Cozinhando com arte

por Guilherme Werneck
Tpm #85

Entre Panelas e Tigelas, a Aventura Continua te ajuda a cozinhar pelo caminho mais fácil

Um livro de receitas com cara de livro de arte. Entre Panelas e Tigelas, a Aventura Continua, de Helô Bacellar, te ajuda a cozinhar pelo caminho mais fácil e ainda decora sua cozinha

“Quando estou triste, eu faço um bolo e, quando estou feliz, eu faço vá­rios.” Poucas frases definem melhor Heloisa Bacellar do que essa, pinçada de seu primeiro livro de receitas, Cozinhando para Amigos. Advogada, Helô des­cobriu muito cedo que se realizava mesmo na cozinha. Sem deixar de lado o escritório, foi estudar em Paris, no Cordon Bleu (tradicional escola francesa de culinária), e, anos depois, de volta a São Paulo, em 1999, abriu com Ana Paula de Moraes Rizkallah a escola Atelier Gourmand.

Mas, para entender de verdade quem é essa Helô que escreve e cozinha com paixão, é preciso entrar em sua casa no Pacaembu, em São Paulo, e ver de perto de onde vem sua inspiração. Ao lado da cozinha dos sonhos está uma bi­blioteca gigantesca, que divide com o marido, historiador, Carlos Bacellar. Das estantes recheadas de livros – “leio muito, não só sobre culinária, mas literatura mesmo” – vêm as ideias que são testadas à exaustão na cozinha em busca da receita perfeita – e descomplicada.

Fazer com que o leitor consiga realizar bem as receitas, das mais simples às mais re­quintadas, é o principal mérito de Cozi­nhan­do para Amigos e, agora, de sua conti­nuação, Entre Panelas e Tigelas, a Aventura Con­tinua, recém-lançado pela editora DBA. A novidade é que, em vez de escolher me­nus completos para receber os amigos, He­­lô dividiu o livro em 16 temas diferentes.

A inspiração para os capítulos vêm de ingredientes, lembranças e viagens. “Ado­rei colocar a mandioca do lado de Paris. Co­mecei a escrever depois de ver umas ma­çãs lindas. Depois, num aniversário de criança, lembrei de como eram boas as festas de quando a gente era pequeno. Quan­do vi, tinha começado uns 16 assuntos que não tinham nada a ver um com o outro. Mas cheguei à conclusão de que a minha cabeça é uma coisa tão variada, que achei que aqui­lo era um retrato meu”, conta.

Além das receitas que dão supercerto, o livro traz textos deliciosos na abertura de cada capítulo e fotos de R­omulo Fialdini. E Helô está por trás de cada detalhe, do preparo da comida à procura dos objetos certos para compor as fotos. Um pequeno exemplo: “Sou apaixonada pelo Caetano Veloso, e ele teve a sensibilidade de, no Trem das Cores, falar da seda azul do papel que envolve a maçã, que é lindo. Tive o maior trabalho para achá-lo. Agora só tem papel branco, amarelo. Eu queria o azul, estava fazendo isso pro Caetano [risos]”.

Tpm. Quanto tempo levou para organizar as novas receitas? Algumas já estavam testadas para o
Cozinhando para Amigos e ficaram de fora?
Helô Bacellar. Algumas sim. Demorei uns dois anos e pouco para fazer esse livro. Faço muita pesquisa para achar coisas legais, aí vou experimentando, mudando, até chegar a uma receita ótima. Quando falo no livro que meu ma­rido e minhas filhas têm muita paciência, é verdade. Quando cismo com um bolo de fubá, faço 50 bolos. Eles chegam para jantar e só tem 50 bolos. Uma vez a Ana, minha filha mais nova, estava estudando pirâmide alimentar na escola e sua lição era dizer o que tinha jantado. Eu tinha testado umas 30 re­cei­tas, nada a ver com nada, e ela comeu um pouco de tudo. No dia se­guinte ela me disse que mentiu na escola. Falou que tinha jantado arroz, feijão, bife e ba­tatinha, porque se contasse o que ti­nha comido nin­guém ia acreditar.

Uma coisa legal no seu livro é que é fácil seguir as receitas, em alguns livros parece que o autor não quer que a receita fique perfeita, quer esconder um segredo, concorda? As pessoas acham que nunca acontece nada de errado com quem sabe cozi­nhar. Eu não gosto dessa postura de chef que parece inatingível, perfeito e nunca faz nada de errado. Isso não existe, tento mos­trar que são pessoas de carne e osso.

Muita gente conhece você dos livros, do Atelier Gourmand, mas não tem a oportunidade de provar a sua comida. Há alguma chance de isso mudar em breve? Tem sim. Ainda não posso dar detalhes, mas mais para a metade do ano as pessoas vão ter on­de provar a minha comida.

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