Segundo volume do guia Como Viver em São Paulo sem Carro apresenta dados inéditos e novos personagens
Todo mundo que enfrenta o trânsito de São Paulo diariamente já sabe o quanto ele é prejudicial à qualidade de vida. Uma pesquisa do Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas) revela que 58% dos paulistanos acreditam que as horas no congestionamento são causa de infelicidade. Este e outros dados sobre como lidamos com transporte na cidade estão na segunda edição do guia Como Viver em São Paulo Sem Carro, idealizado por Alexandre Lafer e editado por Leão Serva, que chega as livrarias no final de agosto.
Além da infelicidade no trânsito, o livro mostra ainda que parte da população, principalmente a mais jovem, está deixando de usar automóveis como principal meio de transporte. Nos últimos dois anos, cerca de 57% dos jovens da capital deixaram de sonhar com o primeiro carro, o que pode mudar a situação do trafego nas próximas gerações. A pesquisa revela também que, muitas vezes, vender o carro e andar de táxi pode ser mais vantajoso para ganhar tempo e economizar dinheiro.
Com ilustrações de Eva Uviedo, a segunda edição do guia conta a história de 15 novos personagens que optaram por deixar os carros de lado. Entre eles, a atriz Nathalia Rodrigues e o designer Humberto Campana. Leão Serva, coautor do guia, conversou com a Trip e atesta que, no futuro, vamos sim usar menos carro. “Não por benemerência, mas por necessidade”.
Trip - 38% dos paulistanos optam por usar o carro só nos fins de semana. Isso significa que está mais fácil viver em São Paulo sem carro?
Leão Serva - Acho que revela sim que está mais fácil viver em São Paulo sem carro. Embora ainda tenham problemas, o metrô melhorou muito nos últimos tempos, os ônibus também. Com ciclovias, ciclofaixas, etc, as bicicletas viraram uma realidade. E ficou mais difícil viver com carro. O número de novos carros cresce todos os dias, o governo mantém congelada a gasolina há dez anos, quem tem carro é incentivado a usá-lo e os congestionamentos crescem em todo o país. As pessoas parecem ter se dado conta de algo que dizíamos na primeira edição do guia, o trânsito vai sempre crescer, a solução é individual.
Mas o uso da bicicleta ainda é difícil na cidade, apesar do respeito pelo ciclista ter aumentado. Estamos caminhando para melhoria neste sentido?
Sem dúvida! O respeito ao ciclista cresceu, a educação dos ciclistas também está melhorando, há até instituições como o Bike Anjo que ensinam as pessoas a melhorarem sua segurança usando a bicicleta. As ciclovias também cresceram, de zero para algo já visível - que ainda assim é pouco - com pelo menos duas delas muito úteis ligando o centro a regiões muito populosas, como as zonas Leste e Sul. E as ciclofaixas, embora ligadas ao lazer, servem como incentivo didático para os dois lados, os ciclistas e os motoristas.
O número de usuários de trem e metrô aumentou, mas a qualidade dos serviços ainda é precária. Como fazer com que a população abandone o carro sem termos alternativas que facilitem o dia a dia?
O número de usuários de trem e metrô em São Paulo cresceu nos últimos três anos o correspondente a todo o universo das pessoas transportadas por trem e metrô no Rio de Janeiro. É uma cifra impressionante. 1,2 milhão de pessoas se somaram aos usuários que já existiam no sistema de trilhos. Isso é prova de que o sistema não é tão ruim quanto dizem e que o povo não é bobo. Ele adotou o transporte público sobre trilhos porque as vantagens superam as desvantagens. A tão falada lotação existe, de fato, mas ela é concentrada em certos horários e trechos. E ela não é tão maior do que a que se vê em horários e trechos daqueles sistemas que o brasileiro costuma admirar e descrever como "de primeiro mundo". O que acontece é que você não pode dimensionar o sistema pelo horário de pico. A rigor isso é jogar dinheiro fora, dinheiro de impostos. Ao mesmo tempo, há muito a melhorar, de fato, mas devemos saber que quando o sistema estiver excelente, ainda assim milhões de pessoas estarão paradas dentro de carros em congestionamento, porque isso é uma característica cultural.
Era cultural também ter o esperado primeiro carro, mas agora vemos que jovens brasileiros estão optando por não ter carro. Isso prevê uma mudança no tráfego das próximas gerações?
Sim, essas curvas de crescimento indicam para pontos de equilíbrio. A população de São Paulo está estável há vários anos, a curva de demanda por novos carros tem um ponto de arrefecimento e o uso voraz também tende a diminuir. Nos Estados Unidos há uma inflexão no uso do carro nas novas gerações. Na Alemanha, há uma mudança muito grande na relação com o carro, para menos uso como meio de transporte constante para uma coisa mais eventual e uso mais intenso de transportes públicos. Isso deverá acontecer no Brasil também. Mas veja bem, ninguém o fará por benemerência, mas por necessidade. E uma das mais fortes influências para isso é exatamente o desconforto causado pelos congestionamentos.
Vai lá: Lançamento do livro “Como viver sem carro em São Paulo”
Quinta-feira, 29, a partir das 19h
Livraria da Vila - Alameda Lorena, 1731