por Flora Paul

Da Barbie ao George Bush, tudo vira poema para Denise Duhamel. Batemos um papo com a poeta

 

Que tema dá um bom poema? Para a escritora norte-americana Denise Duhamel, todos. Desde seu primeiro livro lançado, Heaven and Heck, em 1988, Denise já fez poesia sobre a felicidade, o corpo humano, a personagem Olívia Palito e o ex-presidente norte-americano George Bush.

Este último está em Ka-Ching!, lançado nos Estados Unidos no começo do ano, em uma coletânea com poemas escritos em versos de notas de dólar – o nome do livro tenta reproduzir o barulho de uma caixa registradora. Em Kinky, de 1997, fez uma obra inteira dedicada à mais famosa das bonecas, a Barbie. Em tradução livre, o poema “Buddhist Barbie” (ou “Barbie budista”) conta: “No século V a.C./ um filósofo indiano/ Gautama ensinava 'Tudo é o vazio'/ E 'não existe ego'/ No século XX d.C./ Barbie concorda, mas fica pensando como um homem/ Tão barrigudo poderia posar/ Sorrindo sem camisa”.

“Sou bem cabeça aberta quanto à ideia de escrever sobre qualquer coisa”, disse ao site da Tpm, por e-mail. Mas não importa sobre o que escreve em seus poemas: sempre faz jogos de palavras, críticas ácidas e nunca deixa o feminismo de lado. Conversamos com Denise Duhamel sobre como se decide sobre o que escrever, política, nacionalidade e o estereótipo feminista.

Você já escreveu sobre bonecas Barbie, felicidade, economia. Como você decide sobre o que vai escrever? É um momento de inspiração?
Eu escrevo sobre as coisas as quais estou obcecada, por que fico pensando sobre. Eu não faço muito por inspiração. Na verdade, eu sento no computador, na frente do meu notebook e escrevo, quase como se fosse um “trabalho”. Às vezes eu escrevo várias páginas entendiantes antes de conseguir o que eu considero os poemas.

Existe alguma coisa sobre a qual você nunca escreveria?
Não. Sou bem cabeça aberta quanto à ideia de escrever sobre qualquer coisa. Eu posso até escolher não publicar alguns trabalhos que escrevi – se acho que pode magoar alguém de verdade – mas sempre vou escrever.

Ka-Ching!, seu livro mais recente, fala sobre dinheiro e economia. Você escreveu durante a crise econômica do último ano?
Na verdade escrevi o livro antes da reviravolta econômica, então suponho que já estivesse no zeitgeist, sentindo o espírito da coisa e me preocupando com a economia, ainda que não saiba muita coisa sobre o mercado.

E mesmo escrevendo sobre tema diversificados, o feminismo sempre aparece em seus poemas. Como você se envolveu com o feminismo?
Quando estava na sexta séria, a música “I am Woman”, de Helen Reddy, era muito popular. Então, para mim, o feminismo era parte da cultura e também da cultura pop. Eu tinha uma professora feminista que fazia que os meninos e as meninas fizessem trabalhos em grupos, essa foi a primeira vez que não éramos divididos. Antes sempre tinha um lado para as meninas e outro para os meninos. Achava que todo mundo era feminista, mas aprendi rapidamente que esse não era bem o caso.

Você já sentiu que foi estereotipada por ser uma escritora feminista?
Sim. As feministas costumam ser vistas como pessoas histéricas ou difíceis. Acho que as pessoas às vezes se surpreendem pelo fato de que tenho humor.

A ideia de uma “mulher moderna” é constantemente reforçada pela mídia. Você acha que o mundo se tornou um pouco mais feminista? Ou é tudo uma farsa?
Acho que no momento estamos vendo certa reação contra o feminismo. Aquela música da Pink “Stupid Girls” é um dos meus comentários favoritos sobre isso. Me parece que a geração anterior à minha lutou pelos direitos das mulheres muito bem, mas parece que existe um distanciamento de algumas mulheres da geração seguinte à minha. Há muitos feministas jovens, claro, mas não parece haver tanta discussão sobre o assunto quanto deveria.

