Com duas clínicas e encontros em sex shops, My Body Back oferece apoio para mulher superar o trauma e voltar a curtir o sexo
A inglesa Pavan Amara, 28 anos, era apenas uma adolescente quando foi estuprada. Foi à delegacia, em Londres, fez exame de corpo de delito e teve justiça feita: prisão perpétua para os algozes. Mas, assim que o processo acabou e os advogados passaram a outros casos, Pavan se viu sozinha com a sua história. “Foi a minha sentença vitalícia”, diz ela. O fardo era o próprio corpo, que a jovem não aceitava mais. E a ideia de fazer exames médicos periódicos a paralisou – não queria ser tocada por estranhos.
Nos grupos de ajuda que passou a frequentar, a jovem descobriu não ser a única incapaz de ações rotineiras. A vida sexual de todas passava por problemas e algumas já contavam décadas sem ir ao médico. Em 2015, ela fundou a organização My Body Back para ajudar vítimas a retomar o poder e o prazer com seus corpos. O primeiro serviço foi o Café V, encontro em um sex shop em que psicólogas ouvem dificuldades e dão conselhos práticos sobre sexualidade. Há dicas para resgatar a sensação da pele e outras mais avançadas, de masturbação.
Em agosto passado, a ONG abriu uma clínica ginecológica. “Aqui, é a mulher que diz como a equipe deve agir.” Neste mês, o time inaugura a primeira clínica do mundo dedicada a grávidas sobreviventes de estupro. “Muitas mulheres pulam o pré-natal porque não querem ser tocadas. Outras têm flashbacks da violência na hora do parto, quando o controle do corpo escapa e há estranhos à sua volta. O trauma impede que criem laços com seus bebês, e isso é muito injusto”, explica Pavan.
Em um ano de trabalho, seus resultados pessoais e os das outras mulheres a deixam confiante. “Hoje digo com toda certeza: com o tempo é possível, sim, voltar a ter prazer”, garante.
Vai lá: mybodybackproject.com