play

Hoje eu quero voltar sozinho

por Natacha Cortêz

No primeiro longa de Daniel Ribeiro, um adolescente cego vive duas jornadas: a busca da independência e a descoberta do amor


Quando o cineasta Daniel Ribeiro, 31 anos, começava o roteiro de seu primeiro longa-metragem, Hoje eu quero voltar sozinho, a intenção era falar de um garoto e suas primeiras descobertas em relação à sexualidade. Outra ideia era continuar a história que tinha começado a contar em 2010, com o curta Eu não quero voltar sozinho. Interpretado pelo jovem Ghilherme Lobo, Leonardo, um adolescente cego, estudante de uma escola de classe média paulistana, parecia o personagem perfeito para mostrar que desejo e amor não têm cara, corpo ou gênero, mas vontade, ou apenas coração. Daniel conta melhor: “Queria falar de um garoto que nunca tinha visto um homem ou uma mulher, e que ele se apaixonasse por um cara. Quando a gente tira a importância da visão, outras sensações e sentimentos ganham força”.

No filme, Leonardo experimenta duas jornadas. A de ser sozinho por opção, e pela primeira vez conhecer o mundo sem um braço para guiá-lo; e a de se apaixonar pelo seu novo colega de classe, Gabriel (Fabio Audi). E a delicadeza do trabalho de Daniel - responsável não só pelo roteiro, mas pela direção e produção do longa - está justamente na segunda. Apesar do enredo trazer personagens homossexuais que estão se descobrindo como tais, em nenhum momento a questão é tratada como um conflito. “O problema de Leonardo é se o amor de Gabriel é recíproco. Sendo gay ou não, cego ou não, amor é um sentimento comum pra todo mundo”, diz o diretor. 
 

“Já existem filmes incríveis e importantíssimos que trataram das dificuldades de ser gay em uma sociedade como a nossa. Sinto falta de personagens homossexuais, mas com outros conflitos. Com os conflitos de todo mundo” 

O longa-metragem esteve na última edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim. Integrava a mostra Panorama e, mesmo não na mostra competitiva, conquistou dois importantes prêmios: foi eleito o melhor longa da seção pela Fipresci (The International Federation of Film Critics) e também o melhor com personagens/temática gay, ganhando o Teddy Bear. Gus Van Sant e Pedro Almodóvar já receberam a honraria.
 

Me representa

Paulistano, Daniel Ribeiro é formado no curso de Audiovisual pela ECA-USP. Além do cinema, já causou barulho por outras causas. Em 2011, foi um dos criadores do "Projeto #EuSouGay", no qual dirigiu e montou um vídeo-resposta a atos homofóbicos ocorridos no início daquele ano.

Hoje eu Quero Voltar Sozinho é seu terceiro filme com protagonistas gays – os curtas Café com Leite, de 2007, e Eu não Quero Voltar Sozinho, de 2010, são os outros dois. Sobre a importância de trazer personagens gays às telas, ele comenta: “Acho que a homossexualidade ainda é um tema tabu, e que precisa ser mais explorado. Os preconceitos ainda são muito presentes.” Outra preocupação do diretor é não desenvolver seus roteiros em cima de questões que problematizem a sexualidade e a mantenham como assunto primordial. “Já existem filmes incríveis e importantíssimos que trataram das dificuldades de ser gay em uma sociedade como a nossa. O que eu quero fazer é diferente. Sinto falta de personagens homossexuais, mas com outros conflitos. Como os conflitos de todo mundo”, completa.

Vai lá: Hoje eu quero voltar sozinho, 10 de abril nos cinemas // www.facebook.com/hojeeuquerovoltarsozinho

fechar