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Um texto que dispensa culhões

Nessa semana, ouvi três diferentes mulheres dizendo precisar de culhões para resolver algo

of ovaries...

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Por Mariana Perroni

em 16 de setembro de 2012

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Nessa semana que passou, ouvi três diferentes mulheres, em três diferentes situações dizendo que precisavam de culhões para resolver algo. O que havia em comum entre todas é que todas usaram a expressão para se referir à motivação e coragem para agir de forma a acabar com alguma situação difícil que as desagradava na vida profissional, num relacionamento. Até então, eu nunca tinha prestado grande atenção nessa expressão. Mas a repetição dela acabou gerando alguns questionamentos em mim. Minha conclusão foi de que isso é, no mínimo, inadequado e sem sentido (para nao dizer machista).

 
Para dar embasamento a meu ponto de vista, alguns esclarecimentos são necessários. Porque quem não estudou embriologia, provavelmente não sabe que a loteria da vida define se seremos homens ou mulheres por uma combinação de mecanismos genéticos e hormonais. E nem deve ter ouvido dizer que durante as primeiras semanas desenvolvimento, todos nós somos bipotentes (ou assexuados, de acordo com o gosto do leitor). Ou seja, temos os substrato para ser tanto Felipes quanto Júlias. Carminhas ou Tufões.
 
Eu explico: é só lá pela sexta semana do desenvolvimento embrionário que a diferenciação começa a ocorrer: se você é XY, um gene do Y “acorda” e faz com que as células existentes se diferenciem para formar os componentes masculinos, com subsequente secreção de grandes quantidades de testosterona. Agora, se existe o XX, mais do que uma banda de rock indie excelente, prossegue-se  para o desenvolvimento das estruturas femininas e seus respectivos hormônios. Acho que dá até pra dizer que, numa primeira instância, todos começamos a vida como mulheres. Até um pedaço do Y se manifestar.
 
A teoria é bem interessante. Só que simplificá-la acaba gerando a errônea generalização de que: Y+ testosterona = Homem e Falta de testosterona = Mulher.
Isso piora mais ainda quando começa o papo de que há vários estudos que mostram que a testosterona influencia o comportamento e é o hormônio responsável pela postura mais agressiva, maior tendência a correr riscos e persistência para alcançar objetivos por parte dos machos da maioria das espécies, quando comparados com as fêmeas. 
 
Na minha opinião, é aí que está pelo menos parte da origem dos estereótipos de gênero, das expectativas sociais e de vários dos preconceitos que as mulheres (ainda) vivem hoje em dia. Afinal, elas mesmas, ainda que nem percebam, acabam deixando subentendido que a coragem para mudar algo que as incomoda depende da presença de um par de testículos entre as pernas.
 
Só que eu tenho algo a dizer para você, mulher que gosta de falar que está precisando de culhões para algo: Mulher também produz testosterona. Nos ovários e nas supra-renais. O organismo feminino é tão fantástico que nem precisa de testículo para isso. Então, vou terminar esse texto pedindo um favor. Pequeno. E que, na verdade, não é nem para mim. É para vocês mesmas: Parem de usar essa expressão. O arsenal, pelo menos hormonal, para se tornarem protagonistas de suas próprias vidas, vocês já têm. E, ainda que você não saiba o que está faltando para isso acontecer, garanto que é na vida e não na bancada do laboratório que vai estar.
 

meu Twitter: @mperroni

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