Moda e exclusão social

por Nina Lemos

Do Recife, Nina Lemos conta que a melhor pergunta sobre seu romance partiu de um garoto

"Você acha que a moda é uma forma de exclusão social?". A pergunta foi feita por um garoto de uns 15 anos que fazia um trabalho para o colégio. Sim, "estou em Recife", pensei. E como diz um amigo meu, as pessoas aqui são alfabetizadas com Marx. Bem, vim participar da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, o que é demais. Porque quando alguém reconhece que eu sou escritora isso me deixa muuuuuito feliz. Ontem rolou um bate papo sobre o meu romance A Ditadura da Moda. E hoje faço parte de uma mesa com um nome incrível: "Quem tem medo de mulher escritora?". Eu acho que todo mundo, não? Se as pessoas têm medo de mulher, o que dizer de mulher que escreve (mas amanhã eu conto como foi).

Vocês devem estar se perguntando: mas o que ela respondeu para o menino de 15 anos? Confesso que fiquei muda. Ele fez a pergunta mais inteligente desde que eu lancei o livro (e fui entrevistada por jorn alistas dos 4 cantos do Brasil que só queriam saber se a minha personagem, a Ludimila, era eu mesma. E uma menina chegou a fazer uma reportagem onde descrevia com detalhes a roupa que eu estava usando e a cor das minhas unhas e, claro, não falava do livro).

Eu disse para o garoto que a moda, é, claro, uma forma de exclusão social, sim. E que eu nunca tinha pensado nisso. Mas que a moda trabalhava principalmente com esse princícipo: "quem não tem dinheiro para ter a roupa tal está fora. Quem não é magro está fora".
Mas eu queria que o meu pequeno marxista não pegasse bode da moda. Porque moda é legal pra caramba. Então, expliquei para ele que usar uma roupa como forma de expressão é uma maneira de se incluir.

Se está sendo legal a Bienal de Pernambuco? Alguém tem dúvida? Até o Pedro Juan Gutierres já passou por aqui. E sábado chegam Xico Sá e Marcelino Freire. Mas eu já terei ido embora. Amanhã conto mais. Agora, praia (antes dos arrecifes, por causa dos tubarões).

 

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