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Surfoterapia – você conhece?

por Mara Gabrilli

Em 2010, quase 20 anos depois de ficar tetraplégico, meu amigo Taiu surpreendeu a todos ao surfar em uma prancha adaptada. Fiz o mesmo, várias vezes. E a adrenalina é total

A prancha é uma adaptação de uma Tandem (onde surfam duas pessoas) com stand up (um em pé). Funciona assim: enquanto uma pessoa fica no assento especial, outra fica em pé com o remo e mais uma fica deitada atrás batendo braços e pernas para dar equilíbrio.

A ideia deu tão certo que ao longo desses anos o equipamento passou por melhorias e hoje virou febre entre vários tetras que também querem pegar onda. Esta que vos fala, inclusive.

Nesse final de semana voltei para o Guarujá para surfar. Já havia feito em outras ocasiões, mas dessa vez consegui pegar minha maior onda desde que perdi os movimentos do pescoço para baixo. A velocidade é o que mais me anima neste tipo de atração porque faz a gente liberar muita adrenalina! Sem contar que somos uma equipe e a tomada de decisões, entre pegar ou não uma determinada onda, exige rapidez, perspicácia e interação com o mar. E o mais importante: você precisa entrar com muita humildade no mar para receber a benção dele. 

Nesse vídeo a seguir vocês podem conferir a matéria que o Trip TV fez comigo em 2010, quando me tornei a primeira tetra do mundo a surfar: 

Como outras coisas que já ousei fazer na vida depois da tetraplegia, essa também me exigiu coragem. Só que em uma potência muito mais alta, já que além de enfrentar o medo, tenho que confiar muito mais nas pessoas que estão comigo. 

A Campanha Surf Inclusivo, comandada pelo Taiu, faz um trabalho maravilhoso de inclusão através do esporte, uma das maiores fontes de autoestima e saúde para qualquer pessoa. Para uma pessoa com deficiência, é incrível, já que o esforço colocado na tentativa de nos seguramos na prancha nos faz recrutar fibras musculares que não costumamos fazer no dia a dia.  

Prova dos benefícios da surfoterapia podem ser vistos no fofo do Marcelo, de 11 anos, que conheci no sábado lá no Guarujá. Sua mãe contou para mim que conheceu o surf adaptado através da minha página no Face. Resolveu sair de São José do Rio Preto só para levar o filho, que tem paralisia cerebral, para surfar com o Taiu. Entre vários benefícios, o surf adaptado ajudou o pequeno a dormir melhor, diminuir os espasmos, ficar mais confiante e feliz.

Surfar é uma das coisas mais loucas e libertadoras que fiz na vida e ampliou muito minhas perspectivas. Nunca fui uma surfista, mas sempre fui uma apaixonada por água e nadar em ondas. Encontrar essa prancha me fez resgatar um prazer que é sublime. Nessas horas que você passa a entender de verdade o que dizem os surfistas: “quanto mais se rema, maiores são as chances de pegar as melhores ondas, tanto no surf quanto na vida”.

Para quem quiser conhecer o surf adaptado e contribuir com o projeto, dá uma olhada no site: http://bit.ly/1GUHdKf 

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