Gabriela Prioli: nem esquerda, nem direita. Ela quer diálogo

por Fernanda Nascimento

A nova estrela da CNN Brasil dispensa todos os rótulos. Com mais de 1,5 milhão de seguidores, a advogada fala sobre fama, preconceito, relacionamento e garante que as análises políticas não a definem

"Eu sempre fui muito tagarela. Comecei a falar cedo e nunca mais parei. Às vezes, minha mãe diz: 'Respira, Gabriela, para de falar'". Mas Gabriela Prioli não para. E quando ela fala, é difícil não prestar atenção. Na bancada do quadro "O Grande Debate", da CNN Brasil, seu posicionamento firme e os argumentos contundentes sobre temas polêmicos transcenderam a televisão e se espalharam pela internet. Os vídeos de suas participações viralizaram e se transformaram até em lista das "jantadas" de Gabriela nos colegas de programa. De nada adiantou que seus oponentes nos debates, Caio Coppolla e Tomé Abduch, e o mediador das discussões, o jornalista Reinaldo Gottino, sistematicamente interrompessem e atropelassem suas falas. Pelo contrário. Foi aí que sua voz ficou irrefreável.

Apenas duas semanas depois da estreia na televisão – ela já havia feito participações como comentarista na TV Record e fazia vídeos em seu Instagram e no YouTube –, Gabriela anunciou, pelo Twitter, sua saída do programa alegando ter sido constrangida e não ter tido seu espaço de fala respeitado. Mas a crescente popularidade fez com que seus colegas se desculpassem e a CNN Brasil tratou de providenciar um programa à altura da estrela que lançou (ainda sem previsão de estreia). "Me posicionei porque achei que era como deveria me comportar para ser coerente com tudo o que eu prego", explica. Aos 34 anos, a advogada não tem medo de se colocar, mas também não quer saber de rótulos. "Acho complicado definir se eu sou de direita, de esquerda, de centro-direita, centro-esquerda ou centro. Eu quero que as pessoas me escutem. Elas podem discordar de mim no final, mas quero que a gente permita o diálogo", diz.

Mestre em direito penal pela Universidade de São Paulo e professora na pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Gabriela dispensa o estereótipo colado em seu currículo. "Tem gente que acha que para você ser uma pessoa inteligente, dedicada, responsável e comprometida com o trabalho, só pode ser isso", diz. "O fato de eu ser uma mulher que tem interesse por creme, maquiagem ou tratamento para o cabelo não vai diminuir minha capacidade intelectual". Casada com o DJ Thiago Mansur, do duo JetLag, Gabriela já fotografou festival de música eletrônica no México, escreveu roteiro de videoclipe e fez as vezes de figurinista para o marido. Apesar das referências bibliográficas e do conhecimento teórico extenso, ela também lê notícias sobre desfiles de moda, ouve pagode dos anos 90 e perdeu algumas horas assistindo ao reality show das Kardashians. Nas redes sociais, onde coleciona mais de 1,5 milhão de seguidores, a advogada fala sobre assuntos sérios, e outros nem tanto. “Eu não vou fazer só análises políticas porque não sou só isso", diz. A seguir, batemos um papo com Gabriela sobre fama, preconceito, relacionamento e seu futuro na televisão.

Tpm. Nas últimas semanas, você ganhou uma projeção enorme depois de sua estreia no programa "O Grande Debate", na CNN Brasil. A que você atribui esse crescimento meteórico?
Gabriela Prioli. Muitas pessoas que já têm visibilidade compartilharam um trecho da minha participação na estreia do programa e isso foi importante para que mais gente visse. Mas o que eu acho – e aí é uma sensação – é que eu tento fazer a análise e me comportar, no debate ou nos meus vídeos, de uma maneira menos apaixonada. E isso agradou algumas pessoas porque estamos vivendo num mundo em que a notícia causa muita perturbação, muita ansiedade. E isso incomoda em algum grau. 

Quando você diz menos apaixonada, quer dizer menos radical? Menos radical, com certeza. O que eu tento fazer é uma análise racional. 

