A atriz e jornalista Nataly Cabanas relata sua experiência em Bollywood
O longa O Sonho Bollywoodiano foi um sonho lúcido, cinema de guerrilha como se diz por aí. Independente e de baixo orçamento, é o meu primeiro filme como atriz e a estreia de Beatriz Seigner como diretora e roteirista. Na história, eu e mais duas atrizes brasileiras, interpretadas por Lorena Lobato e Paula Braun, viajamos à Índia decididas a entrar na indústria cinematográfica bollywoodiana.
Lembrar das filmagens é como olhar dentro daqueles caleidoscópios e alternar imagens de prazer estético com outras disformes. O calor ao descer no aeroporto de Chennai eu só imaginava existir perto de Mercúrio, e “Please horn!” – sugeria a traseira dos carros.
Giro o caleidoscópio de novo e entro na nossa “road trip”, onde estão guardadas as seguintes cenas: um gato correndo de uma ratazana, eu tirando um raio X do cóccix (caí de moto) e fazendo mímica indicando que preferia injeção no braço, a senhorinha que num movimento ninja de ancas se aboletou rapidamente na minha garupa durante uma cena, e eu ouvindo “corta!” ao introduzir a nova personagem ao plano.
O gran-churrasco-finale dos corpos nas fogueiras antes de serem lançados ao Ganges, a fumaça perfumada de sândalo e a fuligem que grudava na pele, as montanhas cobertas de neve que apareciam pouco a pouco na janela do avião – “São os Himalaias!”, me disse o Abhi (um dos assistentes-amigo-tradutor) e fiquei emocionada – “caramba, tô tão longe”, pensei. A macaquinha vedete que consegui segurar no colo depois de ser acossada por vários macacos-ladrões, já tão adaptados à civilização. A Paula Braun dizendo “é um tipo de espécie de coisa”; a Lorena Lobato cantando numa rádio local; a Bia carregando a pesadíssima Canon XL2 numa mochila, andando à nossa frente, com cara de sinapse. A chamada do jornal Times of India: “Latinas Love Chennai!”. Essas são algumas imagens do meu sonho bollywoodiano.
Vai lá: O Sonho Bollywoodiano está em cartaz nas principais capitais do país.