Nunca conheci quem tivesse sido tão feliz como nas redes sociais

por Nina Lemos

Chega! Cansei! Eu tenho inveja de mim no Instagram. A minha vida não é tão boa quanto parece lá! O que estamos querendo provar? Para quem?

"Sabe o que me dá mais ódio? Eu tô aqui, acabada e ele está super feliz". A minha amiga tem a clássica questão pós pé na bunda. "Eu estou sofrendo, ele não". "Mas você não sabe se ele está feliz!", eu digo. E ela responde: "Eu sei sim! Eu vi no Facebook." Muitos risos. "Mas quem entrar agora no seu Facebook vai achar que você está super feliz!!!", eu digo. Ela para e pensa. E concorda.

Desde que levou um pé na bunda de um cafajeste bem odioso, a amiga parece ser a pessoa mais feliz de toda a internet mundial. São fotos tomando champanhe na praia, uma vida cercada de glamour onde ela está sempre rindo. Ok, minha amiga está querendo mostrar para o mundo que está feliz. Mas analista de botequim que sou, acho que, mais que isso, ela está querendo é provar para si mesma o quanto ela está super feliz. "Não preciso desse idiota, olha como eu estou ótima", ela deve falar para si mesma enquanto conta os likes. E como eu sei que ela faz isso? Sei porque sou igual a ela, assim como você também deve ser.

Acho que foi a Rita Wainer ou a Jô que disse uma vez que tinha inveja de si mesma no Instagram. Pois eu também tenho inveja de mim! Nossa, eu sou super feliz no Instagram!  Só nesse fim de semana, coloquei uma foto da minha enteada alemã maravilhosa, uma foto minha andando de pedalinho com ela e o irmão. Uma vida praticamente margarina alemã. Mas pena que não é realidade. Pena que acordei angustiada todos os dias da semana e na foto do pedalinho estava com medo de ter um ataque de pânico no meio do rio com duas crianças que falam alemão e com quem me comunico praticamente por gestos.

Eu queria ser feliz como eu sou no Instagram.

Eu queria ter certeza, como eu tenho no Facebook, sobre as minhas posições políticas.

E no Twitter, bem, no Twitter eu não sou tão feliz nem certa e é por isso que de longe essa ganha como rede social de mi corazón.

E quanto mais eu me sinto angustiada (quem nunca?), mais eu entro no Instagram e vejo a foto das pessoas super felizes. E mais angustiada eu fico. Por mais que eu saiba que aquela felicidade é de mentira.

Outro dia uma editora de moda que faz muito sucesso no Instagram escreveu em uma legenda: "até que estou bem depois de tomar um stillnox e um rivotril." (!!!!! Gente!) Mas ufa, ela assumiu. Até então, seus seguidores talvez pudessem achar que ela era uma super heroína que nunca tinha levado porrada (nem conhecido quem tivesse tomado). Ela viaja de um lado para o outro, acorda cedo, mas tem uma decoração linda na mesa, viaja de país em país. Trabalha loucamente. Mas ela sempre está disposta e apaixonada pelo que faz.

Escuta! Quanta mentira! Nenhuma de nós está apaixonada o tempo todo pelo que faz. Eu, hoje, escrevi esse texto com muito esforço. Eu, hoje, estou achando que eu escrevo mal e que perdi o jeito para a coisa. Quem nunca? Quem nunca muitas vezes?

Quem estamos querendo enganar? A gente. Mas tem vezes, como agora, em que não dá. Eu queria muito voltar no tempo quando as redes sociais não existiam só para lembrar como era… Às vezes eu acho que, com todas as vantagens da vida em rede… talvez a gente se sentisse melhor. Sério. "Estou farto de semi deuses. Onde é que há gente nesse mundo?", grita o Fernando Pessoa lá do túmulo.

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