Casado, safado e pai de família, ele faz o tipo homem dos sonhos
Este é o Victor, meu amigo, meu bróder. Casado, safado e pai de família, ele faz o tipo homem dos sonhos. E morar em Cannes é apenas um detalhe
Eu conheci primeiro a mulher do Victor. Mariana era amiga de um amigo e apareceu numa daquelas noites cariocas de 38 graus em um bar qualquer da Lapa, de minissaia e sorriso largo. Uma hora depois ela estava nua nos trilhos do bondinho dos Arcos da Lapa para eu fotografar. Naquela mesma noite Mariana disse que eu precisava conhecer seu namorado. Precisava mesmo. E não esperei muito. No dia seguinte apareci com as minhas câmeras no apartamento em que moravam, num prédio cor-de-rosa antigo no quarteirão da Praia do Leblon. Ele me deu um beijo e uma salada com granola salgada ao curry. Uma hora depois fez um amor safado com ela no sofá de couro preto, na frente da imensa janela, para eu fotografar. Esse é Victor Brandi, o moço que você acompanha nas páginas a seguir.
Ver esse homem transar com sua mulher foi algo muito especial. Uma das coisas realmente carinhosas: ele lambeu o pé dela devagar, a levantou com delicadeza e acariciou seu rosto com uma ternura que geralmente se reserva a filhotes de gato e bebês que nasceram há menos de uma semana. Mas sabe ser safado, claro. Bate quando ela pede. É um menino bastante forte, já foi campeão de remo, fez ginástica olímpica e tem uma força braçal que faz as meninas tremerem. Ter um terceiro elemento durante o sexo não é novidade pra eles, às vezes levam outras moças para a cama. As deixam felizes e ainda as convidam para tomar um suco de graviola com kiwi numa esquina próxima.
Ele lambeu o pé dela devagar, a levantou com delicadeza e acariciou seu rosto com ternura
Talvez agora seja um bom momento para contar, o Victor é chef de cozinha. Começou em restaurantes finos do Rio de Janeiro, como Zaza e Le Pré Catelan. É um menino esperto, aprende rápido, presta atenção nos detalhes, cozinha muito e come mais ainda. É guloso com a vida. Fica 2 horas fazendo compras em cinco mercados diferentes e 3 horas com a barriga no fogão para fazer um prato de purê de alcachofras com ganache de queijo de cabra e risoto de açafrão, que ele come em menos de 5 minutos e, depois, limpa o prato com a crosta do pão. Há um ano e meio Victor e Mariana se mudaram para o sul da França. Perseguiram o sonho dele de trabalhar num restaurante estrelado. Arranjou um emprego no Vila Archange, então, fizeram as malas e partiram para Cannes, onde virou sous-chef do bistrô.
Convivo com esse casal já faz cinco anos. Depois daqueles dias em que passei registrando a safadeza deles, viramos melhores amigos. Os chamo para serem modelos nos meus trabalhos de publicidade de vez em quando, eles dormem na minha casa quando estão em São Paulo e eu durmo no futon deles quando estou em Cannes. Já passei por todos os lares onde eles viveram: primeiro pela casinha no Leblon, depois, por vários fins de semana, no apartamentinho de dois andares em Copacabana e, mais
tarde, pela casa ensolarada mais deliciosa da Urca. Agora, pego o avião até Nice toda vez que posso e eles me buscam no aeroporto, com o bebê no colo e um sorriso no rosto.
Victor presta atenção nos detalhes, cozinha muito e come mais ainda. É guloso com a vida
Parece muito fino falar que moram no Leblon e na Côte d’Azur e todo esse lance de ponte área intercontinental. Mas no fundo eles são hippies, o Victor trabalha 14 horas por dia e eles guardam as cascas dos legumes no freezer para fazer a comida dos gatos. Plantam flores, legumes, separam o lixo. Cuidam do mundo para que o mundo cuide deles. A Mari é a minha amiga, a gente toma sol na praia, fala de amor, de cremes, de literatura e de biquínis novos. Mas Victor é meu bróder, a gente cozinha junto, vamos ao cinema para assistir filmes de Hollywood, tomamos vodca direto da garrafinha, pedalamos e sentamos na orla para ver as mulheres passando. Os vejo trepando, fazendo xixi, vi a filha, Gaia, nascer no chão da sala e acompanho de perto o processo de abertura do café que em breve será um dos lugares que mais frequentarei em Nice. Esse casal encara a intensidade da nossa amizade com a maior naturalidade. Eu também.
Hoje, eles vivem numa daquelas vilas construídas no final do século retrasado, num bairro árabe de Cannes, com um jardim grande, ar decadente, dois gatos e a filhota. Todo dia de manhã, Victor pega a bicicleta pintada com as cores do Brasil e vai para o restaurante preparar o almoço, mas volta para casa para comer com a família. Então, pega a bike de novo e volta pro trabalho. Sim, o Victor faz bem o tipo homem dos sonhos