Hard: o mergulho de Natália Lage no mundo do pornô

por Nathalia Zaccaro

Nova aposta da HBO, a série reflete sobre a indústria do sexo, feminismo e preconceitos

O distanciamento social teve como consequência direta uma forte queda no volume de encontros românticos e sexuais entre os solteiros. A "carentena" também foi responsável por um boom no número de acessos a sites e plataformas de filme pornôs. Em tempos de isolamento, a indústria do cinema sexual está em alta. E é nesse contexto que a HBO Brasil lança no domingo (17) a série "Hard", protagonizada pela atriz Natália Lage. Ela interpreta Sofia, uma paulistana rica cheia de preconceitos que fica viúva e herda uma produtora de filmes pornô da qual ela nem sabia da existência.

O roteiro discute os estereótipos que rondam os profissionais dessa indústria, o impacto de uma liderança feminina em produções pornô e a natureza do prazer feminino. "A proposta é apresentar esse universo, que ainda é marginalizado, de uma maneira digna, sem caricaturas", diz Natália. "Somos muito ignorantes sobre como o desejo é particular. Existem pessoas que sentem tesão em ser o cachorro de alguém, com uma focinheira. Outras tem tesão em se fazer de mesa e aí alguém vai lá e bota o pé em cima. Temos que entender que a gente não domina o desejo do outro, não podemos colocar juízo de valor".

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Trocamos uma ideia com a atriz sobre seu mergulho no mundo dos pornôs, se liga:

Tpm. Quais questões do feminino estão na série? 

Natália Lage. A Sofia é uma mulher conservadora, de classe média alta, mãe de 2 adolescentes e com um marido empresário que ela acha que trabalha com tecnologia, mas não sabe direito. Ela cai em um universo que repudia – o pornô – e precisa conviver com tudo aquilo. Ela tem diversos preconceitos, mas, ao longo da trajetória, vai se reinventando e entendendo seu lado potente e afirmativo, profissional e sexual. É muito legal mostrar essa possibilidade da mulher de se redescobrir. 

Como esse personagem chegou até você? Eu fiz teste para a personagem e passei. Fiquei feliz porque é um projeto que toca em questões importantes. A personagem passa por um drama e tem que se reinventar. Ela reflete questões do feminino e de preconceito que são contundentes nesse momento. Tivemos muitas conversas para entender o tom da série. A gente não queria que fosse um humor rasgado, mas sim uma comédia com tom realista. A proposta é apresentar esse universo, que ainda é marginalizado, de uma maneira digna, sem caricaturas.

Você curte pornô? Não sou uma consumidora assídua, mas já tinha tido contato com o universo. Mas fiz uma pesquisa grande, vi muitos documentários e conversei com muitos atores profissionais de pornô. Foi importante para eu perceber as minhas barreiras e dificuldades e aí reconhecer isso também na personagem. Daí consegui quebrar isso e entender as pessoas para além dos estereótipos que a gente cria. As pessoas têm muito preconceito com o que não conhecem e muita dificuldade de assumir isso. Até a página dois todo mundo aceita todo mundo, mas perto de mim não… Quebrar essas barreiras e olhar pro outro com todas as possibilidades que ele tem de ser o que quiser é um exercício importante de empatia, especialmente no momento atual, cheio de perseguição com tudo aquilo que sai do que as pessoas consideram ''normal''.

Como você acha que a pandemia vai impactar na recepção da série? A gente filmou antes até das eleições presidenciais. E agora estamos lançando num momento como esse. A gente nunca ia imaginar. As pessoas estão mais em casa e estão consumindo mais pornô. Isso pode criar um interesse pela série. Eu gostaria de chegar em quem tem dificuldade com pornô, porque a discussão é sobre como você olha o outro, especialmente quando você tem preconceitos. Se as pessoas que não consomem pornô se abrissem para ver a série, eu ficaria muito feliz.

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Nesse mergulho no universo pornô, o que você descobriu de interessante? Tem a diretora Erika Lust, que era socióloga e faz um trabalho interessante de filmar as fantasias das pessoas com uma visão do prazer da mulher. É uma figura que se destaca. Tive acesso também a tipos de fetiche que me chamaram muita atenção. Somos muito ignorantes sobre como o desejo é particular. Existem pessoas que sentem tesão em ser o cachorro de alguém, com uma focinheira. Outras tem tesão em se fazer de mesa e aí alguém vai lá e bota o pé em cima da mesa, come em cima da mesa, mas não transa. Temos que entender que a gente não domina o desejo do outro, não podemos colocar juízo de valor. 

A Sofia, sua personagem, leva esse olhar mais feminista para a produção do pornô? Sim, ainda que ela não seja uma feminista de carteira, nunca leu Simone de Beauvoir. Mas ela tenta adequar aquele universo aos gostos dela.

Créditos

Imagem principal: Divulgação

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