Você diz em seus comentários que valoriza a opinião dos “profissionais especializados”. É daí que vem a análise racional? Em determinados assuntos, que são técnicos, a gente precisa dos especialistas. Isso não quer dizer excluir do debate quem tem um conhecimento empírico, de vivência. Senão eu mesma não estaria falando sobre determinados temas. Mas a gente precisa da análise técnica, consultar a produção de quem se debruça sobre aquilo. Isso é uma análise racional. O que eu tento evitar é a análise afetiva do assunto. Tem um artigo do jornal The New York Times que mostrava que as pessoas reagiam bem ou mal a uma proposta relacionada à questão climática menos a depender da proposta em si, e mais a depender de quem ela tinha vindo, se dos Democratas ou dos Republicanos, no caso dos Estados Unidos. E é isso o que eu tento tirar um pouco. É analisar o assunto, trazer a opinião do especialista e tomar cuidado para não confundir o achismo com a análise de fato. 

Vivemos um momento de muitos achismos e de crescente radicalismo. Aonde isso vai parar? Vou ser mais otimista. Talvez a gente esteja enxergando mais o radicalismo porque a internet ampliou a voz desse discurso. Não só em termos de visibilidade, mas porque essas pessoas passam a se encontrar – embora estejam geograficamente distantes – e se fortalecem, se retroalimentam. Mas não acho que todo mundo tem um discurso radical. Isso pode até ser observado quando a gente percebe que o número de pessoas que me acompanha cresceu tanto. Porque eu não faço um discurso radical. Acho que existe uma parcela que não foi seduzida por esse discurso, pessoas que estão aprendendo a lidar com novas maneiras de consumir informação nas redes sociais. Nem todo mundo que acredita na informação que recebe no WhatsApp dolosamente propaga aquilo. É uma novidade, um processo.

Qual é a sua posição política? Você se considera de esquerda? Essa é uma pergunta que todo mundo me faz e acho que reflete um pouco o momento que a gente está vivendo. Nos debates do programa [O Grande Debate], a forma como ele é estruturado cria uma contraposição e os temas são colocados dependendo se vai haver discordância ou não. Eu acho complicado definir se eu sou de direita, de esquerda, centro-direita, centro-esquerda ou centro. Acho que estou bem longe dos extremos. O problema é que se você dá para as pessoas um rótulo, elas vão avaliar esse rótulo a partir da próprias lentes. Hoje em dia, no Brasil, em muitos casos as pessoas nem sabem exatamente o que significa esquerda ou direita. E por isso acho complicado. E acho complicado que essa pergunta seja feita com tanta insistência. Porque é plenamente possível saber qual é a minha posição a partir dos temas sobre os quais eu falo.  

Mas é uma pergunta que eu tenho que fazer. Você citou a matéria do The New York Times que diz que parte das pessoas deixa de dar valor à uma opinião de acordo com a posição de quem está falando. É sobre isso a escolha de não definir uma posição? Você vê por que existe valor em não ser colocada sob um rótulo? Eu quero que as pessoas me escutem. Elas podem discordar de mim no final, não tem problema. Mas quero que a gente permita o diálogo. Se a gente trouxer o debate para a racionalidade, o que me importa é discutir o assunto que está sendo posto. Claro que se você estiver falando de alguém que está dentro da política e tem que defender uma agenda, aí as pessoas precisam se definir. Mas eu estou ali discorrendo sobre um assunto, e não encampando uma agenda política. O debate é plenamente possível sem a questão afetiva e a questão da agenda, a quase militância. Ele pode ser sereno e racional.

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Você disse no Twitter que sabia que ia ser atacada na internet quando fosse para a televisão. Foi como esperava? Eu não tenho tanto contato assim com os ataques porque eu me protejo desde o começo. Em todas as minhas páginas, os comentários são moderados e me esforço muito pra não ter contato com o ódio gratuito. Porque quero preservar minha saúde mental. Mas aumentou e, de vez em quando, eu tropeço em alguma coisa. 

Você já se acostumou com o reconhecimento? É estranho receber mensagens falando: 'ah, a irmã do meu amigo te adora'. Isso é muito diferente do que eu estava acostumada, mas eu ainda estou dentro de casa o tempo todo. Nas minhas redes, sempre fui próxima de quem me acompanha, então já tem um pessoal que sabe da minha vida sem me conhecer pessoalmente. Claro que o aumento traz uma certa aflição, mas foi mais a surpresa de ter sido tão rápido. Eu lembro que, no dia da estreia na CNN, quando meus números de seguidores começaram a subir, subir, e não paravam de subir, em algum momento eu falei: 'o que está acontecendo?'. Nunca passou pela minha cabeça que a coisa fosse crescer dessa maneira.

