Bela Gil foi ao Pará estimular o uso da farinha de babaçu nas merendas escolares da região e contou pra gente sua experiência amazônica
A convite do Instituto Socioambiental (ISA), minha amiga, grande culinarista e nutricionista Neide Rigo e eu fomos ao Pará incentivar o uso da farinha de babaçu na merenda escolar. A farinha de babaçu, nome que preferimos adotar ao invés do original mesocarpo de babaçu, para não causar tanta resistência, é abundante no estado do Pará, porém não muito utilizada na culinária do dia a dia nas casas de família, escolas, hospitais. A ideia da viagem era incentivar a compra pela prefeitura de Altamira e Vitória do Xingu, da farinha de babaçu proveniente da Reserva Extrativista do Rio Iriri para escolas e hospitais da região.
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A compra da farinha é um passo muito importante para a economia local e para a permanência dos povos que vivem da floresta, na floresta. Porém, outro passo importante para fomentar essa cadeia de benefícios sociais, ambientes e nutricionais que a farinha de babaçu oferece é entender o seu potencial culinário. As escolas que recebem a farinha de babaçu precisam saber como prepara-la, caso contrario ela ficará estocada. Foi para isso que eu e Neide fomos até Altamira: ensinar as merendeiras das escolas de Altamira e Vitória do Xingu varias receitas com a farinha de babaçu, simples assim, mas a viagem se transformou numa aventura de conhecimento e experiências sem precedentes.
Aterrissamos, eu e meu marido JP, em Altamira às 14h do dia 5 de dezembro, e fomos direto para o restaurante Cozinha do Sol, da Denise, que nos recebeu com um delicioso vatapá de jaca! Lá já estavam a Neide, a equipe do ISA, a nutricionista Danielle, das escolas do município de Vitória do Xingu, a extrativista e empreendedora Raimunda, da Reserva Extrativista do Rio Iriri (Resex), que produz a farinha de babaçu, e a Denise, dona do restaurante e cozinheira de mão cheia. Comemos e discutimos as receitas que faríamos nas oficinas para as merendeiras com os insumos disponíveis na escola. Decidi que iria fazer uma torta mole de sardinha e um biscoito amanteigado; Neide optou pelo vatapá e um bolo, tudo a base de farinha de babaçu.
À noite nos reunimos mais uma vez, agora na casa do Marcelo Salazar, do ISA, para conhecer melhor a turma, tomar um vinho ou licor de cacau e comer um inesquecível chutney de manga verde que a Neide preparou (eu só descasquei e ralei as mangas verdes, dá-lhe braço), com ceviche de tucunaré, farinha pubada, brotos de girassol e um molho de tomate especial do próprio dono da casa.
No dia seguinte, pela manhã, já estávamos a postos num centro de convenções da cidade para falar com as merendeiras, prefeitos e vice-prefeitos, secretários de saúde, assistência social, consumidores e cidadãos sobre a importância da inclusão da farinha de babaçu na merenda escolar. Essa é uma escolha que influencia toda uma cadeia. A farinha de babaçu é um produto limpo, livre de agrotóxicos, colhido e produzido por trabalhadores rurais, rica em ferro para nutrir as crianças, super versátil na cozinha, com um grande rendimento e naturalmente com um bom tempo de prateleira, ou seja não estraga facilmente. Comprar essa farinha é saber que estamos respeitando a terra, valorizando a vida de cada coletor e produtor da farinha, e optando por um alimento nutritivo e saudável. É muito vantajoso e inteligente inserir a farinha de babaçu na merenda escolar.
Quando chegamos, sabíamos que a prefeitura de Altamira estava um pouco mais resistente ao consumo da farinha de babaçu nas escolas da cidade, enquanto a prefeitura de Vitória do Xingu se mostrou completamente interessada e aberta ao uso da farinha e à oficina que Neide e eu iríamos dar logo mais. Assim que terminou o evento, percebemos uma mudança de posição da prefeitura de Altamira em relação à farinha. Foi um dia vitorioso para as crianças de Altamira, para a floresta e para os Ribeirinhos que produzem a farinha de babaçu.
