Meu dia de Pantera

por Nina Lemos
Tpm #90

Nina Lemos, que passou toda a infância brincando de As Panteras, testa uma caneta espiã

 

 

Como toda boa criança nascida nos anos 70, eu brincava de As Panteras. Eu era a Kelly e fiquei muito triste com a morte da Gil, também conhecida como Farrah Fawcett. Deve ser por isso que me empolguei tanto quando comecei a receber e-mails que anunciavam uma tal caneta espiã. Mais que isso, a caneta, que grava e filma, começou a me perseguir. Era só eu entrar em qualquer site para ver um anúncio “dela”.

Precisava ter uma. Para quê? Ora, para brincar de As Panteras, é claro! O mesmo sentimento que me fez, no início dos anos 90, ir com a minha parceira Jô Hallack em busca de uma “lanterna de espionagem”, que prometia o milagre de permitir que a gente ouvisse conversas a distância. Chegamos à loja e, morrendo de vergonha, ouvimos o vendedor dizer que o tal objeto de desejo tinha sido proibido pela polícia.

Mas agora, em tempos tecnológicos e de invasão de privacidade, a caneta espiã é liberada e pode ser comprada por R$ 399,90. Com a minha nas mãos, saí para um test drive. Levei a caneta para o lançamento do livro da Costanza Pascolato, em São Paulo; para uma mesa animada em um restaurante do Rio; e, finalmente, para uma noitada de rock no paulistano Studio SP. O problema é que eu me empolgava tanto com minha “maravilha” que começava a mostrar para as pessoas e a gritar bem alto: “Olha, eu tenho uma caneta espiã!”. Seria uma péssima participante de As Panteras.

Ao contrário do empresário, militante e colunista da Trip Alexandre Youssef. Ele, quando viu “minha caneta”, em vez de ficar apontando para as pessoas na maior cara de pau (como eu vinha fazendo desde então), a colocou pendurada na jaqueta discretamente, tipo um profissional. E ainda soltou esta: “No dia em que eu for deputado federal, vou ter uma caneta como esta para fazer um reality show da política. Vai ser muito prático para entrar nas reuniões de CPI e filmar todos os acordos podres que as pessoas estão fazendo”. Gênio. Prometi dar a minha caneta para ele no dia em que for eleito.

Espionagem e psicologia
E comecei a achar que os homens são mais criativos quando o assunto é espionagem. Todas as mulheres que eu entrevistei queriam ter a caneta para espionar homens. “Eu usaria para ir ao banheiro dos homens e filmar o que eles falam”, disse uma amiga. “Eu queria ter uma para filmar o meu namorado e os namorados das minhas amigas fazendo alguma bobagem”, disse a atriz Cristina Rio Branco. Sim, mulher pensa muito em homem. Fiquei tão impressionada com isso, que larguei a minha espionagem e comecei a pensar em psicologia.

“O que você faria se você tivesse uma caneta destas?” Fiz a pergunta para o Daniel Belleza, da banda Daniel Beleza e os Corações em Fúria. “Ué, um videoclipe da minha banda, claro”, ele disse, sem hesitar. E ainda tentou roubar minha caneta para executar o tal projeto artístico. Meu amigo artista plástico Zed Nesti teve uma ideia ainda mais ousada: “Se eu tivesse uma caneta dessas, faria explorações ginecológicas nas mulheres”. Sim. Ponto para os homens. Eles assistiam a tantos filmes de espionagem que ficaram assim, criativos e bons de espionagem.

Quanto a mim, bem, devo dizer que os meus vídeos ficaram um lixo, apesar de eu ter ficado duas semanas com a caneta na bolsa. Tristemente, tive que concluir: daria uma péssima detetive. Desculpe, Kelly, mas acho que não aprendi a lição!

P.S. A caneta espiã é da Timevision e funciona de uma maneira simples para quem, ao contrário de mim, não é retardado. Uma camerazinha fica na frente, bem discretamente. Para acioná-la, você só precisa apertar a parte de cima da caneta. Quando aparece o amarelo, significa pausa. O azul é sinal de que está gravando. Mas fiz uma confusão danada com essas cores tão básicas. Ah, e, além de tudo, a caneta ainda escreve!

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