Mulher das letras

por Lia Hama
Tpm #144

A escritora Graciela Mochkofsky fala sobre machismo, política e crise no jornalismo

Jornalista investigativa que trabalhou nos diários Página/12 La Nación , autora de seis livros, a argentina Graciela Mochkofsky, 44 anos, faz parte do seleto grupo de sete mulheres – num total de 44 autores – convidadas a participar da Festa Literária Internacional de Paraty deste ano, entre 30 de julho e 3 de agosto. Na feira, ela divide a mesa Narradores do Poder com o colunista do The New York Times David Carr, e lança o e-book Estação terminal – Viajar e morrer como animais (e-galáxia), sobre um desastre de trem que comoveu seu país. A seguir, ela fala à Tpm .

É mais difícil para uma mulher ter sucesso na carreira literária?

Apesar de as mulheres terem ganhado poder nas últimas décadas, ainda há dificuldades. Em muitas profissões, elas continuam ganhando menos do que os homens ocupando os mesmos cargos. São elas que ficam grávidas e amamentam, o que dificulta a competição. Decidi ter meu primeiro filho depois dos 40 anos, quando já estava num ponto sólido da minha carreira, e publiquei dois livros após a gravidez. Meu marido é feminista, então isso me ajuda muito.

Você trabalhou nos principais jornais argentinos e estudou com a elite do jornalismo mundial em Harvard. Como vê a crise do setor?

Este é um momento fascinante para o jornalismo, em que tanta coisa está mudando, tantas regras são revistas e não há uma visão clara sobre o futuro. Ao mesmo tempo, nunca houve tanta possibilidade de criar sua própria mídia sem o apoio de um grande capitalista. É uma época assustadora, mas também maravilhosa.

"As mulheres continuam ganhando menos do que os homens. Decidi ter meu primeiro filho depois dos 40 anos, quando estava num ponto sólido da carreira"

É possível fazer bom jornalismo na Argentina hoje?

Na mídia tradicional é difícil. A cena está profundamente polarizada entre os que são contra ou a favor do governo, e as condições de trabalho são ruins. Os bons jornalistas estão infelizes, mas espero que algo novo saia disso tudo – novas experiências de mídia mais independentes e mais interessantes. Ainda há lugares para praticar bom jornalismo, como os livros, que se tornaram o meu refúgio, e a internet.

Como foi sua experiência de jornalismo na internet?

Eu e meu marido, Gabriel Pasquini, que também é escritor, criamos o El Puercoespín , uma revista digital sobre política, cultura e jornalismo, quatro anos atrás, mas tivemos que suspender quando começou a tomar muito tempo das nossas vidas e não conseguimos o capital necessário para manter sua qualidade. Por ora, está suspenso.

Em que projetos está trabalhando agora?

Estou terminando uma bolsa na Biblioteca Pública de Nova York, onde desenvolvo o projeto de um novo livro. Acabei de me tornar pesquisadora visitante da New York University, então eu e minha família vamos ficar mais um ano na cidade. Também escrevo para diversas revistas, incluindo a brasileira Piauí.

Vai lá: Estação terminal – Viajar e morrer como animais , e-galáxia, R$ 9,90

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