Depois de um papo com a escritora de Monólogos da vagina estamos prontas para envelhecer
Quando o assunto é vagina, a referência é a americana Eve Ensler (na foto). Com 61 anos e vitalidade de 20, ela é a autora da peça Monólogos da vagina (1996), fenômeno que começou na Broadway, foi traduzido para 48 idiomas e encenado em 140 países, inclusive no Brasil. Além de inúmeras outras peças e
livros, incluindo The Good Body (sem tradução para o português), Eve é ativista, mãe de um filho adotivo, avó e líder da V-Day, organização que criou há 16 anos para combater a violência contra a mulher. Ela sabe do que fala: na infância, foi vítima de estupro pelo próprio pai. Rodando o globo – de Cabul a Sarajevo, passando por Nova Délhi –, ela escuta histórias e dá vozes a mulheres que mal podem gritar. Numa deli
de Manhattan, tomamos um simples café da manhã e aprendi oceanos com ela. “Adoro a ideia de ser cidadã do mundo. Minha identidade está na minha vagina e no meu coração, em vez de estar em uma cidade”, diz Eve. A seguir, uma palinha da nossa conversa.
Monólogos da vagina expôs ao mundo as mais dramáticas questões femininas: amor, sexo, abandono, estupro e preconceito. Quais os achados de sua pesquisa para o livro The Good Body? Conversei com centenas de mulheres. O que achei mais curioso é o tempo que elas gastam tingindo o cabelo, fazendo dieta e consertando seus corpos a fim de torná-los bons – ou seja, magros, puros e limpos. Nos EUA, há clínicas para encolher a vagina! E quando as mulheres estão consertando, mudando ou mutilando seus corpos, elas estão tentando ser boas, tentando se comportar ou se encaixar de alguma forma. Normalmente essas atitudes significam não ocupar muito espaço, não ser muito intensa nem muito poderosa. As mulheres deveriam simplesmente amar seus corpos com suas formas grandes e redondas e a deliciosa maneira como foram feitos. O mundo ainda tem medo delas e de sua complexidade, ambiguidade e mistério.
O que mais a chocou em sua visita ao Brasil, país conhecido pela cirurgia plástica e pelo uso de botox? A facilidade como as pessoas fazem lipoaspiração, a quantidade de pessoas que o fazem e o quanto elas não precisam fazer. Eu não conseguia ver qualquer gordura em seus corpos, e elas estavam com lipoaspiração marcadas. Esse me parece um procedimento bastante violento e, ainda assim, as pessoas estão correndo para fazê-lo. O Brasil é um país de contradições. As pessoas são mais abertas, mais vivas, mais tangíveis, e ao mesmo tempo estão fazendo cirurgias plásticas como ninguém, têm uma obsessão por ser perfeitas, algo que chega ao extremo.
Como é lidar com o envelhecimento? Há nove anos, passei pela menopausa. No começo foi duro, não dava
para acreditar que o meu corpo estava passando por aquilo. Mas hoje estou amando a experiência. Há muito mais confiança, segurança e não preciso mais pedir desculpas por nada. Vivo a minha vida, no meu corpo como ele é. Sempre digo que envelhecer seria perfeito se não fosse o fim da vida. Mas o processo de envelhecimento em si é fantástico.
Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 17 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, do blog Só em Nova York, aqui no site da Tpm, e também do site www.taniamenai.com