Em seguida, fomos almoçar num restaurante que também estava abraçando o projeto e colocando o produto no cardápio. Fiz o meu prato de vegetais, farinha e feijão e sentei à mesa. Neide sentou em seguida na minha frente e não aguentei quando olhei para o seu prato. Ela tinha colocado uma fatia de melancia com uma concha de feijão em cima. Muito surpresa, peguei meu celular e fiz um vídeo na hora perguntando a ela de onde havia tirado essa combinação. Ela disse ter aprendido a comer assim na Bahia. Eu, baiana, nunca tinha visto! Experimentei e simplesmente amei! Postei nas redes sociais e quem disse que era novidade? Claro, muitos criticaram a inusitada mistura, mas muitos falaram que comiam melancia com feijão na infância, na casa da vó, que haviam aprendido com os pais etc. Foi uma bela surpresa.
A tarde fomos ao restaurante popular de Altamira dar nossa oficina e ensinar as receita com farinha de babaçu. Foi lindo chegar e ver mulheres tão contentes e abertas em aprender mais sobre um alimento, seus impactos sociais, ambientais e nutricionais.
No dia seguinte, fomos a Vitória do Xingu e, no meio do caminho, no quilômetro 17 da Transamazônica, paramos numa escola indígena muito bonita, com uma turma de crianças super felizes para tomar um café da manhã com direito a bebidas indígenas fermentadas e bolo de farinha de babaçu. Seguimos de carro para pegar a balsa para visitarmos uma escola na beira do rio Xingu, também muito bonita e agradável.
Na balsa, fomos recebidos por duas duplas de jovens dançando carimbó, todos vestidos a caráter. Como uma boa baiana, não aguento ficar parada com um ritmo gostoso de tambor. Pedi para me ensinarem o passo básico de carimbó e entrei na roda. Dancei deliciosamente aquelas músicas gostosas e sentei para descansar e apreciar o rio Xingu.
Chegando na escola, desembarcamos com o pé na areia. Ai que delícia poder estudar com essa conexão total com a natureza. Os alunos no barco escolar, que sai de manhãzinha apanhando as crianças ribeirinhas de porta em porta, chegaram logo em seguida. Essa imagem me fez pensar que, com vontade, o Brasil pode dar muito certo.
O almoço foi servido e me esbaldei no peixe com açaí e farinha. Muitos olharam pro meu prato com um ar de espanto. Perguntei se eles não costumavam comer peixe com açaí e a resposta foi de bate-pronto: “Não! Aqui na região (Xingu) a gente gosta de açaí com açúcar (muito açúcar por sinal) e um pouco de farinha ou tapioca”. E realmente era assim que muitos estavam degustando o açaí na sobremesa, com açúcar e tapioca.
Porém, para revolucionar de vez, a Neide chegou à mesa com uma fatia de melancia e uma boa colherada daquele açaí puríssimo e mega cremoso. Claro que registrei o prato e postei nas redes sociais só pra descobrir através dos comentários que melancia com açaí é tipo manga com leite na crença Paraense. Muitos diziam que a Neide iria passar mal, que não se misturava açaí com fruta, muito menos com melancia, que essa não era uma boa ideia. Meu colega de canal e grande chef de Belém, Thiago Castanho comentou: “hahahaha, @neiderigo vai passar mal”. Mesmo bem informada, Neide comeu sua melancia e, para a surpresa de muitos, não passou nada mal. Essas misturas de melancia com feijão e açaí dão uma bossa no prato que é uma beleza. Vale experimentar, ou inventar!
Quando chegamos em Vitória do Xingu, a Danielle nos disse que, assim que assumiu o cargo de nutricionista da rede municipal, a primeira coisa que fez foi retirar os bolos prontos de pacotinho, achocolatados de caixinha, salgadinhos e começou a controlar a quantidade de óleo, sal e açúcar usados nas escolas. A resistência maior não era das crianças, mas muitas vezes das próprias merendeiras e dos pais. Portanto, eu e a Neide também quisemos explicar os motivos pelos quais essas trocas eram mais benéficas para todo mundo.
A merenda escolar é um lanche que as crianças consomem de uma a duas vezes por dia, cinco vezes por semana. Para muitas delas, é a única refeição segura que há.
Merenda não é besteira, é hábito alimentar. As crianças estão construindo hábitos, dia após dia. É muito mais fácil que cresçam fortes, inteligentes e com uma boa educação alimentar se oferecermos opções gostosas e saudáveis. Comer farinha de babaçu na merenda escolar ajuda as crianças a formarem raízes, reconhecerem suas tradições e ganharem um senso de pertencimento àquela sociedade. Uma criança que cresce comendo farinha de babaçu vai lembrar da infância com uma emoção afetiva relacionada a sua terra, um produto da floresta, de onde muitos de seus ascendentes vieram. Farinha de babaçu na merenda é cultura.
