Mc Carol fala sobre seu novo 'proibidão'

por Bianka Vieira

Encontrar inspiração para ’Delação premiada’ não foi das tarefas mais difíceis. Nascida no Morro do Preventório, em Niterói, ela conhece a violência policial de perto

É fato que MC Carol não aparece nos trending topics se não for para deixar o seu recado bem claro. Na última semana, a internet parou para ouvir seu novo single, Delação Premiada, um trap funk sobre a violência policial.

Mesmo que não tenha a conotação sexual normalmente atribuída ao termo, o funk é considerado um "proibidião" por abordar a violência de forma explícita, e tende a gerar um certo receio nos MCs por conta da possível reação dos oficiais.

Amarildo [o pedreiro que desapareceu após ter sido detido por policiais militares na Favela da Rocinha, em 2013], o dançarino DG [morto durante uma ação policial da UPP Pavão-Pavãozinho, em abril de 2014] e tantos outros que tiveram suas vidas encurtadas pela fatalidade de um “engano” estão presentes nos versos da funkeira. Se para muitos esses nomes soam como objetos de notícias jornalísticas, para outros eles representam uma realidade bastante próxima. 

Pega de surpresa pela repercussão, ela bateu um papo com a Tpm para falar sobre Delação Premiada e a realidade de quem teme mais a força policial do que o tráfico que domina os morros cariocas.

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O que você está achando da repercussão desse seu novo som? Em menos de uma semana já está com mais de 300 mil views no Youtube… Essa música eu fiz com muito carinho e não esperava que fosse repercutir tanto. No começo eu estava com medo de não dar certo porque não é o tipo de funk que canto sempre, mas agora eu tô bem feliz com o resultado.

“Quando o rico vai preso basta colocar as mãos pra trás e há todo um tratamento especial, enquanto o pobre é espancado”
Mc Carol

Mas e aí, rola cantar Delação Premiada nos bailes? A letra é pesadíssima. É, eu também me arrepio. No começo, achava que não tinha nada a ver, que as pessoas não iam gostar, mas aí me falaram “pô, grava porque tá legal” e eu gravei. Apesar de não ser uma música muito feita pra dançar, quando toca todo mundo canta junto. Eu até estava pensando em lançar esse funk, deixar esquentar por um mês e só depois apresentar ao vivo, mas do jeito que tá andando acho que nos shows dessa semana eu já vou cantar.

E de quantos Amarildos e DGs você já ouviu falar que não foram parar na TV? De muitos. Tenho um amigo que, no ano passado, sofreu um acidente de moto e chegou ficou todo machucado, mancando e de muleta. A Polícia Militar diz que confundiu a muleta com uma arma e meteu dois tiros na barriga dele. Isso é muito, muito comum! Esse é só um exemplo mais próximo que posso te dar.

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Como você percebe a violência policial contra as mulheres? Eu só fui descobrir esses dias que só policial mulher pode abordar outra mulher, porque na periferia não tem diferença, não. Aqui a polícia não tem dó de homem, de mulher e nem de criança.

O que você acha das UPPs? É aquilo  que mostram na TV mesmo? Não moro mais no Preventório [em Niterói, Rio de Janeiro], mas estou praticamente todo dia por lá. Lá não tem UPP, mas a violência policial é a mesma. A diferença mesmo é que agora não tem mais baile funk. Se você não paga propina, eles não dão arrego e barram o baile - é uma das coisas que falo no começo da música.

Tem uma turma do “bandido bom é bandido morto” fazendo alguns comentários sobre a sua música. As pessoas acham que eu estou defendendo quem é bandido, traficante, mas não é isso. Eu falo da polícia, de como ela trata quem é rico e quem é pobre. Quando o rico vai preso basta colocar as mãos pra trás e  há um tratamento especial, enquanto o pobre é espancado.

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Por falar em delação premiada, o que você tá achando da situação política atual? Nem sei muito sobre política, prefiro não me envolver muito. No Brasil, quando você vai votar, você não tem como escolher entre os três melhores, você escolhe entre os três piores. É todo mundo muito corrupto. Se entra uma pessoa boa lá querendo fazer uma coisa boa, essa pessoa não pode, porque aqui é tudo na base da corrupção.

E como você vê a crise política e econômica afetando a vida na periferia? Pro pobre fica difícil porque falta emprego, falta comida e não sobra nem dinheiro pra pagar a conta de água. Pra quem é pobre é sempre mais foda.

Tem muita gente de classes sociais mais privilegiadas curtindo o seu trabalho.  Como você enxerga o fato da sua música estar chegando numa camada tão destoante da realidade cantada por você? Ah, eu gosto, acho bem legal. “Só quem é” sente na pele e no dia-a-dia o que eu falo nas minhas músicas, mas acho que eles entendem a mensagem.

O seu novo disco já está pronto? Ele vai ser todo neste estilo trap funk? Diria que um 70% já está pronto, mas ainda não tenho uma data de lançamento. Esse álbum vai ter mais trap que nem Delação Premiada, mas também vai ter outras batidas. Além disso, vou cantar sobre as coisas que eu vejo no dia-a-dia.

Créditos

Imagem principal: Divulgação/Fernando Schlaepfer

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