”, comenta. 

Com apenas nove minutos, o filme vem caindo no gosto do público por onde passa e já coleciona prêmios tanto em festivais nos Estados Unidos quanto na Europa. Em grande parte, a plateia se encanta com o formato do documentário, que encontrou na animação um novo jeito de contar uma antiga história.

Fazer um documentário animado foi, em parte, uma decisão pessoal, e em outra, uma escolha obrigatória, exigência do curso de cinema da National Film & Television School, em Londres.

“A animação era uma obrigatoriedade, mas faria isso de qualquer jeito. Então escolhi o tema cuidadosamente, decidindo o que a animação agregaria e como apoiaria essa história. Como diretora de animação, acredito que este é um meio único e que oferece uma linguagem universal, reconhecida por todos – quase todos tiveram experiências com animações desde cedo”, diz a diretora.

Para fazer Vovós, ela usou diferentes técnicas – stop motion, manipulação de fotos, entre outras -, e uma câmera digital. 

Dizendo não ser uma cineasta política, Afarin agora quer apostar em uma ficção, até para se reciclar como diretora e não se acostumar com um único caminho. As histórias ouvidas na semana em que ela passou na Argentina entrevistando as avós, no entanto, ela diz que vai carregar para sempre. “Espero que o filme faça justiça ao trabalho inspirador dessas mulheres incríveis”.

Vovós será exibido nos dias 30 e 31 de março no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, e no dia 1º de abril no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo.

Veja abaixo o trailer do doc:

Vai lá: Festival É Tudo Verdade
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