Depois do almoço delicioso na escola, à beira do rio, voltamos a Vitória do Xingu para realizar outra oficina com as merendeiras. Todas ficaram muito interessadas em saber mais sobre a farinha de babaçu, muitas delas cresceram comendo mingau de babaçu e simplesmente largaram de mão por falta de incentivo, ou simplesmente porque outros produtos mais gostosos e baratos foram surgindo.
O óleo de babaçu foi substituído pelo óleo de soja; o mingau de farinha de babaçu deu lugar aos bolos prontos e aos achocolatados; e os deliciosos biscoitos caseiros foram trocados por biscoitos industrializados, ultraprocessados. Muitas vezes não damos o valor necessário àquilo que, para nós, é muito natural e abundante.
A farinha de babaçu perdeu espaço na mesa das famílias porque alimentos midiáticos chegaram com força e se tornaram sinônimo de status, nutrição e felicidade. Mas quando Neide e eu contamos dos benefícios nutricionais e da versatilidade culinária da farinha de babaçu, as merendeiras começam a mudar seus olhares sobre a farinha.
O mesocarpo de babaçu é constituído de 70% amido e 30% fibra, muito ferro e com mil e uma utilidades na cozinha. Por ser rico em amido, ele substitui muito bem o polvilho, a fécula de mandioca, o amido de milho ou de batata e a araruta. O mesocarpo engrossa bem caldos, molhos, serve de base para pães, bolos, massa de tortas, pães de queijo, biscoitos, bolachas, panquecas, mingaus e muito mais. Também mencionei que, enquanto eu estava lá no Xingu, minha sogra estava em casa fazendo o mingau de farinha de babaçu com leite de coco para o Nino tomar sempre antes de dormir e ao acordar. Ensinei o mingau, antes de viajar, para Dona Clarisse e ela ficou encantada com a cor, o sabor e a facilidade de prepará-lo.
Eu viajei com o leite do Nino no peito, mas o babaçu ficou para nutri-lo enquanto eu estava longe. Aos poucos, todas as merendeiras foram compreendendo o valor social, ambiental, cultural e nutricional que a farinha de babaçu tem.
A segunda parte da viagem foi mais aventureira, porém, muito gostosa. Saímos de Altamira de carro pela Transamazônica e, passando pelo município de Medicilândia, paramos na fábrica da Cacauway, que produz chocolate com o cacau agroflorestal da região.
Para minha surpresa, a produtividade de cacau no Pará passou a produtividade na Bahia. Achava que meu estado ainda liderava esse ranking, mas, por causa de uma estiagem no ano passado, o Pará tomou a dianteira. Quem foi responsável pelo avanço de produtividade do cacau no Pará foi Medicilândia. Depois de comer dois (na verdade uns cinco) deliciosos biscoitos de cacau com farinha de babaçu e uns oito pães de queijo, feitos também com farinha de babaçu, fomos andar e conhecer melhor a fábrica.
Ali, em Medicilância, me deparei com o primeiro pé de gergelim que vi ao vivo na vida. A Neide me apontou e disse: "Olha! É gergelim, já tinha visto?" Peguei um raminho verde e abri para observar o gergelim. A Neide tirou um raminho bem seco do pé e me mostrou dizendo que, quando o gergelim seca, os ramos começam a se abrir para as sementes caírem e darem vida a um novo pé (ou pra gente comer feito gersal, tahine, ou tostado e salpicado no pão, na salada ou nos vegetais).
É dessa abertura natural e espontânea da planta do gergelim que surgiu a expressão “Abra-te Sésamo”. Em português de Portugal, gergelim é chamado de semente de sésamo — em inglês, idem: sesame seeds. Ganhei meu dia com essa informação!
Voltamos para o carro para mais quatro horas de estrada. Paramos em Uruará para comer num restaurante de comida por quilo. O meu prato se fez com quiabo, abóbora, feijão, cenoura, vagem, farofa e batata doce. Foi uma bela refeição e uma grata surpresa saber que havia muitos fãs do programa Bela Cozinha em Uruará. Levei uns bons minutos para conseguir atravessar o salão do restaurante por causa de pessoas muito queridas querendo tirar foto comigo. Que incrível foi viver isso em Uruará.
