Livros para levar na mochila

por Natacha Cortêz

Jovens escritores indicam suas leituras favoritas pra levar na bagagem

Convidamos 5 jovens escritores para contar dos livros clássicos de suas viagens. Sugestões para levar na bagagem e devorar entre uma poltrona de ônibus e um
quarto de hotel

Daniel Galera, autor de Barba ensopada de sangue (Companhia das Letras; 2012) e Cordilheira (Companhia das Letras; 2008), que nos enviou 4 sugestões. Como a gente gostou muito de todas, vão todas aqui - "Uma vez eu li 'A queda' do Camus numa viagem de ônibus Porto Alegre-Campinas e foi legal, recomendo esse. Ou então recomendo ler a antologia de artigos do David Foster Wallace, 'Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo', que organizei e co-traduzi. Wallace tem coisas interessantes a dizer sobre o turismo, e o livro é engraçado e inteligente como um todo. Terceira sugestão: livro que faz pensar é bom pra viagem, porque tu pode ler um pouquinho, parar, olhar pela janela pensando, ler mais um pouquinho, olhar pro mar pensando etc, aproveitando que está trancado dentro de um veículo em movimento ou parado em algum lugar longe de casa sem nada pra fazer (é o que eu faço em viagens pelo menos, fico parado com uma forte sensação de não ter nada pra fazer). Lembro de ter feito isso com um volume de textos do filósofo chinês Chuang Tzu e com o excelente 'Verão' do Coetzee, entre muitos outros.

E por último: acredito que a pior coisa que se pode ler durante uma viagem é um livro de viagem, então de cara eu descartaria esses. Livros muito grandes são ruins de levar porque são pesados, melhor evitar. Os curtos são levinhos, mas terminam rápido e não merecem ser levados a não ser que a viagem seja muito curta, mas nesse caso nem vale a pena gastar tempo lendo, pois a viagem é curta e queremos aproveitar, e além disso levar vários livros curtos pesa tanto quanto levar um ou dois livros longos, de modo que convém não levar livros curtos também. Sendo assim, o ideal é não levar livro algum na viagem, e não ler nada. Na verdade, o ideal mesmo é nunca viajar, posto que é atividade children e superestimada de todos os pontos de vista. Recomendo mesmo é ficar sempre em casa lendo, mas aí seria outra pauta." 

Ana Guadalupe, autora de Relógio de pulso (7 Letras; 2011) - "Acho que poesia é muito legal pra levar em viagens pela possibilidade maior de ler em fragmentos - um poema aqui, outro ali, ler outro pra alguém numa espécie de mini-sarau [risos]. Um dos meus 'clássicos' de poesia pra levar na mochila é a antologia '26 Poetas Hoje'. Sempre me surpreendo novamente com a variedade de poetas reunidos nela, com humor e a beleza dos versos." 

Emílio Fraia, coautor de O verão do Chibo (Alfaguara; 2008) - "Um livro que me faz pensar em viagem é 'Putas assassinas', do chileno Roberto Bolaño. Porque eu o li viajando, porque são contos (e tenho a impressão de que contos são bons para serem lidos numa viagem) e porque tem personagens que vagam o tempo todo, de Santiago a Barcelona, de Paris a Bruxelas, da Cidade do México a Acapulco, da desconhecida Aguascalientes à obscura Guanajuato. Meu conto preferido se chama 'Vagabundo na França e na Bélgica'. Nele, um personagem passa cinco meses entre os dois países, andando, lendo. Conhece uma mulher. Não acontece nada, mas acontece tudo -- o que pode ser um resumo de toda viagem." 

Juliana Frank, autora de Quenga de Plástico (7 Letras; 2011), que indicou vários. Todos com muita imaginação e bom humor - "Carregar um livro nas férias não é essencial. É urgente. Principalmente nas férias de verão, ocasião oportuna a dar tudo errado. Se você for viajar para o campo com uma amiga tarjada em desânimo, leve as poesias do Bukowski. Se for fugir com homem casado, leve o maravilhoso-fora-da-lei, 'Pornopopéia', de Reinaldo Moraes. Se for em lua de mel, o 'Dicionário do Diabo', do fenomenal Ambrose Bierce. Se for para um lugar remoto pra esquecer um pé na bunda, 'Vida de Gato', da indomesticável Clara Averbuck. Se for para um lugar silencioso, ligue o 'Jogo da Amarelinha' no último volume, do supremo Julio Cortázar. Se for exibir aliança de recém casada, leve o nada apático 'Ao Teus Pés', Ana Cristina César (não esqueça de levar o marido). Se for para uma clínica de reabilitação, 'Lautreamont' e os 'Cantos de Maldoror'. Se for com uma nova e estridulante paixão, leve um caderno novo, uma caneta velha e rabisque isso. Em todos os casos, recomendo Fante, qualquer um dos seus títulos." 

Clara Averbuck, autora de Vida de Gato (Editora Planeta; 2004), e Máquina de Pinbal (Editora Conrad; 2002) - "Bueno, estou apaixonada por esse livro, é um dos melhores que li nos últimos anos. Chama 'Banditos Cósmicos', é do Allan Weisbecker e conta uma história que envolve traficantes, iates, aviões pilotados por malucões, física quântica e um cachorro chamado Galalau. O outro que indico é 'Quenga de Plástico', da minha amiga Juliana Frank, a melhor escritora jovem deste país. Putaria de alto-nível para pessoas de bom-gosto. E bom, para que eu também possa ter férias e levar livros indicados em minha bolsa, indico que comprem meu livro novo, 'Cidade Grande no Escuro', crônicas de cabeça e coração, além das reedições dos meus três primeiros pela Editora Sete Letras, com capas impecáveis da fantabulosa Eva Uviedo."

fechar