por Cacília Amado
Tpm #95

Cecília Amado, neta de Jorge Amado, filmou o livro de sua adolescência, Capitães da Areia

A cineasta Cecília Amado, neta de Jorge Amado, filmou o livro de sua adolescência, Capitães da Areia.
A estreia acontece no segundo semestre. A seguir, detalhes da filmagem e dicas de bares, restaurantes e até de uma borracharia em Salvador, a cidade dos capitães

 

 

Lágrimas molham as últimas páginas do livro Capitães da Areia. Tenho 14 anos e vivo com meus pais em Paris, onde curso um segundo grau com especialização em teatro. Como para todos os adolescentes da minha idade, a pergunta que ecoa aos quatro ventos é: “O que você quer ser quando crescer?”.

Não poderia imaginar que 20 anos depois teria me tornado diretora de cinema (não sem antes ter ralado muito como assistente) e levaria às telas de todo o país o livro da minha juventude, Capitães da Areia. O que não imaginava mesmo é que conheceria o herói Pedro Bala, menino de coração bandido e alma libertária pelo qual me apaixonei desde as primeiras páginas do livro. Quantas meninas também se apaixonaram por ele dentre os 5 milhões de leitores do romance? Não sei. Mas, se você nunca leu o livro, não se preocupe: em breve será possível conhecer Pedro Bala e todo seu bando, em carne e osso... e alma.

Fizemos um filme de época para fugir dos clichês de violência que vemos nos dias de hoje. Nada de tiroteios e de tráfico de drogas. Com uma linguagem bem contemporânea e embalados pelas músicas de Carlinhos Brown, mergulhamos nas descobertas da adolescência, tema tão universal, mas que nas ruas ganha forma de drama. Bandidos ou crianças? Liberdade ou abandono? Depois de entrar na sala escura e ver os capitães correndo na areia branca, talvez você possa responder.

Novos baianos
Montar o elenco foi um dos maiores desafios. Queríamos trabalhar com adolescentes mesmo, entre 12 e 18 anos, baianos na ginga e na voz. Optamos por procurar “não atores”, meninos de comunidades que se aproximassem ao máximo da realidade dos personagens.

Diversos diretores já se lançaram nessa empreitada, alguns com grande êxito como Fernando Meirelles, no impecável Cidade de Deus. Mas nossa responsabilidade era grande: não queríamos lançar meninos pro mundo, sacudir suas vidas e depois sair fora. Pensávamos em quem acompanharia o dia a dia desses jovens depois de uma experiência tão impactante. E nessa busca fizemos parceria com mais de 20 ONGs em atividade na Bahia.

Qual seu maior sonho? De que você tem medo? Essas foram as primeiras perguntas de um longo período de testes com mais de mil meninos, seguido de quatro meses de oficinas. Virei mãe de 12 adolescentes ao mesmo tempo: foi muito ensaio, capoeira e roda de samba. Muito suor, lágrimas e música alta para recuperar a energia no meio da madrugada e continuar filmando.

Hoje posso dizer que a experiência de trabalhar com adolescentes é maravilhosa. Uma nostalgia boa e ao mesmo tempo uma fonte da juventude, revigorante. Eles são o futuro!

 

Pegadas na areia

Os capitães da areia eram os donos da “cidade da Bahia”, como se usava chamar Salvador. Seguindo seus passos na procura de locações para o filme chegamos a vários “points” fora do roteiro turístico tradicional.

Abaixo, uma seleção de bares, restaurantes e até uma borracharia.

Plataforma e Ribeira: foi tomando um sorvete de umbu na Sorveteria da Ribeira, a mais tradicional de Salvador, que descobri a locação perfeita para o trapiche, o grande armazém abandonado que abrigava os nossos heróis. Basta pegar uma barca logo em frente à sorveteria e, em 10 minutos, desembarcar no bairro de Plataforma, bem ao lado da locação. De quebra experimente o Boca da Galinha, o mais popular restaurante da moda de Salvador.

Santo Antônio do além Carmo: se já rodou todo o Pelourinho e quer novidade, vale esticar o caminho para o bairro do Santo Antônio, com as mais charmosas pousadas e barzinhos pela rua. O restaurante Cruz do Pacoal, no largo de mesmo nome, reserva uma vista maravilhosa sobre a baía de Todos-os-Santos e a cervejinha no pôr do sol é imperdível.

Rio Vermelho: o bairro onde filmamos a tradicional festa de Iemanjá é conhecido pela boemia. Poderíamos fazer todo um guia com as dicas do local, mas dois lugares bem simples se destacam: o bar Póstudo, que como o nome já diz é o melhor fim de noite da cidade, e a Borracharia, para aquelas noites que não têm fim. Lá, durante o dia, funciona uma borracharia de verdade, mas nas noites de quarta e sexta vira boate onde a turma descolada se espreme para dançar.

Vai lá: Sorveteria da Ribeira
– pça. General Osório, 87, (71) 3316-5451. Boca da Galinha – r. da Estação, 58 A, (71) 3398-1232. Cruz do Pascoal – r. Joaquim Távora, 2, (71) 3243-2285. Restaurante Póstudo – r. João Gomes, 87, (71) 3334-0484. Borracharia – r. Conselheiro Pedro Luís, 101 A, (71) 9142-0456

 

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