Tati Bernardi: O feminismo é um caminho sem volta

por Redação

Desde que deixou a profissão de publicitária para se tornar escritora, ela fala sobre tudo – até as coisas mais íntimas –, mas também não tem medo de mudar de opinião

Desde que deixou a profissão de publicitária para se tornar escritora, Tati Bernardi virou mestre na arte da auto-exposição. Como personagem de suas próprias crônicas, por algumas vezes ela não conseguiu escapar da fúria de seus leitores, mas quando foi preciso, soube ouvir e evoluiu. Nunca deixou, no entanto, de usar o seu dia a dia e os que estão a sua volta como material para escrever. "De criança eu percebi que esse era o meu talento e que talvez fosse o único. Já perdi namorado, fiquei um tempo sem falar com a minha mãe, mas a verdade é que estou nem aí. Escrever me dá muito prazer e me conecta com o mundo, porque escrevo coisas reais". 

Quando não está evocando ternura e fúria com suas colunas, a ex-publicitária é roteirista de sucesso, com um currículo que inclui a franquia Meu Passado Me Condena (que rendeu dois filmes blockbuster com Fábio Porchat e Miá Mello, uma série de TV, uma peça e um livro), o programa Amor & Sexo e a novela Sangue Bom.

Em um papo sincero com o Trip FM, Tati ainda falou de gravidez, dinheiro, publicidade e psicanálise.

Trip. Quando você começou a entrar nesse lugar de olhar para dentro e se expor dessa forma?

Tati Bernardi. Eu gosto demais de me expor ao ridículo. Engraçado, minha escolha artística é ficar olhando para os meus furos e meus defeitos. Claramente eu faço isso com tudo: a maior parte do tempo é comigo, mas a tendência é de fazer com qualquer pessoa que eu me relacione. Tomo todo o cuidado do mundo para não expor nome, idade, cidade, mas existe sempre um pouco de tenção. Pessoas que vivem muito de pose, geralmente são pessoas que não conseguem estabelecer um contato comigo, mesmo que superficial. Percebo que ou a pessoa se desmonta e me conta uma coisa ridícula dela ou senta longe de mim. Isso é o que eu dou, então parece que a pessoa que estabelece um contato comigo precisa dar um pouco do defeito também. Eu venho de uma família que ama através do bullying. Acho que sobrevivi a esse ambiente e isso me fortaleceu. Muita gente vai dizer que é mentira, mas gosto quando alguém me critica. Quando a destruída é bonita, tenho até um certo fetiche.

O humor é uma demonstração de inteligência. Não tem um pouco disso, das pessoas ficarem incomodadas com a inteligência que você acaba demonstrando?Existe esse pavor de que riam da cara. Quando eu era uma estagiária de publicidade, lembro que fazia sucesso em encontros porque ficava batendo palma para a piada dos outros. A partir do momento em que fui tendo uma força, de rebater a piada, percebi que comecei a perder o jogo da conquista. É um tipo raro de homem o que aceita que uma mulher vá ficar a noite inteira fazendo piada porque o humor é um jogo de poder. Muito homem não aceita perder nesse jogo.

É uma coisa sabida de que o humorista tem um lado depressivo. Existe algo disso na sua personalidade? Eu tenho uma tendência a depressão que só descobri na gravidez. Sempre fui ansiosa e eufórica. Existem dois tipos de bipolaridade: a grave e a que é mais próxima da neurose. Eu não vou querer comprar um shopping inteiro, mas tenho um pouco desse exagero, deslumbramento pela vida. Sempre achei que era o oposto da depressão. Há dez anos eu faço tratamento para a ansiedade. Nunca fui a louca do remédio, sempre tomei um antidepressivo, mas em dose baixa. Quando eu fiquei grávida e parei com isso a gravidez me tirou dessa empolgação, me tirou da coisa cerebral e me trouxe para o corpo, o que foi muito diferente para mim. Fiquei muito deprimida, com muito sono, anêmica, sem querer tomar banho, comer. Entendi que na verdade eu sou uma pessoa deprimida. O humor com certeza é uma proteção para o tamanho do medo que eu tenho da minha tristeza. Me separei, estou vendo meus pais envelhecerem. Tenho lidado com alguns problemas pesadas da vida adulta e o tamanho da dor que eu posso sentir é gigantesco. É por isso que trabalho com humor, porque tenho medo da profundidade dessa dor que eu posso chegar.

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