Você acha que as geração mais novas entendem o que é feminismo?
Sim. Eu acho que a geração atual entende, sim, o que é o feminismo quando veem desigualdade. Por exemplo, minhas sobrinhas nunca foram muito feministas até elas começarem a praticar esportes na escola e perceberem que o time masculino de corrida tinha um treinador e uniformes, mas o das meninas não. Foi como se lâmpadas tivessem se acendido na cabeça delas.

Li que você não se sente, necessariamente, identificada com a questão da nacionalidade.
Bom, eu sou da América do Norte e com certeza isso me influencia, mas eu acho que minhas afinidades são maiores com pessoas do que com países. Acho que, para o planeta sobreviver, precisamos parar de pensar sobre países e fronteiras e começar a pensar em humanos – muitos sofrem perigo.

E o que você acha da política em seu país? Você sentiu alguma mudança, de fato?
Eu apoiei a candidatura do Obama e estou genuinamente feliz pelo fato de ele ter ganhado. Eu senti mudanças no fato de que, pelo menos, parece haver mais discussões sobre as coisas que acontecem – como planos de saúde, tortura e educação –, o que era silenciado antes de ele ser eleito. As coisas irão mudar de fato por suas políticas? Eu espero que sim.

Você já recebeu alguma reação a algum poema seu que te comoveu?
Sim, já vi pessoas chorarem quando li certos poemas e essas lágrimas me surpreenderam.

Como você se tornou escritora? Quando começou a se interessar por poesia?
Eu comecei a escrever quando tinha 10 anos. Comecei a escrever poesia na faculdade.

Sua família apoiou sua decisão de se tornar escritora?
Na verdade não. Eles tinham medo de que eu não conseguisse me sustentar. Eles estavam parcialmente certos! Mas eu trabalho como professora e eu gosto desse trabalho.

E como resolveu ser professora?
Comecei ensinado dissertação enquanto estava me graduando, para conseguir uma grana extra. Eu gostava bastante de estar em uma sala de aula e resolvi que seria meu emprego.

Você ensina as matérias de literatura e escrita criativa. Você é escritora e ensina outros a escrever. O que você pensa sobre isso?
Existe uma grande discussão sobre se escrever é algo que pode ser ensinado. Eu acho que ou a pessoa é um escritor ou não é – assim como alguém é pintor ou ator ou não. Mas quem tem esse dom pode ser ajudado para desenvolvê-lo melhor. E, aqueles que não o têm, podem aprender muito com a escrita. Eu posso nunca ir a uma Olimpíada, mas ainda assim gosto de nadar.

Como é seu dia a dia?
Eu acordo e vou caminhar, depois tomo café da manhã e escrevo. E dou aulas à tarde e à noite.

Quando você era criança, costumava brincar com bonecas Barbie? Ou preferia a Olívia Palito? Qual era seu personagem favorito?
Sim, eu tinha uma Barbie quando era pequena. O cabelo dela mudava de cor. Achava isso fascinante. Eu não tinha nada da Olívia Palito, ela era a favorita da Maureen Seaton [com quem Denise escreveu Oyl, coletânea sobre a personagem, em 2000]. Trabalhei com ela para os poemas sobre a Olívia Palito e ela me educou bastante a respeito. Eu também sou bastante fã da Betty Boop – e a mesma pessoa fazia a voz das duas.

Qual é seu autor favorito?
Minha escritora favorita é a poeta americana Sharon Olds.

Você fala muito sobre canções. A música está, de alguma forma, em seu trabalho?

Eu amo ouvir música. Não consigo ouvir enquanto escrevo, porque as letras me distraem, mas ouço no carro, quando me visto etc. Minhas cantoras favoritas atualmente são Pink e Beyoncé. Eu adoro música pop. Cresci amando de Lulu a grupos femininos como The Supremes e The Ronettes.

O que vem a sua mente quando pesa sobre o Brasil? Você já visitou o país?
A primeira coisa que vem à minha mente quando penso no Brasil é a Astrud Gilberto. Eu amo as músicas dela, especialmente “Come Softly to Me”. Eu nunca visitei o Brasil, mas espero conhecê-lo um dia – e com certeza escreveria sobre isso!

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