Como é ser mulher ocupando este lugar de destaque? A gente é muito pressionada para se colocar nas caixinhas. E durante muito tempo isso foi menos visível. A gente sabe de muita gente que tinha quase que uma persona no trabalho e na vida pessoal fazia outras coisas, como se essas duas frentes – da existência pessoal e profissional – não pudessem coexistir. Quando a gente se limita, eu vejo a frustração como algo quase inevitável. É importante comunicar essa multiplicidade. Ontem, por acaso, me mandaram uma mensagem no Instagram dizendo: 'olha, eu te acompanho por causa da análise política, mas não quero saber de outros aspectos da sua vida'. E eu respondi, gentil, mas falando: 'os vídeos têm título'. Eu não vou fazer só análises políticas porque eu não sou só isso. Para começar a normalizar isso, é fundamental mostrar que sou uma pessoa múltipla, que tem diversos interesses. Se a gente não tiver a força de se colocar dessa maneira, vamos ter essa crença limitante: para você ser uma pessoa inteligente, esforçada, dedicada, responsável e comprometida com o trabalho intelectual, só pode ser isso. Não pode ter outros interesses que, segundo o preconceito, seriam contraditórios. 

Quais interesses seriam contraditórios? Várias coisas. Por exemplo, eu não chego na redação, e nem chegava no escritório de advocacia, sempre vestida como a advogada que está indo para o tribunal falando um português com sustentação oral. Você vai me encontrar de All Star, calça jeans e camiseta, fazendo piada e brincadeira até chegar na mesa para sentar e discutir um assunto sério. E tá tudo bem! O fato de eu ser uma mulher que tem interesse por creme, maquiagem, tratamento para o cabelo ou em como fazer um penteado para um bad hair day não vai diminuir minha capacidade intelectual. Meu marido é DJ e não tem problema nenhum eu estar na festa com ele ou ajudar a escrever um roteiro de videoclipe porque isso não inviabiliza que eu seja uma pessoa dedicada aos meus estudos. É esse tipo de comunicação. 

Você sofria com isso quando trabalhava como advogada? Quando comecei na advocacia – era mais jovem, obviamente – lembro das pessoas me dizerem para colocar uma roupa, uma maquiagem para parecer mais velha. Ou para não usar uma tiara, por exemplo, porque isso poderia fazer com que as pessoas não me levassem a sério. E eu pensava: qual é a relevância da tiara? Ela vai diminuir a oxigenação do meu cérebro? E falava: 'pô, vou usar. Estou fazendo meu trabalho com responsabilidade, deixa eu usar o que quiser na cabeça'. Claro que em alguns momentos você enfrenta situações em que precisa se impor, mas acho que vale a pena. Numa audiência, eu entrei na sala e o juiz falou: 'a senhora arrolou mais testemunhas do que deveria'. Arrolar é chamar testemunhas. Eu falei: 'doutor, acho que tem algum equívoco'. Ele olhou pra mim e falou: 'a senhora sabe contar?'. No fim das contas, ele estava errado porque estava contando como testemunhas os peritos e os assistentes, uma questão técnica. Mas eu era a pessoa mais jovem da sala de audiência e ele veio falar comigo nesse tom. A gente nunca sabe se ele usaria o mesmo tom se eu fosse mais velha ou não estivesse de tiara. Mas quando você começa a viver muitas situações parecidas, você fala: 'hum, deve ter algo aqui'.

Você sente saudades da vida de advogada? Saudade eu tenho de algumas coisas, mas já faz mais de 2 anos que estou afastada dos casos. Porque quando me propus a comentar os assuntos políticos, e isso inclui casos que pendem de análise no judiciário, eu resolvi me afastar para ter distanciamento e liberdade para falar de determinados assuntos. Hoje eu sou consultora de um escritório de advocacia.

Como surgiu o convite para participar do programa "O Grande Debate", na CNN Brasil? Eu já tinha feito algumas participações na televisão e fui convidada para ocupar o posto de comentarista na TV Record. Cheguei a gravar três pilotos, mas no fim não quis ir porque achei que não era muito a minha cara. Como já tinham visto os debates dos quais tinha participado, a CNN me chamou. Achei que era interessante e fui.

Como foi seu primeiro dia ao vivo na TV? Eu já tinha gravado alguns pilotos antes do programa ir ao ar, mas foi difícil. E segue sendo. O estúdio ainda não é um ambiente super confortável para mim, não é como se eu estivesse conversando com meu marido na mesa do café da manhã. Acho importante falar isso porque é encorajador para quem está começando a falar em público e fica nervoso. Eu também fico nervosa, todo dia. Quando comecei a gravar em casa para o Instagram, também ficava super nervosa. É uma exposição. Se você tem comprometimento com o que fala, quer se fazer clara e atingir as pessoas, isso gera uma pressão natural. 