Depois de ter chagado na beira do Rio Iriri, pegamos mais uma hora de barco até a comunidade da Resex do Rio Iriri. Fomos recebidos com muita alegria pela Dona Chagas e Seu Agnaldo, pais da Raimunda (que estava no almoço do dia da chegada), seus irmãos Marlon, Juliana e Sebastiana e muitas e alegres crianças.
Não esperamos muito para tomar um banho de rio antes que o sol se escondesse. Aquele mergulho no rio foi um alento para o corpo e mente depois de sete horas de viagem. Não é fácil descrever a sensação de um banho de rio na Amazônia, mas me vem um sentimento de pertencimento ao planeta Terra, como parte intrínseca da natureza. Ao nosso lado, a uns 15 metros, enxergamos um jacaré nadando tranquilo, porém com um olhar super atento. Bom, o que esperar de um rio amazônico?
Com a alma lavada, jantamos e preparamos nosso dormitório com redes e mosquiteiros para uma bela noite de sono. Assim que dormi, começou um coro altíssimo de sapos cantantes. Cada vez mais alto e surgindo de lugares distintos. Pensei, será que eles cantam chamando ou avisando sobre a chegada da chuva? Logo depois começou a cair um grande temporal. Muita chuva e relâmpagos eram o cenário daquela noite. Acordamos às 7 da manhã com um café da manha dos sonhos. Tapioca com castanha fresca ralada (fresquinha mesmo, crua, direto do pé) preparada no fogão à lenha.
Em seguida, saímos floresta a dentro a procura dos babaçuais e castanheiras. Marlon, Dona Chagas, Seu Agnaldo e Juliana lideraram a caminhada; eu, JP, Neide, Marcelo, Isadora, Denise, Lilo, Leo e Vitor íamos seguindo logo atrás. Estar andando dentro da floresta amazônica é uma sensação maravilhosa e mais maravilhoso ainda é saber que a matéria prima de muitos produtos farmacêuticos, cosméticos, culinários e materiais podem ser extraídos dessa terra generosa na qual estava de pé e podem vir da sabedoria tradicional e ancestral dos povos da floresta. A questão é que é muito comum o ser humano não medir as consequências de suas atitudes e retirar mais da terra do que ela pode oferecer.
Na estrada, a caminho do Rio Iriri, passamos por muitas áreas desmatadas, queimadas (só com algumas palmeiras sobreviventes), cenas fortes de partir o coração. Muitas dessas terras são pertencentes a grandes especuladores fundiários e grileiros. É incrível ver também como a criação de gado avança na Amazônia profunda. Passamos por muitas fazendas de gado, com um perfil territorial devastado, sem nenhuma árvore sequer. É importante saber que podemos criar gado de modo sustentável e agroecológico. Será que alguns pecuaristas já ouviram falar de agrofloresta?
Também não pude deixar de notar as dezenas de caminhões (sem placas) que vimos transportando madeira ilegal. Até 2016, na terra Indígena Cachoeira Seca do Iriri, foram 1359 km de ramais madeireiros abertos para cortes seletivos de árvores e mais de 47.000 hectares desmatados de floresta para criar pastos.
Fica muito difícil fiscalizar quando os grandes poderosos de Brasília fazem vista grossa. Mas voltando aos protetores da floresta, como a família da Dona Chagas, é necessário ressaltar a importância do trabalho deles de coletar os produtos da floresta (castanhas, babaçu, cacau, borracha, ervas, açaí...) que ajudam a mantê-la de pé. Quando compramos produtos provenientes de famílias que praticam o extrativismo sustentável, ou melhor, famílias coletoras, como meu amigo Marcelo Salazar definiu, estamos fortalecendo a todos economicamente e socialmente. Com isso, ajudamos a se manterem na floresta e da floresta, consequentemente mantendo ela de pé. Não fossem as castanheiras e babaçuais da região, essa parte da floresta já poderia estar no chão. Por isso enfatizo a importância de saber a procedência dos nossos alimentos, conhecer de onde vem, quem produz e como é feito. Assim podemos fazer escolhas melhores para a nossa saúde, a saúde do povo e a saúde da floresta. E podemos também evitar ou deixar de consumir aqueles produtos que sabemos que prejudicam a saúde, a terra e os produtores.
