O alter ego masculino de eu lia, tu lias pede o divórcio do compositor. Pelo menos por hoje
O alter ego masculino de eu lia, tu lias pede o divórcio do compositor. Pelo menos por hoje
“Todo dia ela faz tudo sempre igual. Me sacode às seis horas da manhã. Me sorri um sorriso pontual. E me beija com a boca de hortelã.” Eu achei que era assim. Achamos todos, aliás. Não só no amor, mas no portão, na vida. Estou me sentindo traído por você, Chico. Estou me sentindo ludibriado por sua voz rouca e seus olhos verdes, vejam só! Um homem heterossexual ativo nessa posição é algo delicado. Eu quero meu Cotidiano igual aos seu! “Diz que está muito louca pra beijar. E me beija com a boca de paixão”?? Onde encontra isso? O cotidiano lá em casa tá mais com cara de “o de sempre”, num sentido bem monocórdio. Por aqui, as coisas não andam como você me vendeu. Minha mulher só reclama e eu nem lembro mais o gosto que o beijo dela tem. Se um dia ela me esperar no meu portão do prédio, é porque tá a fim do segurança. Ou... vai me colocar pra fora. Feijão? Ela diz que dá gases e que meus flatos atrapalham seu sono. Não porque fedem, mas porque são barulhentos. Vê se pode!! Chico: você mentiu pra mim. “O de sempre” por aqui é reclamação do chefe – ele me acha positivo demais. Mas, fique tranquilo, estou alimentando meu lado pessimista acompanhando de perto meu time que só perde e assistindo ao Jornal Nacional diariamente. “O de sempre”, por aqui, tem gosto de sanduíche meia-boca da padaria para otimizar o almoço. Olha, Chico... nem sei o que te dizer... Talvez “fico com o disco do Pixinguinha sim, o resto é seu!”.
Isso porque nem mencionei a ex-mulher. O preço da escola das crianças. O povo aplaudindo a guerra no Rio. O velhinho vestido de Papai Noel assando no farol. E o preço do ansiolítico.
Para seguir: @euliatulias