No final de março, você anunciou sua saída do programa por não ter seu espaço de fala respeitado. Como ficou a relação com os colegas depois disso? Você se dá bem com os companheiros de redação? O que aconteceu no ar foi uma questão pontual. Eu me posicionei, mas não acho que a gente deva aniquilar as pessoas por uma coisa. Sobre os colegas, funciona como qualquer ambiente de trabalho. Com algumas pessoas a gente se dá melhor, outros não tanto. Mas é menos sobre discordar, e mais sobre outras questões pessoais, que às vezes a gente nem sabe muito bem o porquê. A convivência na redação já estava prejudicada porque, com essa coisa do coronavírus, a gente se encontrava o mínimo possível. A estreia já foi nessas circunstâncias.

Você chegou a ser procurada por outras emissoras quando anunciou sua saída do programa da CNN Brasil? Não deu tempo de ser procurada. Recebi muitas mensagens no meu telefone, mas não tive tempo de olhar tudo. Eu primeiro queria conversar com a CNN porque tinha me proposto a ouví-los.

A CNN anunciou que você vai ganhar um novo programa. Como vai ser? Ainda não sei, estamos começando a desenhar.

Você esperava que a emissora reagisse desta maneira? Eu não tinha a menor ideia que ia voltar. Me posicionei porque achei que era como deveria me comportar para ser coerente com tudo o que eu prego. Que é essa história da gente se colocar na vida. Mesmo que pudesse enfrentar consequências muito ruins. Porque, afinal, a possibilidade estava ali.

Quais consequências ruins? Poderia não ter entrado num acordo com eles, perder o espaço que me projetou, perder qualquer espaço. Depois que a coisa acontece e a gente olha para trás e o caminho que se apresentou não foi o pior, a gente fala: 'ah, tudo bem'. Mas na hora não sabia o que ia acontecer. O Thiago, meu marido, é músico, e o trabalho dele foi afetado completamente neste período de isolamento. É o mercado que mais vai demorar para voltar. Então imagina a gente tomar essa decisão relacionada ao meu trabalho num momento em que o trabalho dele está completamente parado. Foi um salto no escuro.

Foi uma decisão difícil? Não foi nada fácil. E acho que juntou com tudo. Com esse momento em que está todo mundo isolado, num mercado que não era o meu, depois de eu ter dedicado os últimos meses para este projeto, de ter investido nessa ideia tempo, capital, tudo. E no momento em que meu marido, que é meu parceiro de vida, está com o mercado dele completamente parado. E foi uma decisão nossa. Não tenho equipe, assessoria de imprensa, time de não sei o quê. Foi uma coisa de: tá, acho que é isso.

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Você fala muito sobre se posicionar. Onde você aprendeu a se comportar assim? Minha altivez é da minha mãe. Ela ficou viúva quando tinha 32 anos, dois anos menos do que eu tenho hoje. Eu tinha 6 anos e meu irmão, 4. Minha mãe é fonoaudióloga, sempre trabalhou e, desde que a gente nasceu, tem o consultório dela. Então, ela precisa trabalhar para ter alguma renda. E ela enfrentou, não sem sofrimento, mas de forma muito firme, a situação que se apresentou na vida dela. Depois que meu pai faleceu, ela ficou pouquíssimo tempo sem atender no consultório, por exemplo. O que ouvi a vida toda foi: você pode falar o que você quiser para quem quiser, só não pode desrespeitar ninguém. Você deve se colocar e exigir o respeito. Minha mãe sempre se posicionou de forma muito firme, ainda que isso pudesse ter alguma consequência. Acho que o exemplo dela muito forte. Ela sempre foi um grande conforto porque tinha um discurso de: pode ir porque você tem força para ir sozinha mas, se acontecer alguma coisa e você achar que vai esmorecer, eu estou aqui e te dou um empurrãozinho. A gente precisa se apropriar de quem a gente é para ter força ou autonomia, mas isso não significa que você vai prescindir de outras pessoas. Precisar de uma rede de apoio não significa não ser uma pessoa independente. 

