Bateu uma onda forte

por Carol Ito

Aos 27 anos, a tetracampeã mundial de bodyboard Isabela Sousa conta como enfrenta os “picos casca grossa” da modalidade

A bodyboarder Isabela Sousa venceu o campeonato Fronton King, nas Ilhas Canárias, com um backflip que rendeu nota 10 dos jurados, em outubro. “Os atletas que eu mais admiro no mundo me mandaram parabéns por mensagem”, conta ela. Não é para menos. Aos 27 anos, a cearense já conquistou quatro títulos mundiais e terminou o ano em segundo lugar no ranking do esporte, atrás da portuguesa Joana Schenker.

A atleta é apaixonada pela adrenalina do esporte ao qual se dedica desde a adolescência. Bela, como gosta de ser chamada, conta que sempre foi aquela criança “moleca” que gostava de praticar vários esportes, como futebol, natação e karatê. Mas, quando ela conheceu o bodyboard, a história mudou: “A namorada do meu irmão pegava onda e me deu uma prancha de presente. Me apaixonei e esqueci de todos os outros esportes”.

Não seria exagero dizer que Bela é obcecada pela modalidade: ”Eu durmo, escuto música pensando nisso, vejo uma árvore na rua e acho que é um tubo, vejo um muro e finjo que é a parede de uma onda. Sempre fui 100% mar”, brinca a bodyboarder. Enquanto os pais trabalhavam em um restaurante, em Icaraí (CE), ela se aventurava nas primeiras ondas, ainda na infância. O treinamento profissional começou aos 17 anos, quando passou a ter um treinador. 

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Atualmente, a atleta deu uma pausa na faculdade de publicidade e propaganda para morar em Portugal, onde mantém uma rotina intensa de treinos na água e preparação física. No treinamento de bodyboard, o mais importante é fortalecer a região do core (que vai do abdômen até o quadril), uma vez que durante uma manobra as únicas partes do corpo que tocam a prancha são mãos e umbigo. “Quando eu surfo e o core não tá rígido, é como seu eu tomasse uma paulada. Meu treino tem muito abdominal e não é para ter barriga tanquinho, é força e resistência”.

Mulheres que manobram forte

“É um esporte que tinha tudo para ser grande, mas não tem a dimensão que merece”, afirma Bela, uma das poucas a se dedicar exclusivamente ao bodyboard. Falta reconhecimento e patrocínio, mas ela acredita que a modalidade vem conquistando mais credibilidade, especialmente, por conta da atuação feminina. Sua grande referência é Neymara Carvalho, do Espírito Santo, pentacampeã mundial de bodyboard, que havia se aposentado em 2013, mas voltou às competições este ano, aos 38, com disposição para o hexa. 

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Mesmo com os títulos, Bela observa que o universo dos esportes radicais, como um todo, ainda é predominantemente masculino. “Pensar no bodyboard feminino com o mesmo espaço que o masculino ainda é utópico. As meninas eram vistas só como as bonitinhas de biquíni, uma coisa meio machista”, comenta.

Porém, elas não ficam atrás quando o assunto é encarar os "picos casca grossa” que a modalidade exige: “Em comparação com outros esportes de mar, a gente manobra em onda perigosa e se quebra muito mais. A gente gosta de onda triângulo, fechadeira, pesada". Ela se orgulha de que hoje existe uma "leva de mulheres que tão botando pra baixo, manobrando forte", como costumam dizer no meio.

A bodyboarder ainda revela a criatividade em um canal no YouTube chamado Onda Bela, produzido por ela, do roteiro à edição. Os vídeos mostram manobras, filmagens dentro d’água e viagens em busca dos melhores picos para surfar.

Créditos

Imagem principal: Té Pinheiro

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