Elas sobem ao palco e falam sobre o que pensam, sentem e pretendem as mulheres de 30 anos
Uma peça cujo tema central é “como a mulherada lida com o chegar aos 30” não tem só mulheres na platéia. Muito menos balzacas. É o que essas duas jornalistas que aqui escrevem – e que nem sequer completaram três décadas – puderam checar ao assistir Confissões das Mulheres de 30, da diretora (que já passou dos 30) Fernanda D'Umbra. Entre casais e avulsos de 40, 50 e uma coleção de “entas”, o que se vê são três mulheres no palco. Com elas, uma mesa solitária num canto e roupas em tons de preto, cinza e branco.
O texto de Domingos Oliveira apresenta estereótipos – a maioria relacionada ao tema “homem” – que, de algum modo, estão presentes na vida de mulheres de qualquer idade. As entrosadas atrizes Melissa Vettore, Juliana Araripe e Damila Rafantti (que não por acaso são companheiras de Fernanda na série Mothern, da GNT) conseguem reproduzi-los sem cair no clichê da comédia exagerada, em que os atores falam diretamente com o público. Em Confissões... elas simplesmente contam histórias e reflexões de suas personagens, como se pensassem alto ou conversassem com uma amiga que não se vê.
Fernanda D'Umbra também é atriz, produtora, professora de dança e vocalista da banda Fábrica de Animais (confira 24 horas de seu dia na próxima Tpm). Com esse espetáculo assina sua sétima direção, depois de apenas 25 dias de ensaio. Na entrevista a seguir, ela fala sobre os bastidores da peça e da vida de uma mulher de 37.
Fernanda D'Umbra
O que pensa você, uma mulher de 37 anos?
Eu não tive filhos ainda, portanto muitas das preocupações de mulheres da minha idade não fazem sentido para mim. Preocupo-me com coisas como a publicação de um gibi em que sou viciada, uma música da banda que não sai e o show é depois de amanhã. E penso em como me livrar do maior de todos os males modernos: o medo que a maioria das pessoas tem de se apaixonar. Todo mundo transa e ninguém pega na mão. Não falo de compromisso, falo de conforto, que é a melhor coisa pra se ter depois do sexo.
O figurino neutro e o palco praticamente vazio têm sido bastante comentados pela crítica. Também nos chamou a atenção a coluna ereta e a postura impecável das atrizes. Que idéia há por trás dessas escolhas?
Trabalhei com a idéia de um “não lugar” no cenário e uma "não roupa" no corpo das atrizes. Não queria que esses elementos localizassem as intérpretes. Não queria que tivéssemos em cena, “a gostosa, a pudica, a estressada e assim por diante” . Desde o começo minha opção foi explorar ao máximo a fisicalidade na interpretação. Por isso o palco limpo, nenhum objeto nas mãos delas.
Que tipo de dança você faz e que papel isso tem no seu trabalho?
Estudo a Nova Dança, uma das vertentes da dança contemporânea que usa elementos de artes marciais, consciência corporal e seqüências coreográficas para desenvolver no intérprete seu próprio jeito de dançar. Muito da minha energia e do meu domínio da cena vem da dança e das múltiplas possibilidades que ela deu ao meu corpo.
Você tem planos de escrever para teatro?
Outro dia um amigo me encomendou uma peça. Não sei de onde ele tirou a idéia de que eu poderia escrever uma. Mas, se ele acha isso, deve haver algum sentido, ele é um cara inteligente.
O que você recomenda hoje no teatro brasileiro?
Vou falar de São Paulo. Recomendo que se veja sempre qualquer peça feita pelos seguintes grupos de teatro: Cemitério de Automóveis, Parlapatões, Teatro da Curva e La Mínima.
Vai lá: Confissões das Mulheres de 30. Em São Paulo: Teatro Folha, shopping Pátio Higienópolis, av. Higienópolis, 618, piso 2, Consolação, (11) 3823-2323. Quartas e quintas às 21h. Até 14/8. E em Campinas: Teatro Tim, Parque Dom Pedro Shopping. Sextas e sábados às 21h e domingos às 19h. Para saber mais sobre a Fernanda e o que ela anda aprontando por aí, visite seu blog.