Vergonha, honra e engenharia social

por Mariana Perroni

poucas coisas requerem tanto esforço do que fazer alguém cooperar conosco

Pode ser no trânsito ou na fila do supermercado. Tentando trocar o plano de internet pelo call center ou fazer a faxineira entender que não é para vir na terça-feira de manhã porque você dá plantão na segunda à noite e precisa dormir. Os exemplos são incontáveis, mas deixam claro que poucas coisas durante a existência de um ser humano requerem tanto esforço do que fazer alguém cooperar conosco. Se for no ambiente de trabalho então, é preciso muito empenho e diplomacia, já que dificultar processos apenas por birra é quase esporte olímpico. Parece que só quando se coloca o salário (ou a possibilidade de perdê-lo) na discussão é que as coisas realmente acontecem.

Parecia. Dominar a arte de fazer seres humanos cooperarem conosco parece estar, pelo menos um pouco, mais próximo. Um estudo publicado pela Universidade da British Columbia demonstrou que causar sentimentos de vergonha ou honra nas pessoas aumenta a cooperação social. E não é pouco: o aumento computado chegou até 50%.

Segundo os pesquisadores, esses sentimentos evocam imagens de A Letra Escarlate e Os Três Mosqueteiros na mente das pessoas. E, em plena era digital, onde atos de honra ou vergonha tem sido propagados com velocidade absurda e alcance sem precedentes no You Tube, Twitter, e Facebook, isso tem ficado cada vez mais claro e contribuído muito para impulsionar a cooperação interpessoal. Já tem até quem esteja apostando no potencial dos resultados do estudo: Para deter a evasão fiscal, por exemplo, muitos estados dos EUA têm adotado a política de postar os nomes dos devedores fiscais on-line. Com sucesso, diga-se de passagem, e independente do grau de instrução e idade. 

Os cientistas até extrapolam nas conclusões, afirmando que os resultados do estudo fornecem base e devem ser levados em consideração na hora de elaborar futuras estratégias para impulsionar mudanças de comportamento em relação a questões globais, como as alterações climáticas e controntos entre países. 

Se a Engenharia Social está começando a se tornar realidade ou se isso é meio psicologia infantil, eu não sei. De qualquer forma, se colocar a técnica em prática aqui no Brasil tiver o potencial de levar a, pelo menos, uma redução na quantidade de reality shows, vizinhos que jogam lixo pela janela do prédio, gente que maltrata animais, homens que acham que serviços domésticos são obrigação feminina, entrevistas com ex-BBBs e candidaturas de políticos que já usaram suas cuecas como cofre, eu não iria me opor a tentar.

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