Como é a sua rede de apoio? Tenho uma família incrível, um marido fantástico e amigos super parceiros. Sou uma pessoa muito sortuda. Mesmo o pessoal que eu digo que conheço das redes sociais, com quem não tenho uma relação fora da internet, é incrível. E acho que temos trocas muito verdadeiras e importantes. Recentemente, uma seguidora antiga pediu dicas para escrever sua carta de motivação para um mestrado internacional. Trocamos mensagens e ela veio me contar que foi aprovada. Não é só sobre o mestrado, mas ela estava em dúvida se tentava um projeto ousado, que ia deixá-la feliz. E eu já fui a pessoa que precisou ser encorajada. E tive gente lá atrás para falar 'vai, tenta'. Obviamente acho que contribuí de alguma maneira para o fortalecimento dela, mas ela contribuiu muitíssimo para o meu fortalecimento. Porque quando vejo que esse é o impacto do que eu faço, tenho mais vontade de fazer. 

Você costuma aparecer em fotos com a cantora Anitta e outras personalidades. De onde você tem tantos amigos famosos? Da vida! O Thiago é músico, faz show com um monte de gente e eu acabo convivendo com as pessoas e a gente vai ficando amigo. Eu sempre levei as coisas com muita naturalidade. O meu marido está lá fazendo show também. E ele vive comigo. Então, eu trato a Anitta ou a Rafa Kalimann como trato a amiga que estudou comigo na escola. Não tem muita diferença. Numa entrevista que dei me perguntaram como era minha relação com a Anitta. Respondi: é a mesma que a sua com suas amigas.

Ter amigos famosos ajudou a te projetar na sua estreia na televisão? Sim, mas eu não conhecia todos que compartilharam. Quando o Felipe Neto compartilhou meu vídeo, no dia da minha estreia, eu nunca tinha falado com ele. O Felipe Neto e mais outras tantas pessoas. Eu conheci muita gente. Fiz o maior escândalo quando a Tatá Werneck me mandou mensagem.

Essa amiga todo mundo queria ter. Ainda não somos amigas. Eu ainda estou fingindo costume, calma, mas quando eu encontrar com ela vou dar um jeito. Foi só uma troca de mensagem, mas já fiquei assim. 

Como surgiu a ideia de colocar a cara na internet? Eu gosto de comunicar faz muito tempo. No vestibular, prestei para Direito e Jornalismo, e decidi seguir com o Direito. Muitas pessoas que trabalhavam comigo no escritório falam: 'Eu sabia que você ia fazer esse movimento porque você sempre dizia que a gente tinha que falar para fora da nossa bolha'. No Direito eu sempre fiz questão de não fazer um discurso incompreensível, mas sim um discurso mais claro, mais acessível para as pessoas, numa tentativa de democratizar esse conhecimento. E aí eu fui criando coragem, aos poucos, falando um pouquinho nos Stories, depois no IGTV. E foi.

Você tem falado bastante em suas redes sociais. Eu sempre falei! Vocês que não viam as minhas redes. Eu sempre fui muito tagarela. Comecei a falar cedo e nunca mais parei. A minha mãe às vezes diz: 'respira, Gabriela, para de falar'. 

E você para? Não.

Você fechou uma parceria com a Play 9, empresa de conteúdo do Felipe Neto, para produzir seu canal no YouTube. Pretende investir na internet e depender menos da visibilidade da televisão? São coisas complementares. Já tinha um canal no YouTube que tem mais de 100 mil inscritos, embora sejam os vídeos feitos mais de qualquer jeito do Brasil. Eu comecei no Instagram e fiz a transição para o YouTube depois, mas continuei produzindo meus conteúdos independentes da CNN. A parceria é no sentido de melhorar, de profissionalizar o conteúdo. É dar seguimento.

Você recebeu apoio na decisão de se afastar do escritório que trabalhava como advogada e se lançar na internet? Todo mundo me incentivou. Também, acho que sou uma pessoa que tem algum talento para convencer os outros das minhas ideias. Talvez eu tenha uma habilidade persuasiva. Mas todo mundo me apoiou. Meu marido é um entusiasta de todos meus planos e sonhos, e eu dos dele. Eu falo que a gente tem uma parceria muito legal. Mas também minha mãe, meu irmão, meus amigos. 

