Futebol versus romance

por Daniel S. Machado
Tpm #55

Por que nenhum homem, por mais apaixonado, troca uma rodada de cerveja com amigos, ou a pelada semanal, por uma noite de romance, vinho e cinema com o objeto de sua afeição?

“Oi, amor!”, ele diz ao atender o telefone, tentando abafar com a mão o barulho do bar. É a namorada.

“Tentei te ligar, deu caixa postal”, ela responde. “Não pegou meu recado?”

“Não chegou nada aqui. Também te liguei mais cedo” — o sujeito tenta se explicar, afasta a cadeira e muda de calçada —, “mas acabei encontrando uns amigos...”

A cena descrita faz parte do dia-a-dia de qualquer casal. Poderia acontecer comigo, com seu namorado, com um amigo — fiquemos com a última opção, para não comprometer ninguém. O fulano tem três alternativas para terminar sua frase e decidir o epílogo da noite de ambos. Mas não tem muito tempo. Pode, por exemplo, pôr na balança que não a encontra desde terça, que a ama e não quer magoá-la. E dizer algo como:

“Você não quer encontrar com a gente?”

Significa que ele está abrindo mão da competição com os amigos para ver quem consegue a maior pilha de bolachas de chope, e de ficar sabendo o que o sicrano aprontou no Guarujá no Carnaval passado. Mas que se dane, os olhos dela são muito mais interessantes do que aquele bando de marmanjos.

Ou o rapaz pode se safar por aqui:

“Até que enfim, onde você estava? Estou indo te encontrar!”

Dessa eu não tenho notícia, portanto desconfie se ouvi-la por aí: ou o cara está sendo cínico ou, pior, não tem amigos.

Um terceiro caminho para ele é lembrar que já se encontra naquele terreno nebuloso situado entre a terceira e a quinta dose de cachaça (Viu? Perdeu a conta...) e que é bom para a relação que cada um se divirta com seus próprios amigos. E partir para a saída mais honesta naquele momento, que, obviamente, é a que nosso personagem segue:

“Nos vemos amanhã?”

 A reação
Pois bem: já aconteceu comigo. Veja, tenho colecionado relacionamentos dos mais variados nessas minhas poucas décadas de vida. Destruí alguns, lutei por outros, sofri em vários. Ainda não me vejo gabaritado o suficiente para entender este ser curiosamente inexplicável que é a mulher (ouvi dizer que isso só ocorre entre os 90 anos e a morte, donde está cedo para pensar nisso). Mas guardo na memória cada um de meus affairs. E lembro bem das reações que observei no outrora sexo frágil nas vezes em que preferi estar só com o clube do Bolinha: uma série de palavrões, um humor dos diabos no dia seguinte ou um telefone desligado na cara (este último é o que mais funciona. Mas não diga que eu contei). 

A causa
Nem todos os casais funcionam dessa maneira, você deve estar pensando. Realmente, tenho amigos que passam grande parte do tempo se comunicando com apelidos no diminutivo que ninguém entende e que carregam para onde quer que a turma esteja — mesmo que seja numa pelada à base de cerveja e picanha. Acontece que grande parte dos homens, na qual me incluo, precisa vez ou outra despir o figurino que a masculinidade exige. É quando podemos deixar de bancar o galanteador, tirar a máscara de homem metido a interessante, esbarrar nas palavras falando bobagens (bota bobagem aí) e tropeçar na mesa ao lado.

Há quem discorde, mas existem coisas de que os homens precisam, e que não interessam às mulheres. Meu pai e meu avô assistiam a filmes do John Wayne, levavam o carro pra lavar e gostavam de consertar a torneira da pia. E vez ou outra batiam ponto em algum boteco. Eu, embora já tenha pregado muito quadro na parede e visto filmes de western, prefiro sentar à mesa com meus pares. Não se trata de uma maneira sem vergonha de pular a cerca (embora também haja exceções para essa regra), que fique claro, mas de abrir a guarda e deixar o resto do mundo um pouco de lado por uns instantes. Não encare como desculpas esfarrapadas as explicações de seu parceiro para não estar em alguns momentos de sua vida. Mas, caso decida acabar com o tal namoro, estamos aí...

Créditos

Imagem principal: Juliana Russo

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