Quando avistamos o primeiro pé de babaçu, Dona Chagas pegou um do chão (o mais novinho, recém caído) para nos mostrar como se dá a retirada do mesocarpo de babaçu, que dá origem à farinha de babaçu. Na volta, achamos as castanheiras que, por causa da chuva forte na noite anterior, estavam com seus ouriços bem pesados e caindo no chão a muitos metros de altura. Não queira nem de brincadeira ficar debaixo da copa de uma castanheira com castanhas se lançando lá de cima. Se um ouriço de castanha atingir a sua cabeça, são poucas as chances de sobrevivência. Marlon recolheu algumas castanhas que estavam próximas da gente e voltamos para ver o funcionamento da miniusina instalada na comunidade para a produção de farinha e óleo de babaçu e castanha do pará.
É lindo ver a variedade, versatilidade e produtividade de um único alimento colhido na floresta. Da entrecasca do coco babaçu, faz-se a farinha de babaçu; do coco babaçu, faz-se o óleo de babaçu; o bagaço do óleo vira matéria prima para a indústria dos cosméticos; e a casca do coco babaçu vira lenha.
Quando a castanha chega na miniusina, ela é lavada, depois cozida no vapor à pressão por 10 minutos para facilitar a retirada da casca. Depois que retiram a casca a marteladas, elas vão secar e, em seguida, são embaladas — e, as que quebraram, viram óleo e o seu bagaço se torna a farinha de castanha do pará que é simplesmente deliciosa.
Depois que vimos todo esse processo, Dona Chagas fez questão de nos mostrar como se quebra o coco babaçu para a retirada do mesocarpo, e da semente. Ela coloca um machado no chão e com maestria vai batendo o coco com um pedaço de pau apoiado do machado para quebrar. Quando ela quebrou o babaçu, ficou feliz em ver um bicho branquinho, tipo uma larva bem gordona, de uns 3 a 5cm. Me disse que aquilo se chamava gongo e era uma iguaria fritinho, mas que cru e vivo também era gostoso. Não tive como deixar de experimentar. Hesitei, mas coloquei o gongo na boca e tenho que confessar que era muito bom. Parecia um coco recheado de leite de coco. Quando ele explodiu na minha boca, senti o sabor de um leitinho de coco fresquinho que quem ainda toma leite de coco de caixinha nunca sentiu o sabor.
Nossa vivencia e experiência na Reserva Extrativista do Rio Iriri (Resex) estava chegando ao fim e partimos de volta para Altamira. No dia seguinte, era o dia da nossa partida, mas, antes, quis passar no mercado municipal de Altamira para comprar umas comidinhas pra levar pra casa. Estava em fase de teste de receitas do Bela Cozinha e comprei feijão manteiguinha para preparar um hambúrguer no programa, comprei mangostão, uma fruta que conquista o coração de todos que a experimentam e peguei um pouco de jamelão para comer na hora, só porque a última vez que comi foi em Pernambuco há exatamente um ano e tava com saudade.
Peguei o avião em Altamira com uma sensação tão boa, de tanto aprendizado, troca de experiências, conhecimento, crescimento espiritual e intelectual e gratidão profunda por ter vivido aqueles dias. O Marcelo e o Leo, que trabalham no ISA, e quem nos convidou para essa jornada, nos disse que as oficinas foram um sucesso e as vendas da farinha de babaçu da Resex do Rio Iriri estavam decolando. Saúde na mesa das crianças, dinheiro justo no bolso do produtor e a floresta em pé é o que a farinha de babaçu da Resex oferece. Ou seja, a comida vai sempre além do nosso prato — e a prática da agroecologia é a resistência da comida de verdade, de uma terra sadia e por gente do bem.
Parabenizo o ISA pela iniciativa, as prefeituras de Altamira e Vitória do Xingu por acreditarem na economia local, a Danielle, nutricionista do município de Vitoria do Xingu por lutar pela saúde nutricional das crianças, a Neide Rigo, por sempre transformar a natureza em algo comestível e delicioso, as merendeiras, que ficaram atentas e interessadas em incluir a farinha de babaçu nos preparos das merendas, e ao meu marido JP, por estar sempre ao meu lado buscando o bem junto comigo.
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