Num post sobre seu marido, você disse que foi com ele que descobriu que um relacionamento pode (e deve) ser saudável. O que você aprendeu com as experiências anteriores e por que decidiu falar sobre elas? Depois de viver alguns relacionamentos não-saudáveis, insalubres, percebi o que me fazia ter alguma dificuldade de reconhecer que o relacionamento não era bom. Eu ouvia muitas frases genéricas: 'toda relação é difícil', 'viver junto é complicado'. Difícil é um termo muito vago. O que significa 'todo relacionamento é complicado'? Eu ouvia essas frases e pensava: será que é difícil assim? Será que é normal e eu estou hiper-reagindo a essas situações? Consegui sair disso conversando com pessoas próximas, mas o mais importante foi entender que eu buscava um modelo de relacionamento que não era bom. Eu confundia força com agressividade. E quando percebi, de forma mais complexa, a distinção daquilo, comecei a me relacionar com um homem extremamente doce, e que é o homem mais forte que eu já conheci. É importante falar sobre isso porque quem está nessa situação, entrou num relacionamento ruim, depois passou para outro, e fala: 'Nunca vou conseguir sair dessa lógica'. Eu também demorei, não foi de primeira. É importante mostrar os tropeços.

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É muito difícil ter uma DR com você? Acho que não. O difícil é que eu discuto tudo, o tempo todo. Coitado do meu marido. Ele só deve querer acabar. Acaba esse debate! Mas eu e o Thiago eu discutimos muito pouco. Mérito dele. Ele gosta de discutir, por exemplo, política. Ele propõe muita análise de tema, quer ouvir o que eu tenho para falar, traz coisas que leu, que ouviu por aí, mas a gente é tranquilo.

Você costumava acompanhar ele nos shows? Muito. Eu acompanhei muito quando a minha agenda deixava, já voei três estados em uma única noite. Os textos de abertura das turnês do JetLag – teve a turnê azul e a turnê vermelha – são criações minhas. Já escrevi roteiro de videoclipe, fiz figurino. Eu sou o que precisar. No EDC México, que é um dos principais festivais de música eletrônica do mundo, fui a fotógrafa. 

Você já gostava de música eletrônica antes de conhecê-lo? Eu não era muito de música eletrônica. Eu sou mais do pagode dos anos 90. Eu nunca tinha ido ao show do Thiago antes de conhecer ele na academia. Eu usei o 'oi, você é DJ?' porque meus amigos tinham me dado um toque.

E funcionou mesmo sem nem saber o que ele tocava? Eu falei para você, sou boa nisso... Fui lá e continuei: 'Ah, mas como funcionam seus horários? Toca onde? Que tipo de música é?'.

E depois você passou a gostar? Eu não vou saber dizer qual é a música específica porque não sei os nomes, mas o som eletrônico que eu gosto é ainda do mais pesado. Mas continuo ouvindo uns pagodes dos anos 90, aqui em casa. Outro dia, fiz uns Stories e aparecia o Thiago deitado na cama e a gente estava na live de uns sertanejos.

Você cita muitos autores e referências complexas. Mas você também consome amenidades? As coisas mais amenas eu deixo para ler em revistas, sites… Quando escolho livros, escolho os mais densos. Mas isso não significa que eu não consumo coisas mais leves. Gosto de ler sobre desfiles de moda e já assisti muita Kardashian. Eu tenho tentado colocar a literatura de volta na minha vida. Os últimos meses foram de muita leitura de trabalho, direcionada. Afinal, estamos lidando com uma realidade super nova. Outro dia, gravei um vídeo sobre a cloroquina e fui ler estudos internacionais. Não é a minha área, é complexo. Mas peguei um livro do Valter Hugo Mãe um pouco antes daquele domingo em que eu me posicionei sobre a saída do programa da CNN. No sábado à noite, abri Homens imprudentemente poéticos e no prefácio escrito pelo Laurentino Gomes tinha uma frase mais ou menos assim: de tanto ficar no escuro, ou temer o escuro, amigou-se do medo. Não foi como uma epifania, mas pensei: muito bom ter aberto esse livro hoje. 

O que você pensa sobre o momento que vivemos? O que vamos aprender com o coronavírus? É difícil dizer. É uma grande possibilidade para refletir sobre o que a gente quer construir a partir daqui. E como a gente vai construir. Acho que as mudanças se colocaram e geraram um choque que pode incitar uma reflexão para uma tomada de rumo. A gente pode pensar num mundo colaborativo pensando a partir da ciência, em como os cientistas estão trocando informações. Mas pode pensar também num mundo em que alguns países querem concentrar em si todos os equipamentos de proteção individual, deixando os outros vulneráveis. É difícil saber qual caminho vamos tomar, se vamos ter uma visão mais fraterna, mais individualista. Fazer uma previsão é futurologia. 

Créditos

Imagem principal: Iude Richele

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